Draft da NBA de 2017: Analisando as escolhas do Leste

Felipe Haguehara
buzzerbeaterbr
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23 min readJun 28, 2017

Dia 22 de Junho marcou mais uma etapa na esperança dos times por estrelas do futuro

Ao centro Markelle Fultz, 1ª escolha geral e grande aposta do Philadelphia 76ers para fechar o chamado “Processo” (Montagem: Felipe Haguehara/Buzzer Beater; Imagens: Divulgação/University of Washington/Duke University/Florida State Univesity/University of Arizona/SIG Strasbourg)

O que é isso nessa foto de capa? Nitidamente, os cinco Power Rangers sendo convocados por Zordon ao fundo, certo? Quase isso. Quinta-feira passada aconteceu o draft da NBA, o evento no qual os times escolhem os principais jovens talentos saídos das universidades, fora do país ou até colegial. E esses aí são os cinco primeiros atletas selecionados por franquias da Conferência Leste.

Toda ocasião do tipo é especial e imensamente aguardada pelo público. Porém, o desse ano teve um algo a mais. O número de atletas considerados possíveis All-Stars do futuro era bastante alto. Por mais que a primeira escolha já fosse de certa maneira um consenso faz algum tempo, a profundidade dentre os nomes ia além do top 10. Na verdade, potenciais steals — quando um jogador muito bom foi escolhido em posições baixas do draft — devem ser observados, afinal excelentes jogadores foram parar na segunda rodada.

Para isso trazemos algumas pequenas análises da atuação das franquias nesse draft. Estas também serão acompanhados por notas baseadas no consenso da mídia. Levando em consideração a qualidade dos atletas escolhidos em determinada posição, o quão bem esse jovens encaixam nas necessidades do time, e, dependendo, trocas efetuadas pelas equipes, pois o evento desse ano foi bastante movimentado nas transações.

As notas vão de “um” a “oito”, sendo a segunda dada para as melhores performances. Para deixar mais interessante, e não ficarmos quebrando notas em decimais, cada número redondo nesse intervalo corresponderá a alguma decepção da história recente dos drafts, os famosos busts. A ordem é a seguinte, para vocês acompanharem:

Melhor do que as oito insígnias de ginásio Pokemon, são as oito insígnias de drafts desastrosos (Montagem: Felipe Haguehara/Buzzer Beater)

Deu pra entender os sistema? As equipes estarão em ordem alfabética, de acordo com os nomes das cidades em que se hospedam. Hoje trazemos a análise das escolhas do Leste, e ao longo da semana soltaremos as do Oeste. Então, vamos à tarefa mais difícil, dar essas notas!

Atlanta Hawks

Candidato a steal da primeira rodada, caiu mais do que deveria nas escolhas (Foto: Divulgação/Wake Forest University)

ESCOLHIDOS: 19ª pick John Collins; 41ª pick Tyler Dorsey e 60ª escolha Alpha Kaba.

COMO OS CONSEGUIRAM: Collins veio através de uma escolha do próprio Atlanta. Já as de segunda rodada partiram de trocas. A sexagésima e última escolha pertence ao campeão, Golden State, através de uma troca com o 76ers. A quadragésima primeira veio de uma das transações mais interessantes; o Hawks enviou Dwight Howard e a trigésima primeira escolha, e recebeu, além daquilo que virou Tyler Dorsey, Miles Plumlee e Marco Belinelli.

COMO ENCAIXAM: As escolhas de segunda rodada não têm tanto hype, mas são os riscos típicos que as franquias se permitem correr nesse momento do draft. Tyler Dorsey é um pontuador nato, um desses “riscos” que vale à pena, liderou a Universidade de Oregon para um Final Four na NCAA e se provou um grande perigo no arremessos de três, ficam as dúvidas por conta da falta de velocidade, mas é muito bem vindo num time que pode precisar de pontuação saindo do banco. Quanto a Alpha Kaba, basicamente um stash para ficar de olho no basquete europeu. O ala-pivô francês não tem materiais de excelência em seu jogo, além de pouca atenção ao posicionamento, mas, ao mesmo tempo tem aspectos regulares como seu atleticismo e os chutes próximos a cesta; o destaque fica mesmo pela parte física, 2,08m de altura e surreais 2,26m de envergadura.

