Os desafios do empreendedorismo no Brasil

Marcelo Dionisio
Business Drops
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5 min readNov 1, 2018

Em seu primeiro discurso após a eleição, o presidente Jair Bolsonaro disse o seguinte: “Vamos desburocratizar, simplificar e permitir que o cidadão, o empreendedor, tenha mais liberdade para criar e construir e seu futuro”, isso é mesmo necessário ? quais os problemas que o empreendedor brasileiro enfrenta hoje ? o objetivo deste texto é discutir os desafios do empreendedorismo no Brasil, tendo por base essa afirmação e analisando os seu principais pontos.

Visão geral do Empreendedorismo no Brasil

A pesquisa — Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é uma avaliação anual do nível nacional da atividade empreendedora. Desde 1999, com a participação de mais de 100 países, através de uma parceria entre a London Business School, da Inglaterra e o Babson College, dos Estados Unidos, o GEM é considerado o maior estudo sobre empreendedorismo no mundo.

Segundo seu relatório sobre o Brasil (2016), o número de pessoas empreendendo vem crescendo desde 2002 do patamar de 21% até atingir um total de 36% em 2016 (percentual da população de 18 a 64 anos). Isso demonstra uma consolidação do empreendedorismo como alternativa ao emprego formal e, consequentemente, sua crescente importância para a atividade econômica no Brasil, principalmente considerando-se que metade da população brasileira com o ensino médio completo pretende empreender nos próximos três anos.

No período de retração da economia após 2012, o empreendedorismo continuou a crescer, o que pode ser um indicativo de um comportamento mais independente em relação ao nível de atividade econômica, demonstrando a relação positiva entre mudanças em fatores estruturais, tais como o aumento do nível de escolaridade dos brasileiros e o impacto da Lei que criou o MEI (Micro-empreendedor Individual) e o desenvolvimento de novos empreendimentos, reforçando a ideia de que mudanças que facilitam a atividade empreendedora podem estimular seu crescimento.

Essa mesma pesquisa concluiu que a mentalidade empreendedora, conceito associado à percepção e avaliação do indivíduo sobre seu ambiente e suas condições de influenciar de forma positiva ou negativa a decisão de empreender é alta no Brasil, onde 41,3% da população brasileira conhece alguém que iniciou um novo negócio nos últimos 2 anos. O país, em comparação com os BRICS (que incluem Rússia, Índia, China e África do Sul), só perde para a China que tem um índice de 50,5%.

O estudo demonstra ainda que o Brasil apresenta a maior taxa de potencial empreendedor, quando comparado com outros 8 países, incluindo China, Estados Unidos e México.

Desburocratizar e simplificar

Em uma escala de 1 à 9, a nota atribuída a burocracia e impostos para empreender no Brasil foi de 2,2, a mais baixa comparada com restante dos BRICS e a pior nota aplicada aos fatores que influenciam negativamente o ambiente de negócios nestes países (GEM Brasl, 2016).

Segundo pesquisa da Endeavour, o cenário burocrático para a abertura de uma empresa e posterior obtenção de todas as licenças e pagamento de tributos para que o negócio possa funcionar regularmente no Brasil é um dos principais entraves para que o empreendedor deixe sua ideia no papel, o que pode inclusive justificar o fato de que o percentual de empreendedores que
declararam ter CNPJ, os que são portanto formalmente reconhecidos pelo governo e órgãos reguladores, ser de apenas 17,5% (GEM Brasil, 2016).

O Relatório Doing Business, do Banco Mundial, em sua última edição coloca o Brasil no 109º lugar, atrás de países como México (54º lugar), Chile (56º) e Colombia (65º). Levando-se em conta tópicos específicos como abertura de empresa (140º), pagamento de impostos (184º) e registro de propriedades (137º), a classificação brasileira só piora…

A comparação do cenário brasileiro com o de outros países mostra que aqui se gasta muito mais tempo e recursos para o cumprimento das obrigações regulatórias necessárias para a abertura e operação de um negócio. Segundo a Endeavour, o tempo médio para abertura de empresas no Brasil é de 129 dias!

Sim, desburocratizar e facilitar são realmente necessidades urgentes para o desenvolvimento do empreendedorismo no país.

Liberdade (e apoio) para criar

A pesquisa GEM Brasil 2016 aponta que os principais fatores ambientais que
favorecem o empreendedorismo são: as reduzidas barreiras à entrada de novas empresas e sua capacidade empreendedora. Para efeito de comparação, no caso da China, os principais fatores que favorecem o empreendedorismo são as políticas governamentais e o apoio financeiro existente, fatores que os especialistas são unânimes em apontar como os principais limitadores da atividade empreendedora no Brasil.

Isso nos leva a concluir que a existência de políticas governamentais produziria resultados no desenvolvimento do empreendedorismo, ou seja, os agentes econômicos conseguem um desenvolvimento maior quando o governo adota políticas de longo prazo mais estáveis, que facilitem e apoiem o empreendedorismo.

Não podemos esquecer da corrupção, que é percebida como um fator limitante do empreendedorismo. Segundo pesquisa do SEBRAE, 31% dos empreendedores entrevistados apontaram a corrupção como o principal obstáculo enfrentado em 2017, mostrando que falta ao empresário brasileiro confiança na política pública e isso está impactando na gestão do seu negócio.

Podemos então concluir que, nesse cenário é muito importante a participação do governo, que não basta simplesmente oferecer liberdade para empreender, e sim, deve participar efetivamente do processo, combatendo a corrupção e promovendo apoio através de políticas de longo prazo que garantam um ambiente favorável ao desenvolvimento do empreendedorismo e consequente apoio de investidores e agentes financeiros para suportar o desenvolvimento de novos negócios.

Conclusão

O empreendedorismo é uma ferramenta de desenvolvimento econômico e traduz o desejo de muitos brasileiros. Segundo a GEM (2016), ter um negócio é o quarto sonho dos brasileiros, atrás de viajar, comprar a casa própria ou um carro zero. Segundo essa pesquisa, 36% dos brasileiros realizaram alguma ação, no último ano, para ser dono da sua própria empresa e metade da população brasileira com o ensino médio completo pretende empreender nos próximos três anos.

Com a crise econômica, houve um crescimento no que chama-se de empreendedorismo por necessidade, que é a abertura de um negócio para compensar a perda do emprego, o que pode ter impactado em alguns dados das pesquisas recentes e não necessariamente tem uma conotação positiva, já que são negócios abertos com pouco planejamento e apoio, com grandes chances de fechamento, inclusive com a possibilidade do dono retornar ao mercado. É muito importante que o empreendedorismo no Brasil se desenvolva de maneira sustentável, buscando solucionar problemas e gerar riqueza, oferecendo bens e serviços que atendam as necessidades dos consumidores.

Sociedades que encorajam o empreendedorismo por meio do livre mercado econômico tendem a ter um desenvolvimento mais rápido do que as demais. Por isso, neste momento de renovação na política brasileira, é muito importante que os novos governantes ofereçam o suporte necessário para o desenvolvimento do empreendedorismo. Com medidas de longo prazo, fortalecendo instituições e promovendo a abertura e manutenção de novos negócios, estarão construindo o seu futuro e o futuro do país.

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Marcelo Dionisio
Business Drops

Coordenador Acadêmico da Scholar Corporate, Professor de Varejo, Marketing e Sustentabilidade & Doutorando do Coppead/UFRJ em Inovação Social.