Como Tim Duncan alega ter perdido 24 milhões de dólares
Nem mesmo um dos melhores jogadores de basquete da história está seguro contra fraudes.
Todos estamos passíveis de virar vítimas de algum esquema criminoso. Seja a ingenuidade de um leigo digital que já acreditou nos pop-ups afirmando um prêmio de 1 milhão de reais, seja o envolvido em um sistema de pirâmide, seja o homem multi milionário enganado enganado sobre investimentos “certeiros”. A maior parte de nós está nos dois primeiros, mas o homem dessa história. Tim Duncan, apontado por muitos como o melhor jogador a exercer a função 4 na quadra, pagou por sua sinceridade e sua ingenuidade.
A realidade o valor perdido pelo ala-pivô não teve um efeito devastador em sua saúde financeira. Seu antigo conselheiro financeiro, Charles Banks, o havia convencido a autorizar um empréstimo de 6 milhões de dólares a um negócio ao qual ele era dono, e acabou levando grande parte desse dinheiro para o bolso — contaremos sobre o caso logo mais.
Ao longo de seus 19 anos de NBA, Duncan faturou, apenas em salários — sem contar marketing e propagandas —, cerca de 283.3 milhões de dólares, segundo o site Sportac. Além disso ele tem mais três anos de pagamento garantido do San Antonio Spurs, recebeu 1.88 milhões em 2016–17 e ainda receberá esse mesmo valor nas duas próximas temporadas. Ou seja, em salários recebidos ele receberá um total de pouco mais que 242 milhões de dólares. Mesmo que ele tenha perdido os 24 milhões os quais alega, isso representa quase 10% do que acumulou em vencimentos.
Obviamente, que nada disso é uma justificativa para se permitir ser enganado, ou ignorar um crime. Esse fato, na verdade, adquiriu um caráter ainda mais pessoal, afinal Duncan considerava Banks um amigo. 100 dólares seriam uma picada de mosquito para o bolso recheado do ex-atleta, mas milhões surrupiados por alguém próximo, foi uma verdadeira martelada em sua confiança.
Deixando as subjetividades envolvidas sobre “confiança”ou “certo e errado” de lado, vamos ao caso!
As partes envolvidas
Antes de entrar no turbilhão que foi a luta judicial e a devida explicação do acontecimento, é necessário uma breve apresentação das personagens envolvidas. Assim como expôr como toda a situação fora descoberta.
Todos aqueles que já flertaram com o sonho de se tornar um atleta profissional, independentemente do esporte, um dos alertas dados por pais, treinadores e pessoas próximas com entendimento mínimo do assunto era o seguinte: “Cuidado com os vigaristas”.
O motivo é simples. Sempre sobrevoando o sucesso de jovens promissores no meio esportivo, estão verdadeiros abutres. Conhecendo a face ingênua sobre o funcionamento do lado financeiro, destes que encaminham-se para o desporto profissional, alguns empresários e consultores financeiros se aproveitam para estabelecer um contato próximo e assim sugá-los algumas quantias. Estas, muitas vezes, estão longe de afetar veementemente suas cifras totais, como no caso de Duncan, mas já garante uma vida e tanto para os criminosos.
“Eu sou um cara fiel. Sou um homem de palavra, e assumi que as outras pessoas também seriam assim. Esse simplesmente não é o caso na vida”. Foi isso que Tim Duncan constatou ao portal San Antonio Express-News. Porém, ele não foi o primeiro caso, e nem será o último. O peso do conhecimento não está sob a chancela de um diploma universitário, mas quem quiser dizer que ele era só mais um jovem tolo sem instrução, há uma formação em psicologia que o defenda (ou no caso, acuse). Imagine o perigo ao qual estão os atletas de hoje, expostos cada vez mais jovens aos holofotes e, na maioria das vezes, completando apenas o um ano obrigatório no ensino superior.
Existem alguns nomes-chave a serem apresentados. Além de Timmy, temos Charles Banks, o homem que o enganou. Banks era um nome conhecido no mercado financeiro, já havia passado por cargos de diretoria em outras empresas, bem como comprado e investido em diversas ações. Especialmente em ações de marcas de vinho; era dono de uma empresa chamada Terroir Capital, que comprava e controlava diversas vinícolas conhecidas no meio.
Kevin Garnett também é outro envolvido, mesmo que indiretamente. A antiga lenda de Boston Celtics e Minnesota Timberwolves, era outro cliente de Banks, e possuía metade de uma entidade com o mesmo, chamada Hammer Holdings. Através da qual, segundo a confissão, do acusado utilizava para afunilar o investimento de Duncan em outra empresa e desviá-lo para si.
Os outros nomes são menções. Como a do juiz que deu a sentença, quase uma estrela durante o processo, chegou a comparar Banks com um traficante de metanfetamina, sentenciado na sessão anterior à do investidor. Em outro momento, questionou ao réu sobre as cartas enviadas por amigos e familiares pedindo clemência ou alegando inocência.
