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Teste de COVID-19 para Futuros Empreendedores: 10 Perguntas de Auto-Avaliação

Gustavo Nobre
Business Drops
Published in
7 min readOct 24, 2020

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Você seria um bom empreendedor em tempos de pandemia de COVID-19? Faça o teste e descubra!

De todas as definições existentes de empreendedorismo, essa me parece ser a mais sucinta e ao mesmo tempo a mais completa:

“A vontade e a capacidade de desenvolver, organizar e gerenciar um negócio, assumindo os riscos inerentes em troca dos benefícios esperados”.

Vontade tem relação com o sonho, a ideia, a iniciativa; capacidade de desenvolver significa saber transformar uma ideia em realidade; organizar e gerenciar tem relação com manter o negócio saudável a longo prazo. Riscos são as incertezas (positivas e negativas), e assumi-los significa ter capacidade de lidar com elas; os benefícios são as recompensas, que podem vir de várias maneiras, inclusive na forma de retorno financeiro.

Para empreender é necessário que todas essas características estejam presentes em um futuro gestor do próprio negócio — que pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas.

A questão é que nem sempre conseguimos saber ao certo se somos possuidores dessas características (em alguns casos, sequer sabemos que elas são necessárias), e às vezes somos enganados por nós mesmos, cegados pelos nossos próprios sonhos. As consequências se refletem nas estatísticas: quase 30% das empresas fecham ao longo do seu primeiro ano de existência.

A pandemia da COVID-19, que começou a impactar gravemente os negócios no Brasil a partir de março de 2020, abalou diretamente mesmo os melhores empreendedores, tornando alguns negócios insustentáveis no médio prazo, em boa parte por conta de restrições impostas pelo governo, sem falar nos efeitos psicológicos gerados nos gestores. Não é pra menos, entre março e julho de 2020, mais de 700.000 empresas fecharam suas portas.

Por outro lado, também vimos novos negócios surgindo, gestores flexibilizando e adaptando suas empresas à nova realidade, paradigmas sendo quebrados.

Com base no que foi observado com as empresas e mercados ao longo da pandemia da COVID-19, e respaldado pela literatura de empreendedorismo, elaborei um questionário simples (10 perguntas sim/não) que visa auxiliar aqueles que pensam em abrir seus negócios a verificarem se têm vocação para empreender e a sobreviver em momentos tais como o da pandemia:

1) Você sonha em ter um negócio que, com o passar do tempo, possa caminhar praticamente por conta própria para que você possa descansar mais, e colher os frutos de seu esforço?

2) Você se considera um grande otimista — principalmente no que se refere às projeções de resultados de seu novo negócio?

3) Você tem apego pelas coisas e pelas suas ideias?

4) Ao empreender, você também sonha com horários flexíveis, não ter chefe, reduzir o stress e ter mais tempo para você e sua família?

5) Você tem aversão a dívidas, empréstimos, investidores externos, etc.?

6) Sua ideia de negócios já foi implementada por outras empresas e/ou é passível de ser imitada com facilidade por outros empreendedores?

7) Você se abala, se sente mal e prejudicado diante de adversidades (pouco resiliente, pouco persistente)?

8) Agora que você será dono se seu negócio, não vai (mais) precisar “sujar a mão de graxa”?

9) Você entende que crises econômicas / mudanças no mercado, mesmo que de curto prazo, são totalmente capazes de inviabilizar o seu negócio?

10) Erros cometidos por outros, crises passadas, casos de sucesso representam outras realidades e experiências; por isso, não são fonte de informação para você?

Esse questionário é para ser respondido na forma de auto-avaliação, ou seja, praticamente um exercício individual silencioso; e precisa ser respondido com a consciência. Não é necessário compartilhar suas respostas com ninguém.

A verificação dos resultados é simples: para cada “SIM” respondido, nos afastamos mais das chances de termos sucesso enquanto empreendedores que sobrevivem a crises como a da COVID-19.

Analisando as respostas:

1) Você sonha em ter um negócio que, com o passar do tempo, possa caminhar praticamente por conta própria para que você possa descansar mais, e colher os frutos de seu esforço?

Você já ouviu aquela frase: o olho do dono é que engorda o gado? Ela pode ser interpretada de algumas formas diferentes. Uma delas diz respeito ao autoritarismo e a supervisão dos colaboradores para que eles desempenhem suas atribuições corretamente. Essa não é a leitura aqui. Me refiro ao negócio como um todo, a estar presente, a estar perto e ouvir seus clientes e colaboradores, a chegar às 5h para abrir as portas se necessário for, a dar exemplo, a servir de inspiração para os demais. Para aqueles que entendem que os negócios irão andar sozinhos em algum momento, como se fossem somente uma aplicação financeira, tenho más notícias.

2) Você se considera um grande otimista — principalmente no que se refere às projeções de resultados de seu novo negócio?