O destaque do Hawks ficou pela troca. Com as estrelas debandando, sendo Paul Millsap a mais recente, foi necessário se livrar do salário grande e não correspondente de Howard e buscar um jogador de garrafão que pudesse contribuir imediatamente. Se era isso que queriam, John Collins está aí, um dos possíveis steals desse draft, na décima nona posição. Segundo-anista de Wake Forest, era cotado como uma escolha de loteria. Um ótimo atleta, prolífico em rebotes e tocos, além de uma boa qualidade pontuando na parte pintada. Ele terminou sua temporada com 19.2 pontos e 9.8 rebotes. Prestes a completar 20 anos, ainda há bastante espaço para evoluir seu jogo mais longe da cesta.

NOTA: Nada espetacular nas seleções de segunda rodada, exceto se Dorsey puder colocar sua pontuação num nível acima. John Collins, porém foi uma aposta certeira, é verdade que deixaram passar alguns outros bons prospectos da posição como Jarrett Allen e Harry Giles, mas quem sabe ele possa escrever sua história como um All-Star no futuro. Vale uma nota seis, pelas incertezas.

Boston Celtics

Talvez o melhor pontuador no 1 vs 1 da classe (Foto: Divulgação/Duke University)

ESCOLHIDOS: 3ª pick Jayson Tatum; 37ª Pick Semi Ojeleye; 53ª Kadeem Allen e 56ª Jabari Bird.

COMO OS CONSEGUIRAM: Todos os nomes que apareceram ao lado do escudo celta são resultados das mirabolantes trocas de Danny Ainge. Tatum é fruto da troca da primeira escolha, a qual eles possuíam via Nets, pela terceira escolha do 76ers e mais uma escolha valiosa de primeira rodada. As escolhas de segunda rodada vieram de Minnesota (via Suns), Cleveland e Lakers.

COMO ENCAIXAM: Dentro de um rol que esperava a escolha de Josh Jackson no top 3, alguns podem ter ficados surpresos. Mas conforme a data derradeira foi se aproximando, Tatum ganhou força. E até faz sentido, num time com vários jogadores proficientes na defesa, a adição de um pontuador de primeira como o ala de Duke pode funcionar. Um corpo preparado para encarar a liga, criação e arremessos certeiros à média distância, além de um atleticismo capaz de colocá-lo em situações favoráveis ao redor do aro. Fica um certo questionamento, porém, quanto ao que pode fazer além disso, é lento e pouco versátil em trocas de marcação — estamos falando de um time que quer desafiar o trono da liga, e bem… o Golden State Warriors é uma máquina de mismatchs. De qualquer maneira o Celtics está perto de conseguir uma ou duas estrelas para completar esse esquadrão, o que pode tirar um pouco da pressão de Tatum.

Na segunda rodada, a quinquagésima terceira e a quinquagésima sexta pouco fazem sentido. O backcourt em Boston é bastante povoado, com Marcus Smart e Terry Rozier como reservas de Isaiah Thomas. Allen é um armador muito capaz defensivamente, mas muito de sua capacidade para por aí; Bird, tem no máximo um nome nostálgico aos torcedores, é um ala-armador atlético e grande, porém peca em basicamente todos os outros fundamentos; são seniors que devemos ver jogando a G-League. Semi Ojeleye, por outro lado, é um dos grandes candidatos a steal no segundo round. Um exímio chutador de longa distância, além de ter força para disputar com jogadores mais altos, um pouco de faz-tudo, no ataque pelo menos. Deve contribuir bem desde já no banco da equipe. Isso se a chegada de Ante Zizic e Yabusele permitir-lhe minutos.

NOTA: O grande movimento do Celtics foi conseguir outra escolha valiosa de primeira rodada, foi um pouco confusa e olhando por certo lado pareceu até um pouco desnecessária. Mas, não se exclui o fato de que agora carregam no elenco um dos grandes potenciais dessa classe. Além de acharem um jogador de primeira rodada na segunda, em Ojeleye. Se estivesse dando decimais colocaria algo bem próximo do oito, mas ficaremos com um sete aqui.

Brooklyn Nets

Com Brook Lopez fora, terá muita minutagem e tempo para se desenvolver (Foto: Divulgação/University of Texas)

ESCOLHIDOS: 22ª pick Jarrett Allen e 57ª pick Aleksandar Vezenkov

COMO OS CONSEGUIRAM: Como bem sabemos, o Nets várias de suas escolhas de primeiro round por uma lata de Guaraná Jesus. Mas, aparentemente e lentamente, eles se colocam nos trilhos. A vigésima segunda escolha veio de Washington, e a escolha de segunda rodada é fruto da troca com o Boston.