E no último rol, estão as personagens coadjuvantes. Os ex-companheiros de Spurs, Manu Ginóbili, Gregg Popovich, R.C. Buford e Sean Elliott, acompanhantes do gigante das Ilhas Virgens. E por fim, Sue Hall advogada de Duncan, que descobriu as incongruências nas finanças durante o processo de divórcio do jogador em 2013; e Wendy Kowalik, consultora financeira chamada por Hall, que decifrou as cifras e encontrou os empréstimo de Duncan à empresas controladas por Banks.
Se nem César escapou de Brutus, por que Duncan escaparia de Banks?
Conhecem a história de César e Brutus? Brutus era um general próximo ao imperador Julio César, ele o traiu uma vez numa guerra civil, perdeu, se rendeu, mas o governante lhe garantiu anistia. Porém, ainda haviam senadores insatisfeitos com os resultados da guerra e com o aumento nos poderes monárquicos de César. Brutus mais uma vez o traiu, e dessa vez teve sucesso no plano de assassinato.
O acontecimento reverberou pela história, até chegar nas tragédias de Shakespeare. Em Julius Caesar, popularizou-se o termo “et tu, brute?” ou “Até tu, Brutus?”. A veracidade sobre essas serem as últimas palavras do imperador romano é muito contestada. Mas para nós, nesse texto, vale seu significado popular, algo do tipo: “Até tu, Banks?”
Tim Duncan conheceu Charles Banks em sua primeira temporada na NBA, no longínquo ano de 1997. Na época, o segundo era consultor financeiro para atletas profissionais numa empresa chamada CSI Capital Management. Depois se envolveu mais e mais com o mercado dos vinhos, e após sair da CSI, ofereceu a Duncan envolvimento em alguns de seus investimentos.
Dentre eles estava a Gameday Entertainment LLC, uma empresa de mercadorias esportivas. Banks convenceu o ala-pivô a emprestar 7.5 milhões de dólares e, posteriormente, a assinar um empréstimo de 6 milhões de dólares pelo Comerica Bank.
É sobre este último empréstimo que a briga se instaurou. Apesar dos representantes de Duncan alegarem que Duncan nunca teve retorno sobre os 24 milhões que investiu junto ao seu ex-conselheiro, porém não possuíam provas o suficiente para incriminá-lo. Mas obtiveram o bastante para acusá-lo sobre os 6 milhões. Banks por um bom tempo negou, mas para evitar que o julgamento se estendesse por muito tempo declarou-se culpado.
A fraude se constituiu da seguinte maneira: Após convencer seu cliente a investir a assinar o empréstimo, Banks instruiu a empresa a lhe enviar um pouco do dinheiro. No final das contas, cerca de 5.39 milhões haviam sido enviados à sua conta pessoal ou à entidades as quais ele controlava. Segundo uma testemunha da acusação “ele usava a Gameday como uma ATM Machine” — um caixa eletrônico no caso.
O resultado disso foram as acusações do lado de Duncan e a confissão sem escapatória de seu ex-confiável conselheiro. A sentença então foi dada. 4 anos de encarceramento fechado, restituir a vítima em 7.5 milhões de dólares, mais três anos em regime aberto supervisionado após o fim dos 4 anos. Ele deverá se apresentar à polícia no dia 28 de Agosto para iniciar o cumprimento, porém sua defesa ainda recorrerá.
O que restou foi um show de frase dignas de programas televisivos sensacionalistas. Banks aos prantos pediu desculpas a todos, incluindo ao seu ex-amigo: “Tim, me desculpe, eu o coloquei em uma má posição. Desculpe-me ter mentido para você. Eu nunca quis te machucar”.
Em um documento lido pelos representantes do ala-pivô, ele afirmou que nunca mais queria ver seu nome nos jornais após o fim de seus 19 anos de NBA. Que seu tempo nos holofotes eram justamente para conseguir uma fonte de renda que lhe garantisse saúde financeira para o resto da vida.
Porém, ele acabou sendo “a criança no cartaz para o atleta burro que o conselheiro tomou-lhe o dinheiro”. Essa expressão, usada por Duncan, faz sentido em inglês “Poster Child”, a “criança do cartaz”, se refere às crianças nos cartazes que ilustram determinada doença ou deficiência, isso se transformou em um termo para falar que a pessoa é a ilustração de determinada qualidade. Ou seja, Tim Duncan definiu a si mesmo como a perfeita ilustração do atleta burro, que servirá de exemplo aos outros.
Irônico, pois estamos daquele apontado por muitos como um gênio silencioso, mais inteligente do que a média dos atletas. Nosso querido Big Fundamental, aprendeu da pior maneira lições sobre confiança.
Já Banks, podemos dizer que por um lado o destino lhe reservou sorte. Imagine se o lado que lhe acusava fosse composto por caras do naipe de Kobe Bryant, LeBron James ou, até aquele que o defendeu, Kevin Garnett. Tenha certeza que eles não se contentariam com o resultado, pois a sentença máxima que ele poderia receber era de 20 anos na prisão!