Cuidado ao planejar os resultados do seu empreendimento. Em planilhas de cálculos tudo é possível. Ao fazer aquelas projeções fantásticas para o seu negócio, leve em consideração que estamos vivendo em um mundo VUCA , recheado de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, que temos que projetar resultados com o pé no chão, e estar atentos aos riscos — um pouco de pessimismo é até bem vindo nessas horas.

3) Você tem apego pelas coisas e pelas suas ideias?

É preciso estar preparado para mudar sua forma de pensar e agir. O bom empreendedor também precisa saber identificar oportunidades e reagir adequadamente ao mercado, mesmo que isso às vezes vá de encontro às suas ideias ou à forma com a qual seu negócio está estruturado. Conheço um restaurante que existe há décadas e que nunca se rendeu ao modelo de delivery, mesmo após o surgimento dos aplicativos voltados para esse tipo de serviço. Foi necessária uma pandemia pra fazer os gestores mudarem de ideia. O aprendizado contínuo e adaptações a mudanças são uma constante hoje no mundo das organizações que aprendem, expressão criada por Peter Senge em seu livro A Quinta Disciplina.

4) Ao empreender, você também sonha com horários flexíveis, não ter chefe, reduzir o stress e ter mais tempo para você e sua família?

Essa é uma visão distorcida, possivelmente de quem nunca empreendeu. Para o dono de um negócio, não existe “horário de trabalho”, e você troca um “chefe” por vários outros: seus clientes, seus fornecedores, seus sócios, seus concorrentes. Não estou afirmando que ser empregado é melhor do que ser empreendedor nem vice-versa. Mas são mundos bem diferentes. Esteja preparado (fisicamente e mentalmente) para trabalhar muito mais.

5) Você tem aversão a dívidas, empréstimos, investidores externos etc.?

Os profissionais da área de finanças que o digam: o endividamento faz parte do mundo empreendedor, principalmente quando se avalia os riscos do negócio. São raros os empreendedores que financiam seus negócios exclusivamente com capital próprio. Para entender um pouco mais sobre isso, eu recomendo este livro sobre Finanças Corporativas.

6) Sua ideia de negócios já foi implementada por outras empresas e/ou é passível de ser imitada com facilidade por outros empreendedores?

Não basta ter uma ótima ideia para o seu negócio. Você precisa garantir que o seu empreendimento se sustente no longo prazo, mesmo em momentos de crise, como os de uma pandemia. Uma das formas de averiguar isso é fazendo pra si próprio as seguintes perguntas sobre seu negócio (que se aplicam também a um produto): Ele tem valor? É raro? É difícil de imitar? Você (ou sua organização) sabe explorá-lo? Trata-se do modelo VRIO, explorado no ótimo livro Administração Estratégica e Vantagem Competitiva, de Jay B. Barney.

7) Você se abala, se sente mal e prejudicado diante de adversidades (pouco resiliente, pouco persistente)?

Existem pessoas que desistem fácil e/ou que se sentem derrotadas diante das dificuldades do dia a dia empresarial. No mundo do empreendedorismo, as batalhas são praticamente diárias e nem sempre é possível ganhar todas. Nossa capacidade de recuperação e de dar a volta por cima é que faz toda a diferença.

8) Agora que você será dono se seu negócio, não vai (mais) precisar “sujar a mão de graxa”?

O dono do negócio precisa estar preparado para desempenhar qualquer atividade dentro da empresa.

9) Você entende que crises econômicas / mudanças no mercado, mesmo que de curto prazo, são totalmente capazes de inviabilizar o seu negócio?

O enfrentamento de crises econômicas e mudanças mercadológicas faz parte do dia a dia dos empreendedores, ainda mais no Brasil. Não saber encarar isso de frente e não estar preparado para essas situações é que é o problema. Observar os negócios que se adaptaram à pandemia é um bom exercício, por exemplo.

10) Erros cometidos por outros, crises passadas, casos de sucesso e de fracasso representam outras realidades e experiências; por isso, não são fonte de informação para você?

Eu gosto muito de lembrar e usar esta frase de Eleanor Roosevelt: “Aprenda com os erros dos outros. Você não consegue viver tempo suficiente para cometer todos por si mesmo”. A experiência é fundamental para o sucesso. Mas ela não precisa ser necessariamente sua — vale a pena também aprender com a experiência dos outros. Nisso nós levamos uma certa vantagem: as grandes inovações geralmente partem de países mais desenvolvidos. Cabe a nós entender e aprender, para procurar fomentar o que foi bem sucedido e evitar cometer os mesmos erros.

E você? Já empreendeu e passou por essas situações? Como seu negócio foi afetado pela pandemia? Comente! E se gostou, bata palmas!

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Gustavo Nobre
Business Drops

Consultor Empresarial e Gestor de Projetos há mais de 25 anos, Professor na Área de Administração, Mestre e Doutor pelo Coppead/UFRJ