COMO ENCAIXAM: O melhor movimento do Nets não foi no draft exatamente, e sim numa troca. Recebeu D’Angelo Russell e Timofey Mozgov em troca da vigésima sétima escolha e Brook Lopez. Um sinal claro do de que não há truques, não há estratégias megalomaníacas de ser campeão em 1 ou 2 anos. É hora de tankar. O Lakers saiu como vencedor imediato dessa troca, se livrou do contrato desnecessário de Mozgov e ganhou um pivô de repeito para seduzir All-Stars na Free Agency.

O Nets por outro lado ganhou um armador, que já provou render muito mais como ala-armador, com espaço de evolução ainda em Russell. Mozgov? O contrato é ruim, mas pouco incomoda um time que dificilmente terá de lidar com salários de estrelas nos próximos anos. Quanto aos escolhidos, ter Jarrett Allen disponível na vigésima segunda posição foi uma benção, ganharam um substituto para Lopez no garrafão logo de cara. 2,11m combinados com uma envergadura de 2,26m; é um grande atleta com credenciais defensivas, um excelente protetor de garrafão; mas precisa de bastante polimento no jogo ofensivo. Vazenkov, tem stash escrito na testa, e caso vá algum dia para a NBA, tem role player escrito na nuca.

NOTA: Depois de anos pífios e drafts amargurantes o Brooklyn parece ter feito certo. Allen é uma aposta de longa data, tem apenas 19 anos, mas dadas as circunstâncias há bastante tempo pra esperar. Foi um bom draft para a nova equipe do deus Mozgov, mas não perfeito, um seis honroso.

Charlotte Hornets

Explosão e energia no ataque, um dos pontuadores mais talentosos do draft (Foto: Divulgação/University of Kentucky)

ESCOLHIDOS: 11ª pick Malik Monk e 40ª pick Dawyne Bacon.

COMO OS CONSEGUIRAM: Charlotte trouxe Dwight Howard e aprimeira escolha da segunda rodada em troca da quadragésima sétima e dois reservas, Miles Plumlee e Marco Belinelli. Isso para trocar a escolha pela quadragésima com o Pelicans.

COMO ENCAIXAM: Uma coisa sobre ser draftado pelo Charlotte, você precisa ter feito parte de um grande programa. Michael Jordan considera que o sucesso no basquete universitário possa se traduzir em sucesso na NBA. O que vimos até agora, ao invés, foram no máximo qualificações honradas entre as últimas vagas para playoff.

Colocado isso, na décima primeira posição aconteceu o que Jordan gostaria. Uma ala-armador de Kentucky, cotado para estar no top 10, caiu para fora dele. Malik Monk é um dos melhores pontuadores da classe, explosivo nas infiltrações, apesar da pouca altura pra posição, e uma mão quente nos arremessos do perímetro podem ter dado ao Hornets uma peça que faltava para melhorar o aproveitamento nos triplos. Um ajudante imediato para Kemba Walker e Nicolas Batum, que pode tascar uma vaga ao lado deles na equipe titular. Existem ressalvas quanto ao à sua defesa e à falta de força para brigar entre os brucutus. Em Bacon, veio uma aposta fora da proposta. Chega de uma universidade pouco expressiva em conquistas. Mas se mantém dentro de algo, um atleta explosivo. Não dá pra ver muito potencial exceto um deleite para enterradas nos contra-ataques.

NOTA: Bacon não faz tanto sentido assim na quadragésima escolha, haviam melhores opções. Monk, por outro lado, foi um achado. O ala-armador foi passando, mas não escapou da loteria. Pode contribuir com pontos desde já e vê-se um material de All-Rookie Team se conectar bem seu jogo. Ainda conseguiram um pivô para proteger o garrafão na troca por Howard — a não ser que ele ainda se convença que pode ser uma estrela. Melhor draft em muitos anos para o Hornets, não ganha 7 por conta de Bacon. Um seis que pode crescer!

Chicago Bulls

Novo episódio da série: “Será ele o novo Dirk?” (Foto: Divulgação/University of Arizona)

ESCOLHIDOS: 7ª pick Lauri Markkanen

COMO OS CONSEGUIRAM: A principal troca do dia. O Bulls enviou Jimmy Butler e a décima sexta escolha por Kris Dunn, Zach LaVine e Lauri Markkanen. Mandaram também a trigésima oitava escolha por dinheiro para o Warriors.

COMO ENCAIXAM: Existem uma série de questões existenciais do ser humano. Há vida após a morte? O que é o certo e o errado? Por que lado o CatDog caga? E o quê realmente quer o Chicago Bulls?

