Guia NBA — Charlotte Hornets: Kemba Walker e a identidade na colmeia

Felipe Haguehara
buzzerbeaterbr
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6 min readOct 16, 2016

Entra ano, sai ano, e a única certeza de consistência é o armador

O caminho da identidade passa por Walker (Keith Allison/Flickr)

Curiosamente duas equipes vinda da expansão da NBA de 1988 acabaram com o mesmo recorde temporada passada. Se por um lado o Miami Heat (do qual falamos ontem) passa por uma transição em sua curta e vitoriosa história,o Charlotte Hornets passa por um momento de busca de uma identidade definitiva e separada do fracasso de seu nome anterior.

Algo semelhante, na verdade, ao Denver Nuggets, a vontade na franquia de Michael Jordan é achar uma referencialidade no time e na cidade, estabelecer ídolos. A diferença está primordialmente no passado. A mudança de nome, recentemente, se deu por conta do mal histórico sob a alcunha de Charlotte Bobcats, quando foram capazes de estabelecer o pior registro de vitórias em uma temporada na história da NBA (na temporada pós-locaute, em 2011, registraram uma porcentagem de 10.6% de vitórias nos 66 jogos).

Porém, a realidade hoje não é mais de azarão. A consistência nas últimas temporadas, de no mínimo desafiar as posições de playoff, tiraram o time de um limbo. A fanbase ainda é pequena, mas já têm um referencial que carrega o nome da franquia. O basquete explosivo de Kemba Walker, cada vez mais coloca o time no mapa, tem-se o sentimento de: “temos nosso clutch”. Mas o passo ao sucesso parece ainda meio longe.

Na verdade, aparentemente, alguns passos foram dados para trás em relação ao ano anterior.

COMO FOI NA TEMPORADA PASSADA

A temporada passada foi deveras surpreendente, principalmente se lembrarmos da cambaleante temporada 2014–15, recheada de lesões em suas principais peças.

A atuação no mercado e na free agency foi fundamental para a montagem de um time que pudesse cercar um Walker saudável. Peças fundamentais e titulares chegaram. Nicolas Batum, Jeremy Lamb, Courtney Lee e Jermey Lin, não forão trazidos no status de estrelas. Os três primeiros chegaram para cumprir a deficiência no perímetro que se concentrava muito no armador titular. O último, mesmo muito contestado por suas temporadas anteriores, chegou para garantir uma maior profundidade no elenco quando fosse preciso uma segunda opção no drible.

O sucesso que foi o casamento dessas peças e a confirmação de Walker como um dos grandes armadores da liga, surpreendeu mesmo os mais otimistas.

Nem tanto Lamb, mas Batum mantive a consistência pela qual é conhecidos. O francês foi o segundo cestinha da equipe com 14.9 pontos por jogo,além de ser sólido nos rebotes e assistências, 6.1 e 5.8, respectivamente. Lee, que chegou na segunda metade da temporada (trocado por P.J. Harriston com o Memphis Grizzlies), foi eficiente na movimentação achando bons espaços para matar os triplos, nas 28 partidas jogadas teve cerca de 30 minutos de jogo e matou 39.2% de suas bolas de três.

Porém, o que determinou o sucesso do time foi uma volta à boa forma de Marvin Williams; a inesperada evolução de Cody Zeller (parou-se de chamá-lo de o gêmeo ruim); e uma das melhores temporadas da carreira de Lin.

Linsanity foi um dos melhores sextos-homens da liga, com médias de 11.7 pontos, 3.0 pontos e 0.7 roubos de bola, ele não foi o reserva máquina de estatísticas. Mas foi fundamental na dupla que fazia volta e meia com Walker na armação, oferecendo uma segunda opção de drible eficaz, quando o armador titular estava saturado pela marcação.

O QUE MUDOU?

As idas do elenco foram um tanto quanto cruéis para o Hornets. Muitas das peças fundamentais foram embora.

Courtney Lee foi compor o “supertime” do New York Knicks, Lin foi saborear a titularidade no Brooklyn Nets, e Al Jefferson foi fazer parte do talentoso entorno de Paul George no Indiana Pacers.

