7 Coisas Que as Olimpíadas do Rio Vão Deixar na História

Buzzer Beater
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7 min readAug 24, 2016

De duelo iugoslavo até despedida dos hermanos, Rio 2016 vai deixar saudades.

por Felipe Haguehara e Heitor Facini

1. O TIME NÃO TÃO DOS SONHOS AINDA É SOBERANO

Não deu outra, por mais que a gente torcia contra, os Estados Unidos foram campeões. Mas isso cria um problema. Um time B (em sua maioria) de um país é melhor do que todas as outras seleções do mundo.

Mas por que time B? O quinteto titular do ~~~~~dream team~~~~~~ (por favor, não chamemos de Dream Team, é um desrespeito a Michael Jordan e companhia) só tinha dois que seriam titulares se todos fossem convocados: Kevin Durant e DeMarcus Cousins. Dos 12, Kyle Lowry, Demar DeRozean, Jimmy Butler, Harrison Barnes (POR FAVOR, NÉ?) não seriam convocados de forma alguma. Carmelo Anthony, Klay Thompson, Kyrie Irving e Draymond Green brigariam por uma vaga na convocação. Ou seja, uma seleção bem mais fraca que todo seu potencial.

Óbvio, eles patinaram em muitos momentos. Dá pra citar em 3 jogos principalmente, contra a Sérvia na primeira fase onde ganharam por apenas 3 pontos de diferença (94 a 91), contra a França também na primeira fase que ganharam por 3 pontos de diferença de novo (100 a 97) e na semifinal contra a Espanha que a vitória foi só por 6 pontos de diferença (82 a 76). Mas, na final, obviamente, foi um passeio, 96 a 66 contra a mesma Sérvia. Isso mostra o quê? Eles são os melhores até quando não estão no melhor. E isso é muito ruim.

2. O VERDADEIRO DREAM TEAM DA RIO 2016

De um lado vimos um Dream Team, time dominante, não deu sorte ao azar e venceu com propriedade todos os seus confrontos, como se espera de uma seleção formada por atletas da liga norte-americana. Do outro lado vimos a equipe masculina dos Estados Unidos.

Pois é, se houve um time que mereceu o título de “time dos sonhos” esse foi o de Maya Moore, Diana Taurasi e Elena Delle Done. Presta bastante atenção nesses nomes! São apenas três, que sem dúvidas terão suas cadeiras cativas em um hall da fama de um elenco ainda recheado com lendas como Sue Bird e Tamika Catchings.

Foi um time que não deixou dúvidas, logo na primeira partida, contra Senegal, quebrou o recorde de maior número de pontos em uma única partida do basquete feminino, 121 pontos, e a terceira maior diferença em um placar, 65 pontos no jogo que foi 121 a 56. Por isso, pedimos encarecidamente: JAMAIS compare esse time com o masculino!

3. UMA CAMPANHA DECEPCIONANTE PARA O BASQUETE BRASILEIRO

Vamos pra uma questão delicada nessa lista. Trata-se do nosso país, do nosso basquete, e se pedirmos para quem está feliz com o desempenho levantar as mãos aí, temos certeza que poucos levantarão, isso se alguém levantar! O Brasil foi mal independentemente da da modalidade (feminino ou masculino), e como já se fala desde muito tempo, não é um problema isolado e individual quanto aos atletas, vai pra várias esferas.

Temos três problemas que podemos analisar nesse ciclo que passou. Um! O time estava velho, média de idade que seria maior ainda se não houvesse a troca de Anderson Varejão (lesionado) por Cristiano Felício. Isso muda alguma coisa? A culpa é da idade? Obviamente não especificamente, mas quer dizer que há uma falha na formação de atletas ainda, o problema é estrutural. O que nos leva ao problema, DOIS! A questão estrutural, a CBB está aos pedaços, não tem dinheiro nem pra mandar as seleções de base para torneios internacionais, isso naturalmente reflete num problema de gestão da seleção adulta em que ainda se depende de uma geração que não estará mais em 2020 e a que está vindo aí ainda é crua e sem experiência em grandes competições.

A última merece destaque por conta do desenrolamento recente, então, TRÊS! Já não passou da hora de experimentarmos outros treinadores? Barbosa e Rúben Magnano fazem parte da nossa história da bola laranja no Brasil; primeiro é precursor de nossa melhor geração e exímio conhecedor do basquete feminino no Brasil, o segundo reerguem nosso nome, voltamos ao destaque internacional com Olimpíada e boas participações em mundiais. Mas nesses últimos jogos, provaram que pode ser a hora de “conhecer novas pessoas”, com isso tivemos seus desligamentos como treinadores das seleções e esperamos uma avaliação justa da CBB para buscarem novos treinadores para nossas seleções que merecem respeito na maneira de serem tratadas!