Uma reconstrução agora não é um absurdo, um time sem peças o bastante para seduzir All-Stars, apostar nos All-Stars do futuro pode ser o mais certo. LaVine melhora a cada temporada; Dunn não viveu o hype do ano passado, mas pode melhorar; e Markkanen que chega agora na sétima escolha pode virar um excelente ala-pivô. Na verdade, em termos de talento pro futuro até existiam opções melhores, o finlandês é um especialista, com 2,13m de altura é um dos melhores e mais eficientes chutadores de três da classe. Porém, é magro e faltava um toque de qualidade no jogo de garrafão. Soma ainda o fato da existência de alguém muito semelhante no elenco, Nikola Mirotic, que por mais que possa sair, não se vê impacto imediato.

Fica ainda uma sensação de desperdício quanto a Butler. Foram-se anos desenvolvendo um dos melhores two-ways da liga, criando uma relação forte e identitária com a cidade. Para deixá-lo ir juntamente com a 16ª escolha. Para torcida resta torcer que lesões não voltem em LaVine, e que Dunn desenvolva num espaço bem-vindo.

NOTA: Para falar a verdade não me surpreenderia com esse time mandar bem. Rondo/Dunn, Wade, LaVine, Mirotic/Markkanen e Robin Lopez, é aquele line-up o qual não damos muitas bolas, mas pode surpreender. Além disso não fui fã das escolhas e a troca de Butler, por mais sentido que faça, é bisonha em termos de planejamento do passado. Há ainda o fato de darem Jordan Bell ao Warriors por um saco de chocolate guarda-chuvinha, um ala-pivô capaz de contribuir desde já e candidatíssimo a steal na segunda rodada. Corro o risco de errar, mas sou cético às decisões do Bulls, nota dois.

Cleveland Cavaliers

ESCOLHIDOS: Cavaliers não teve escolhas nesse draft

COMO OS CONSEGUIRAM: Eis o problema, não conseguiram. Preocupações maiores assolam o elenco, mas a adição de um bom valor jovem, mesmo que significasse uma quantia de dinheiro poderia ter sido bem-vinda.

COMO ENCAIXAM: Eu esperava ver o Cavs indo atrás de uma escolha de segunda rodada, é um draft profundo em talento e valeria uma aposta, nem que significasse mandar esse atleta para a G-League de início.

Uma coisa é verdade, hão preocupações maiores no atual vice-campeão. Rumores do destino de LeBron James estar no Oeste e não num novo contrato voam. O desespero não é por jogadores do futuro ou de segundo round que possam compor elenco, isso já provaram ser fazível com veteranos, a ordem aparentemente é uma troca envolvendo Kevin Love por alguma grande estrela, o que na verdade não parece tão palpável. Porém, sem James, e com poucas picks próprias para os próximos anos, Cleveland corre o risco de amargar tempos sombrios.

NOTA: Não tem como avaliar um time sem picks ou trocas, por isso isento esse tópico de nota. Mas ainda acho que valia um risco de segundo round.

Detroit Pistons

Top 3 melhores chutadores da classe, escolha essencial para Detroit (Foto: Divulgação/USAToday)

ESCOLHIDOS: 12ª pick Luke Kennard

COMO OS CONSEGUIRAM: Uma autêntica escolha de loteria de um time que está longe de ter cara de desafiante no Leste. No máximo um candidato às últimas vagas de playoff.

COMO ENCAIXAM: Mais do que dizer que eles fizeram uma excelente escolha ou uma escolha horrível , o que se pode dizer sobre a seleção de Luke Kennard na décima segunda posição é que ela preenche um espaço visivelmente necessário no elenco do Detroit Pistons.

As combinações do time simplesmente não funcionam. O treinador do time, Steve Van Gundy usa algo chamado “4-fora-1-dentro”, ou seja, Andre Drummond cuida da truculência no garrafão, enquanto os outros atletas encontram espaços no perímetro. Algo que faria sentido, caso não estivéssemos falando da terceira pior equipe no aproveitamento em bolas de três da última temporada.

Luke Kennard chega como alternativa imediata a isso. Um dos melhores, se não o melhor chutador de três da classe, que vai muito além de um especialista. Ele sabe criar seus espaços saindo de cortas-luz e alguns acreditam que ele possa desenvolver alguma habilidade na criação de jogadas para os outros. Não é um grande defensor ou atleta, mas pode contribuir bem saindo do banco.

NOTA: Além de todo o rol de habilidades, citado acima, o Pistons consegue um bom líder capaz de aguentar jogo físico intenso, perfil bastante adequado pra franquia. Foram pontuais, deixaram passar inclusive outros ala-armadores melhores avaliados, para suprir uma necessidade. Nota seis!