Das peças eficientes da temporada passada, mantiveram-se apenas Batum, e as pratas da casa Walker, Williams e Cody Zeller. O problema do que sobrou não é o time titular, mas o banco.

Enquanto as opções de reservas na temporada passada eram melhor aproveitáveis e menos arriscadas, as de hoje são mais difíceis do que achar a tampa de caneta que você deixou cair no chão. Foi trazido Roy Hibbert foi trazido para substituir Jefferson, mas sabemos do quão arriscado é no indisciplinado pivô. Frank Kaminsky não foi efetivo na sua temporada de calouro, esperava-se alguém capaz de jogar tanto dentro quanto fora do garrafão, mas sua falta de atleticismo o fez ser engolido por pivôs mais ágeis em muitos momentos.E Ramon Sessions pode até ser confiável, mas não na qualidade de um sexto-homem, o que pode acabar sobrecarregando Walker.

Kidd-Gilchrist, provavelmente voltará à titularidade. Enquanto antes o ala era preterido por Batum, Williams ou P.J. Harriston na posição, a ausência de titulares potenciais e essenciais nas posições 2 e 4, fazem os dois primeiros serem empurrados para essas posições (Williams no ala-pivô e Batum no ala-armador). O membro da mesma classe de Damian Lillard e Anthony Davis ainda não conseguiu firmar uma papel na NBA, e boas atuações serão fundamentais se Charlotte quiser voltar à pós-temporada.

NOSSA OPINIÃO

O Hornets é uma equipe, como dito no começo, ainda sem muita identidade e com uma fanbase bem tímida. Durante as 26 temporadas de sua história jogou apenas 10 playoffs. Obviamente não é fácil montar um time campeão e histórico do nada (afinal, não estamos falando de um filme sessão da tarde).

Algo engraçado sobre a equipe é que sua marca e seu logo são relativamente populares no Brasil. É bastante fácil ver bonés e acessórios da franquia nos solos tupiniquins. Não, necessariamente, por suporte ao time, mas por um interesse estético.

Isso talvez seja um problema,o time carrega a mancha do Bobcats em sua história, um período pouco louvável. A mudança dessa carga negativa passa agora por Kemba Walker. O sucesso de ultimamente do armador quanto à estatísticas e atuações tem relevado o time. Trazendo mais a realidade de “esse é um time da NBA” do que “ah, a franquia do Michael Jordan, né?”.

Particularmente, gosto da explosão do armador, ele tem uns dos crossovers e hesitations (drible co alteração de velocidade) mais letais. Sua melhora foi louvável, passou de 17.3 pontos para 20.9, de 3.5 rebotes para 4.4, de 1.4 roubos de bola para 1.6; tudo no espaço de 2014–15 para 2015–16.

A intenção com o time montado ano passado era que, gradualmente, suas responsabilidades com a bola na mão fossem reduzidas. Com as trocas e a atuação nada proveitosa na free agency não parece que isso mudará, no máximo, veremos Marvin Williams se arriscando na armação de vez em quando. Mas tudo continuará centrado em Walker, que temporada passada já foi o 3º lugar da liga em minutos jogados.

Com o elenco limitado o Hornets pode amargar sua inconsistência histórica, sua maior série de playoffs foi de três temporadas seguidas, nada espetacular. Mas ainda é possível manter-se relutante quanto ao fracasso do elenco montado. É assim que era visto ano passado, ou seja, o surpreendente pode voltar a acontecer!

O time titular é algo bem certo. Kemba, Batum, Kidd-Gilchrist, Marvin Williams e Cody Zeller. A linha de guards é bastante sólida e não deve sofrer muito com lesões. Diferentemente, os forwards e centers são disfunção da balança,o histórico de Williams e Kidd-Gilchrist pode prejudicar a campanha do time; já Cody Zeller vive recorrentes problemas no joelho, que por sinal já é dúvida para o começo, assim, Roy Hibbert deve ganhar espaço, mas o gênio difícil de controlar do pivô pode trazer problemas internos.

De qualquer maneira ainda aposto num Hornets surpreendendo e no mínimo dificultando a acirrada briga pelo oitavo lugar que é jogar a conferência Leste.

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