O que é estratégia e qual a sua utilidade

Rodolfo Wadovski
Business Drops
Published in
5 min readJan 31, 2018

O propósito deste texto é tratar de forma sucinta alguns aspectos conceituais básicos da estratégia, especialmente o que é estratégia e qual a sua utilidade. Essa discussão é em grande parte baseada nas ideias de Andrews Christensen, Henry Mintzberg e Igor Ansoff, pensadores clássicos da estratégia empresarial. Vamos iniciar procurando compreender o que é estratégia.

Estratégia traz a ideia de uma conexão intencional entre estados passados, presentes e futuros. Desses três momentos, o futuro é incerto, mas isso não impede que se tente moldá-lo. Após chegar-se à difícil conclusão de qual é esse futuro desejado, pode-se argumentar que há, normalmente, mais de uma maneira de percorrer o caminho desde a situação atual até o estado final almejado. E qual a melhor maneira de selecionar o futuro mais favorável e a melhor forma de alcançá-lo?

Para tratar desse problema existe a estratégia, que nasceu da necessidade de empregar com sucesso forças militares contra um inimigo para, ao final, atingir objetivos políticos. Nesse contexto, a estratégia é vista como a escolha de uma situação futura coerente com as intenções da liderança política, onde também se escolhe o que fazer (objetivos militares a conquistar), como fazer (qual o tipo de operação militar) e com que recursos. Além desse tripé (o que, como e com que recursos) é também levado em consideração o risco da estratégia adotada.

Ampliando da esfera militar para o nível político, a estratégia também é utilizada para tentar influenciar o futuro de Estados. No caso dos Estados Unidos da América (EUA), sua estratégia está publicada em um documento chamado Estratégia Nacional de Segurança (National Security Strategy-NSS) que contem uma análise do contexto mundial presente e o estabelecimento de ações para o governo dos EUA (não só militares, mas também ações diplomáticas, “informacionais” e econômicas) que visam influenciar o futuro de acordo com os interesses norte-americanos. À semelhança dos EUA, o Brasil também possui uma Estratégia Nacional de Defesa-END que traça um panorama atual do contexto brasileiro e dá diretrizes para tentar moldar o futuro de acordo com seus interesses políticos.

Mas a estratégia não é apenas útil para militares e políticos. O mundo empresarial importou esse conceito e o relacionou a objetivos de longo prazo e ao estabelecimento de linhas de ação e alocação de recursos necessários para alcançar esses objetivos. Além disso, a estratégia de uma empresa está intimamente ligada ao seu negócio essencial (core business), oportunidades do mercado, competências e recursos da empresa, seu pessoal e seu compromisso ético com a sociedade. Também é fundamental pontuar que a estratégia depende fortemente dos valores da organização e de seus líderes, como fundadores, presidentes e proprietários. Disso pode resultar um padrão de decisão muito mais aderente a valores pessoais do que a decisões racionais.

Prosseguindo na tentativa de bem compreender o que é estratégia, pode-se afirmar que uma definição precisa e completa é, provavelmente, inviável. Há, segundo Mintzberg, cinco abordagens distintas para definir estratégia: como um plano (realizada com antecedência e conscientemente), como um estratagema (para iludir um concorrente), como um padrão (resultado de um comportamento, intencional ou não), como um posicionamento (casamento entre a organização e seu ambiente externo) e como perspectiva (visão de mundo, intuição coletiva de como o mundo funciona — difícil de mudar).

Estratégia: uma visão panorâmica (fonte: autor)

Qualquer que seja a definição preferida, uma estratégia envolve escolhas complexas em ambientes complexos e com alto grau de incerteza. Uma boa estratégia demanda um esforço intelectual grande para bem identificar o problema, o estado final desejado e as linhas de ação (caminhos) apropriadas.

Segundo Ansoff, pode-se afirmar que uma organização economizaria tempo e dinheiro se não se preocupasse com uma estratégia. Também manteria ilimitado seu campo de ação, além de não ter que assumir uma direção de atuação com excessiva antecedência. Entretanto, essas vantagens não superariam os problemas decorrentes de uma pesquisa ineficiente, aumento do risco de má decisões e falta de controle da alocação de recursos. Adicionalmente, Andrews Christensen aponta outras vantagens de se adotar uma estratégia empresarial: definição de objetivos que incluam critérios não-financeiros, planejamento de empreendimentos de longo prazo, possibilidade de influenciar o ambiente (não ser somente influenciado) e estabelecimento de objetivos visíveis que inspirem o esforço organizacional na mesma direção.

Líderes intuitivos, improvisações criativas e adaptações de última hora não são capazes de substituir uma estratégia bem elaborada. Na criação de sua estratégia, uma organização é obrigada a estudar a fundo seu contexto interno e externo, tanto nos aspectos favoráveis e desfavoráveis. Identificando oportunidades e ameaças, bem como forças e fraquezas, além de possíveis riscos e as respectivas ações para mitigar suas consequências. Após uma análise completa de todas essas variáveis uma empresa pode traçar seu rumo em uma direção coerente com suas competências e com o ambiente do mercado em que selecionou atuar. Tudo isso dentro dos valores e da essência da organização.

Esse estudo profundo durante o desenho da estratégia empresarial traz como bônus para a empresa um maior conhecimento de si própria e do seu ambiente externo, o que permitirá enfrentar com maior possibilidade de sucesso os imprevistos. Quanto mais incerto o ambiente, mais importante se torna o investimento em estudos estratégicos.

Após a definição da estratégia, os diversos atores na empresa poderão planejar e agir com o foco no que é a essência do negócio. Uma unidade de esforços é alcançada, facilitando a coordenação interna na empresa e também, provavelmente, a cooperação e colaboração tendo em vista que todos caminham na mesma direção. Os investimentos de longo prazo seguirão uma direção coerente como um todo.

Em vista das vantagens acima citadas, muitas organizações têm suas estratégias bem definidas e investem tanto no seu desenvolvimento, quanto na sua atualização. Você também pode se beneficiar do conhecimento desses mestres. Compreender os conceitos de estratégia é fundamental, mas não devemos confundir estratégia com planejamento. No próximo artigo abordaremos o planejamento estratégico.

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Rodolfo Wadovski
Business Drops

Oficial da Reserva da Marinha do Brasil, Mestre e Doutor em Administração pelo Coppead/UFRJ