Indiana Pacers

Leaf pode não ser exatamente o parceiro ideal para Myles Turner (Foto: Divulgação/UCLA)

ESCOLHIDOS: 18ª pick T.J. Leaf; 47ª pick Ike Anigbogu e 52ª pick Edmond Sumner.

COMO OS CONSEGUIRAM: Além de suas duas primeiras escolhas, o Indiana pagou em dinheiro pela quinquagésima segunda. Hora de acumular jovens na esperança de um steal numa iminente reconstrução.

COMO ENCAIXAM: Paul George está fazendo as malas segundo a cobertura da mídia, a perda de capacidade não é um atrativo para renovar Jeff Teague na Free Agency e entre outras saídas possíveis. A tentativa de rodear PG13 de talento foi pífia, falhou em execução e escolha de treinador. Agora pode ser o momento de recorrer aos jovens.

No entanto, não acredito que as escolhas feitas pelo Pacers foram as mais corretas. T.J. Leaf é um bom prospecto de UCLA, inteligente, técnico e bom arremessador, teoricamente um bom complemento para Myles Turner no garrafão, mas a falta de dureza dele na defesa pode sobrecarregar as responsabilidades de Turner e atrapalhar sua evolução no ataque. Ike Anigbogu, também de UCLA, é o mais jovem dentre 60 selecionados e tem ferramentas físicas brilhantes combinando força com 2,11m de altura e mais de 2,29m de envergadura, mas a pouca experiência como titular pode afetar sua transição para o basquete profissional.

Sumner tem altura para gerenciar jogadas e comandar o ataque, armadores de 1,98m não crescem em árvores, mas a lesão que o fez perder a segunda metade da temporada por Xavier levanta dúvidas.

NOTA: O Indiana deixou escapar possíveis bons encaixes com suas escolhas, John Collins, escolhido logo na sequência de Leaf, parecia um complemento melhor à Turner. Ainda sim, há possibilidades de queimadas de língua nas escolhas. O riscos, porém, me obrigam a dar uma nota três, não acho que a franquia fez bom proveito de suas escolhas.

Miami Heat

Bastante físico e atlético, Adebayo pode ser um tilo pela culatra (Foto: Divulgação/University of Kentucky)

ESCOLHIDOS: 14ª pick Bam Adebayo

COMO OS CONSEGUIRAM: A décima quarta escolha era a única do Miami nesse draft, mesmo a de segundo round foi envolvida em trocas do passado.

COMO ENCAIXAM: Edrice “Bam” Adebayo é um dos pivôs mais atléticos de 2017. Alia altura, envergadura, força e agilidade na defesa, capaz de guardar não apenas as duas posições de garrafão, como também a ala. Seria ideal para muitos times que procuram mais segurança e shot-blockers, mas no Miami Heat não faz muito sentido. A não ser que contrarie prognósticos e desenvolva um jogo ofensivo mais longe da área pintada.

Duas torres capazes de enviar bolas na terceira fileira fariam sentido há alguns anos atrás. Com Hassan Whiteside como pivô não há novidades aparentes que Adebayo possa trazer ao time exceto marcar determinados jogadores de perímetro. Soaria melhor aproveitar a última escolha de loteria num pontuador mais consistente para complementar o jogo de Goran Dragic, afinal potência defensiva para o futuro já da pra figurar no jovem Justise Winslow.

Feitas as críticas, a ideia, pelo que se desenha com a seleção, é juntar Whiteside, Winslow e Adebayo num time que permitirá poucos pontos por jogo e dominará os rebotes. Se há algo que a temporada passada nos ensinou é que não devemos subestimar a eficiência tática de Eric Spoelstra e que um basquete centrado na defesa pode resultar em um bom time de playoff, a exemplo do Utah Jazz de Quin Snyder.

NOTA: Bam não era cotado como uma escolha de loteria e haviam outros prospectos mais interessantes que caíram posições. Justin Jackson, John Collins ou até Terrance Fergurson pareciam ser opções melhores. Podemos ver o time que menos sofrerá pontos na temporada regular, na melhor das hipóteses, ou, na pior, um tremendo desperdício da décima quarta escolha. Nota quatro, isso se Spoelstra provar o contrário.

Milwaukee Bucks

Wilson chega para suprir necessidades, não para ser uma estrela (Foto: Divulgação/University of Michigan)

ESCOLHIDOS: 17ª pick D.J. Wilson e 46ª pick Sterling Brown

COMO OS CONSEGUIRAM: Numa série de trocas envolvendo escolhas de segunda rodada o Milwaukee conseguiu Sterling Brown. Fora isso possuía apenas picks próprias. A décima sétima e a quadragésima oitava, enviada para o Clippers por dinheiro.