4. O ADEUS A MANU GINOBILI

Nico/Flickr

Depois de 4 gloriosas olimpíadas, a geração de Manu Ginobili, Luis Scola e Andrés Nocioni se despede das olimpíadas. É sensacional ter nascido na época para ver esses caras jogar. O único time a ser medalhista de ouro a partir de quando o Dream Team pode jogar a NBA. Foram escorraçados pelos Estados Unidos nesse ano no Rio de Janeiro, é verdade, mas nada apaga o brilhantismo de um time que ganhou o ouro em 2004, o bronze em 2008 e ficou em 4º em 2012.

E uma homenagem a Manu Ginobili. Essa, provavelmente também vai ser a última temporada dele pelo San Antonio Spurs. Um ano após Tim Duncan deixar as quadras da NBA, Ginobili também se vai. E pouco a pouco a gloriosa geração de San Antonio deixa o cenário da liga norte-americana. De Chorar.

5. OS CANGURUS FORAM ALTO

Quem esperava essa eficiência? Quem esperava esse jogo coletivo desenvolto com um dos melhores backdoors, jogada em que os pivôs saem do garrafão e dão passagem para os alas correrem pelo fundo da quadra livres pra cesta, dos Jogos? Quem esperava um Patty Mills tão monstro?

A Austrália chegou como uma seleção pautada para ficar pelo caminho, vazar no primeiro mata-mata mesmo. Sabíamaos da qualidade dos jogadores, mas não colocamos aquela moral. Mais alguém aí mordeu a língua com essa voadora dos cangurus? Perderam a partida do bronzr pra Espanha, mas e daí!

Foram gigantes desde o começo, Bogut dominou o garrafão na defesa e fez muitos bons passes a partir do poste; Patty terminou com a segunda melhor média de pontos, 21.3, e como quarto maior pontuador, 149 pontos no total; Dellavedova fez seu papel de armador titular, um dos melhores do torneio por sinal, distribuiu a bola excelentemente, líder no total de assitências, 56, e segundo em média, 7 por jogo. Apenas parem para pensar no futuro desse time que pode contar com Ben Simmons e Thon Maker, além de Dante Exum, tá aí um time que vamos ver em ciclos olímpicos por muito tempo.

6. SÉRVIA x CROÁCIA — A HISTÓRIA EM QUADRA OU O DUELO DE BOGDANOVICS

Drazen Petrovic com a camisa da Croácia (SpeedyGonsales/Wikimedia)

Rapaz, vocês podem até não ter reparado, mas o jogo com mais história em toda a olimpíada foi esse pelas quartas de final. Agora, um resuminho do porque disso. Sérvia e Croácia fizeram partes da Iugoslávia. O antigo país do leste-europeu foi uma das melhores seleções de basquete dos anos 80 e início dos anos 90. De lá, dois craques, Drazen Petrovic e Vlade Divac. Brotherzaços os dois. De ficar horas falando o dia inteiro, de serem melhores amigos mesmo. Divac era Sérvio, Petrovic era Croata. Mas, na final do mundial em 1990 (onde a Iugoslávia saiu campeã, aliás), um cidadão invadiu a quadra portando uma bandeira da Croácia. Divac a pegou e tratou de jogar longe. A amizade deles acabou por aí.

Nessa época a Croácia brigava para ser independente da Iugoslávia. Tipo briga sangrenta mesmo, de morte de um monte de gente. Os números dizem que são entre 20.000 mortes entre ambos os lados. Bom, seguindo daí pra frente, Petrovic mostrou no pouco tempo da NBA que era realmente um excelente jogador da NBA. O problema foi que a passagem foi curta. Em 1993 o cara faleceu num acidente de carro. Foram milhões indo para o seu funeral. E Divac e Petrovic nunca conseguiram reatar a amizade.

Além disso, tivemos um duelo nominal sensacional. Do lado croata, Bojan Bogdanovic do Brooklyn Nets. Do lado sérvio Bogdan Bogdanovic (QUE NOME SENSACIONAL! Quase um Silvio Silva), jogador do Fenerbahce. Dois Boganovics na mesma quadra (a gente pelo menos acha que isso não é nada comum).

7. A SÉRVIA COMO FUTURO

Além de ter feito esse duelo épico, a Sérvia tem um feito sensacional. Foi a primeira olimpíada que o país competiu sob a bandeira servia (em outras modalidades já compete desde 2008, mas nesse ano e em 2012 o basquete não se classificou) e já conseguiu uma medalha de prata. O time apresenta excelentes valores já consolidados como Milos Teodosic, um excelente passador de criar jogadas lindas.

Mas são 2 mais novos que chamam a atenção: Nikola Jokic e Bogdan Bogdanovic. O primeiro já foi para NBA no Denver Nuggets e entrou na seleção dos novatos na temporada passada. Bogdanovic é um cara que vem prometendo ir para NBA ano após ano. Agora, dessa vez, o time que tem seus direitos é o Sacramento Kings. Ele joga no Fenerbahce da turquia e já vem se mostrando um jogador quase pronto. O time sérvio promete muito para 2020.

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