COMO ENCAIXAM: O Bucks não foi mirabolante, não foi ousado ou correu riscos. Olharam para as peças que têm em mãos, com Khris Middleton, Jabari Parker, e obviamente, Giannis Antetokounmpo, e escolheram aqueles que podem complementá-los. Novamente, na décima sétima posição, haviam bons big men para a mesma tarefa, mas D.J Wilson não é uma má escolha.

Com os três jogadores da franquia citados acima o time só precisava de algumas coisas certeiras. Um garrafão mais consistente capaz de pegar rebotes, defender bem e se possível espaçar para arremessos mais longos para quando Giannis estiver atravessando a defesa adversária como um Pterodátilo. Wilson cabe exatamente nessa descrição. Ele possui um arremesso emergente, mas ainda precisa desenvolvê-lo, porém pontuação não será o foco por enquanto.

E se 3-and-D — bola de três e defesa — é a ordem nas escolhas do Bucks, não foi diferente com Brown. Um chutador de quase 45% de aproveitamento em sua última temporada, além de tenacidade e agressividade defensiva atrativas.

NOTA: O draft de Milwaukee foi muito mais consistente do que o de muitas equipes com escolhas mais altas ou necessidades maiores. Wilson pode virar uma boa arma em um time que já provou ser eficiente em suas escolhas nos últimos anos e Brown tem tudo pra ser um role player valioso. Nota seis, não foi perfeito, mas foi muito bem.

New York Knicks

Georginho que come croissant? Aposta arriscada na 8ª escolha (Foto: Divulgação/SIG Strasbourg)

ESCOLHIDOS: 8ª pick Frank Ntilikina; 44ª pick Damyean Dotson e 58ª pick Ognjen Jaramaz.

COMO OS CONSEGUIRAM: Além de sua própria oitava escolha, o Knicks possuía duas escolhas de segundo round produto de trocas passadas, a quadragésima quarta, via Bulls, e a quinquagésima oitava, via Houston.

COMO ENCAIXAM: Se Phil Jackson pudesse dizer algo para você, para o fã num geral e para a mídia seria “Estou cagando pra sua opinião!”. Sabemos que o lendário treinador e agora presidente executivo da franquia não tem medo de correr risco em suas escolhas. Seja Kristaps Porzingis, seja a tentativa de montar um supertime com jogadores duvidosos, seja agora escolhendo Frank Ntilikina na oitava posição.

O que falamos sobre Georginho de Paula como prospecto na NBA é o que podemos falar de do armador francês, porém numa dimensão mais bem moldada por agora. 1,98m de altura e 2,16m de envergadura, ferramentas assustadoras em um armador que podem transformá-lo num verdadeiro terror defensivo. Ainda sim, com o privilégio da oitava escolha, existiam muitos outros que poderiam contribuir desde já com atuações defensivas, ou agirem como facilitadores para Porzingod — isso se Jackson não decidir trocar o letão.

As escolhas de segunda rodada dividiram opiniões. Jaramaz tem cara e corpo de stash, tem muitos fundamentos para desenvolver, principalmente o arremesso inconstante e lento. Dotson é uma grande dúvida, tem tamanho, atleticismo e bom arremesso, poderia surpreendentemente roubar a posição de Courtney Lee como ala-armador titular, mas os problemas extra-quadra preocupam. Dotson foi desligado do programa da Universidade de Oregon, acusado de estuprar uma aluna — a investigação alegou não haver provas suficientes para condená-lo. Porém, jogando por Houston, comprovou que pode produzir como atleta.

NOTA: Eu diria que Jackson arriscou mais do que precisava, em todas as suas seleções no draft. Ntilikina pode virar um excelente armador, como virar apenas um 3-and-D regular. Quanto aos outros, há uma grande possibilidade de que caso não escolhidos passariam batidos o resto do draft, beirou ao desperdício de escolhas. Vale um quatro, pois gosto do que Ntilika pode virar, fosse mais cético a essa evolução daria um 1.

Orlando Magic

Um dos maiores tetos de evolução da classe, pro vezes comparado a Paul George e LeBron James (Foto: Divulgação/Florida State University)

ESCOLHIDOS: 6ª pick Jonathan Isaac e 33ª pick Wesley Iwundu

COMO OS CONSEGUIRAM: O Orlando foi um dos times mais ativos em trocas no draft, mas sem fazer grandes transações. Trocaram a vigésima quinta escolha para o 76ers (Ansej Pasecniks) por uma escolha de 2020 do OKC e uma escolha de segundo round de 2020; e trocaram escolhas de segundo round com o Memphis, sua trigésima quinta por uma de 2019. Fora isso aproveitou o que já tinha nas duas seleções.

COMO ENCAIXAM: Jonathan Isaac na sexta posição foi simplesmente o encaixe perfeito para as necessidades pra franquia da cidade do Mickey. Orlando tem titulares compreensíveis em todas as posições exceto na ala. Até houveram intenções e tentativas de colocar Aaron Gordon na posição, mas não funcionou.

Jonathan Isaac é alto e atlético demais para seu tamanho, 2,11m, podendo jogar tanto na ala, como abrir na ala-pivô. Muitos o indicam como o jogador com maior teto de evolução da classe, tanto pelo físico quanto às habilidades gerais, as quais precisa evoluir um pouco. Comparam-no muito a um Brandon Ingram pré-draft de 2016, talvez até com mais espaço de crescimento. Dito isso, ele é uma aposta, precisa desenvolver muito mais suas qualidades para algum dia alcançar o estrelato, mas vale a aposta na 6ª escolha.

Iwundu é outro complemento às necessidades na ala, mas longe do que se espera de Isaac. Ele é uma presença defensiva capaz de guardar diversas posições. Colocando na balança que os outros dois na posição são Isaac e Terrence Ross, uma adição para proteger a retaguarda é bastante interessante.

NOTA: Boas escolhas para o Magic, supriram a posição mais defasada com contratos de calouro. Sendo que um desses calouros é um dos mais promissores de uma classe muito aguardada. Ano a ano pensamos que Orlando finalmente vai dar alguma liga entre seus jovens, talvez Isaac possa ser a peça certa para isso, não agora, mas quem sabe à longa data. Nota sete.

Philadelphia 76ers

Melhor jogador da classe por consenso, um pontuador sobrenatural! (Foto: Divulgação/University of Washington)

ESCOLHIDOS: 1ª pick Markelle Fultz; 25ª pick Anzejs Pasecniks; 36ª pick Jonah Bolden e 50ª pick Mathias Lessort.

COMO OS CONSEGUIRAM: Nenhuma das escolhas que resultaram nesses atletas pertenciam necessariamente ao 76ers. A primeira veio da troca com o Celtics, pela terceira escolha e uma super protegida de 2018 do Lakers, ou de 2019 do Kings, ou do 76ers (a mais favorável desde que não seja a primeira). A vigésima quinta veio do Magic, por uma escolha de primeiro round de 2020 do Thunder, protegida top-20, e uma escolha de segunda rodada de 2020. Já as escolhas de segunda rodada, a 36ª e a 50ª vieram de trocas antigas, sendo a primeira do Knicks, adquirida numa troca via Jazz, e a segunda via Hawks.

COMO ENCAIXAM: Markelle Fultz parece ser a peça incontestável que faltava aos pilares jovens do time, é, pelo menos imediatamente, o melhor prospecto ofensivo desse draft em diversas dimensões. Foi o primeiro calouro em toda a história da conferência em que jogou na NCAA a colocar médias de 20+ pontos, 5+ assistências e 5+ rebotes. Na situação ideal em que todo o exército jovem de Philadelphia esteja saudável, um time titular formado por Fultz, Ben Simmons, Dario Saric e Joel Embiid têm tudo para aterrorizar a liga daqui há alguns anos. Seria esse o passo final do “Processo”?

Pouco se falou nas escolhas seguintes da franquia, que são deveras interessantes. Basicamente foram atrás de pivôs e alas-pivôs, o que dá indicações cada vez mais fortes de uma possível troca envolvendo Jahlil Okafor. Anzejs Pasecniks formou um garrafão talentoso no mundial sub-18 anos atrás pela seleção da Letônia, ao lado de um tal de Kristaps Porzingis, e é uma combinação interessante de um gigante de 2,16m com técnica e atleticismo acima da média para o tamanho; apesar de saber matar algumas bolas a distância, o poste ainda impera no seu jogo. Jonah Bolden é um ala-pivô capaz de jogar em pelo menos três posições — pivô e ala também estão em seu repertório — , um bom chutador com boa habilidade no passe. Mathias Lessort é outro cara grande e versátil, porém ainda precisa desenvolver melhor o seu jogo, baseado bastante em atleticismo e energia.

O garrafão do 76ers é uma posição lotada de bons prospectos. Por isso será difícil vê-los fazer parte desse time. Em casos como o de Lessort, evoluir mantendo-se na Europa seria uma boa opção. Já Anzejs, tem mais um ano de contrato com o Gran Canaria, da Liga Espanhola, e mais uma opção do time em estendê-lo, boa oportunidade para crescer como jogador e para Philadelphia observar o valor de sua escolha.

NOTA: Tanto trocas, quanto escolhas, a franquia se manteve no plano e foi atrás da melhor opção para formar o possível supertime do futuro. Além de fazer apostas que podem resultar em excelentes role players. Não consigo pensar em algo diferente do máximo.

Toronto Raptors

Anunoby tem potencial de steal (Foto: Divulgação/Sports Illustrated)

ESCOLHIDOS: 23ª pick OG Anunoby.

COMO OS CONSEGUIRAM: Sem escolhas próprias em 2017, o Raptors se agarrou na vigésima terceira que tinham, via Clippers. Eles tinham duas opções, porém como parte de uma troca com o Orlando, a menos favorável iria para o Magic, que acabou sendo a vigésima quinta.

COMO ENCAIXAM: Algo perceptível sobre esse draft, exceto algumas performances duvidosas a maioria dos times aproveitou bem a profundidade dos talentos para reforçar suas necessidades ou apostar em steals. O raptors se enquadra nas duas.

No vice-campeão da Conferência Leste de 2015–16, a posição mais frágil era a ala e com sua única seleção eles, aparentemente, a cobriram. Anunoby levanta o mesmo ar que Harry Giles, um jogador muito promissor com a temporada interrompida por uma lesão. Com a possibilidade de virar algo além, as principais características que o colocaram como escolha de primeira rodada é sua defesa muito acima da média. Seja guardando posições mais baixas, seja usando seus talentos atléticos para bloquear chutes no garrafão, ele pode ser de grande ajuda para os canadenses assim que se recuperar.

Na posição temos Norman Powell, P.J. Tucker e Demarre Carroll. O último seria titular não fosse um recipiente de lesões. Anunoby terá bastante tempo para desenvolver seu jogo ofensivo, considerando que não precisará pontuar desde já com Kyle Lowry, DeMar DeRozan, Serge Ibaka e Jonas Valciunas tomando conta dessa parte. Ah! E talvez o fator mais importante para amá-lo, ele usa shorts de jogo curtos, no melhor estilo anos 80.

NOTA: Escolha inteligente e com potencial futuro . Jogadores com histórico de lesão na universidade preocupam um pouco levando em consideração o nível exaustivo da NBA, mas na situação ideal, o Raptors arranjou algo bom à longo prazo. Nota sete.

Washington Wizards

ESCOLHIDOS: Juntamente com Cleveland, o Washington foi a única equipe a não selecionar no draft

COMO OS CONSEGUIRAM: A quinquagésima segunda escolha que o Pelicans enviou ao Indiana em troca de dinheiro originalmente pertencia ao Wizars. Porém, no dia anterior ao draft Washington a despachou em troca de Tim Frazier.

COMO ENCAIXAM: Diferentemente, do Cleveland, é possível atribuir uma nota simbólica ao time de John Wall avaliando a troca. A troca teve objetivo imediato, profundidade na armação saindo do banco. Tim Frazier é um armador tradicional, um general de quadra que conduz jogadas e cria para os outros quatro pontuarem. Ele tem uma relação assistência x turnover muito boa, nos seus últimos 15 jogos ao lado do monosselha ele distribuiu 76 assistências e cometeu apenas 10 erros no total.

Ficou claro que a franquia da capital norte-americana sequer queria participar desse draft, suas únicas peças que renderiam escolhas de primeira rodada no draft eram dois titulares indipensáveis, Bradley Beal e John Wall, e Otto Porter, que demonstra sinais de evolução e é um dos melhores 3-and-Ds da liga. As tentativas para achar um reserva para Wall ao longo dos últimos anos foram falhas, Trey Burke e Brandon Jennings foram as mais recentes. Frazier, por não ter o mesmo hype que as anteriores pode corresponder bem. Mas, talvez fosse possível consegui-lo sem ceder sua escolha, que foi posteriormente trocada por dinheiro.

NOTA: Washington não fez, necessariamente, errado, mas pareceu um pouco precipitado e perdido. Talvez utilizar sua escolha para buscar um jogador mais atlético na segunda rodada, ou um stash que seja, e trocar algum de seus outros reservas por Frazier poderia ser o mais indicado. Nota cinco pelo afobamento.

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