Liga de Desenvolvimento é a chave para o futuro do NBB e do basquete brasileiro

Heitor Facini
buzzerbeaterbr
Published in
6 min readMar 29, 2017

Com seis edições realizadas, o torneio já mostra frutos

Alexey, Davi Rossetto e João Pedro já são realidades oriundas da LDB (Ilustração: Heitor Facini/Buzzer Beater)

Na recente edição do Jogo das Estrelas do NBB, realizada no dia 19 de março no ginásio do Ibirapuera, entre desafios de três pontos, habilidades e enterrradas, um grupo de 7 jogadores tinha algo em comum. Alexey (Franca), Davi Rossetto (Basquete Cearense), Deryk (Brasília), Gui Deodato (Bauru Basket), Lucas Mariano (Brasília), Georginho (Paulistano) e Danilo Siqueira (Minas) são crias da Liga de Desenvolvimento de Basquete, a LDB.

A liga foi criada em 2011, inicialmente sub-21 e chamada Liga de Desenvolvimento Olimpica. No ano seguinte, em 2012 ela mudou para o nome que tem hoje e para o formato que se mantém, sub-22.

Os times que participavam da LDB eram os que participavam do NBB. Tudo isso foi feito junto com um convênio com o Ministério do Esporte que durou da segunda até a quinta edição. Ao todo foi investido aproximadamente R$ 16 milhões. Mas, para a edição do ano passado, esse convênio não foi realizado por conta do alto investimento olímpico. Por isso, muitos times não tiveram condições de manter a equipe na LDB e a competição ficou mais enxuta.

Na época do lançamento do campeonato, Kouros Monadjemi, então presidente da Liga Nacional de Basquete, a LNB, destacou a importância do campeonato. “Este projeto é para vocês, jovens atletas e nossos futuros ídolos. É preciso criar novos ídolos e são vocês que irão preencher essa lacuna. Em 2016, são vocês que irão nos representar nas Olimpíadas”.

“É preciso criar novos ídolos e são vocês que irão preencher essa lacuna” — Kouros Monadjemi, ex-presidente da LNB

Frutos da Liga

Ele estava certo por um ponto. Cristiano Felício, que disputou a LDB de 2011 a 2014 (uma vez pelo Minas e duas vezes pelo Flamengo) e inclusive foi eleito o jogador mais efetivo do torneio em 2014 participou das últimas olimpíadas em 2016. Mas ainda nessa edição, a seleção estava recheada de medalhões. Felício foi apenas convocado quando Anderson Varejão foi cortado da competição.

Cristiano Felício, em ação pelo Minas na LDB de 2011 (Caio Messias/LNB)

Aliás, Felício também conseguiu uma vaga na Liga de Basquete Norte-Americana, a NBA. Ele é atualmente pivô do Chicago Bulls, disputou 93 jogos, com 4.4 pontos, 2.6 rebotes e 14.1 minutos de média. Só que ele não foi o primeiro filho da LDB a voar nas terras do Tio Sam. Bruno Caboclo foi escolhido na 20ª colocação do Draft de 2014. A questão é que ele nem passou pela NBB, foi direto da liga de desenvolvimento para a NBA. Lá ele está com menos sucesso que o conterrâneo, disputou apenas 22 jogos, com 0.7 pontos, 0.5 rebotes em 4 minutos em média por partida. Lá ele passa mais tempo na liga de desenvolvimento deles, a D-League. “ A LDB é um dos melhores campeonatos que temos no basquete brasileiro e ela é uma vitrine não só aqui no país mas como no exterior também”, exaltou Caboclo em entrevista ao site do NBB.

Ao todo, de acordo com levantamento da própria LNB, afirma que 101 jogadores revelados na competição disputaram o NBB. Na última edição do campeonato principal, 43,2% dos jogadores vieram da Liga de Desenvolvimento. “Nós queremos aumentar cada vez mais esse número. O objetivo é a formação de novos jogadores que possam não só jogar no NBB mas como também representar a Seleção Brasileira”, disse João Fernando Rossi, atual presidente da liga no anuncio de uma parceria com a Nike nesse ano.

“O objetivo é a formação de novos jogadores que possam não só jogar no NBB mas como também representar a Seleção Brasileira” — João Fernando Rossi, presidente da LNB

Davi Rossetto surgiu na Liga de Desenvolvimento e hoje é destaque na NBB (Divulgação/NBB)

Davi Rossetto, armador titular do Basquete Cearense e escolhido pelo segundo ano consecutivo para o time Brasil do Jogo das Estrelas é uma das crias da Liga de Desenvolvimento. Aliás, não apenas uma das crias, como o vencedor da edição 2014 e ganhou o título de MVP das finais. “A Liga de Desenvolvimento tirou um pouco esse hiato que tinha entre a categoria de base e a categoria adulta. E além da parte de quadra, do atleta se acostumar a jogar, é importante o efeito mental, o ganho de confiança que o atleta tinha” opina Davi.

Ele ainda complementa dizendo que a NBB ficou mais renovada com o campeonato. “A LDB permitiu a renovação dos nomes no campeonato, são vários caras novos no NBB. A idéia é essa, que a gente aprenda com os mais velhos, mas vá também tendo mais e mais responsabilidades”, encerrou.

É a mesma opinião que sustenta Wesley Alves da Silva, o Mogi, ala do Paulistano. “Antigamente o atleta parava antes de ir pro adulto. Era dificil conseguir a oportunidade no time principal e os jogadores acabavam desistindo no meio do caminho. Agora não, ele tem oportunidade de mostrar o seu potencial”, afirma. “É extremamente importante para o basquete no Brasil”.

“A idéia é essa, que a gente aprenda com os mais velhos, mas vá também tendo mais e mais responsabilidades” — Davi Rossetto, armador do Basquete Cearense

A experiência em Franca

Na última edição da Liga de Desenvolvimento, o Franca, em parceria com o Sesi, foi consagrado o campeão. Com uma campanha irretocável, sem perder nenhum jogo. Daquela equipe, Alexey, Cassiano, Antônio, Du Sommer e João Pedro estão tendo papéis importantes na equipe principal nessa temporada. Além deles, Henrique Coelho, pelo Minas e Uberlandia, e Cauê Borges, pelo Minas e próprio Franca, já passaram pela LDB. São 7 jogadores na rotação do elenco principal que passaram pela LDB.

Tudo isso é exaltado por Daniel Wattfy, treinador da equipe sub-22 campeã do ano passado. “Acredito que a Liga de Desenvolvimento pode ser considerada uma das maiores conquistas da LNB! Tem uma importância única no surgimento e capacitação de novos talentos, além de ser um grande laboratório para técnicos e árbitros, entre outros”, afirma.

“Tem uma importância única no surgimento e capacitação de novos talentos, além de ser um grande laboratório para técnicos e árbitros” — Daniel Wattfy, treinador Sub-22 do Franca

Alexey era o armador titular daquela conquista e hoje é o armador titular da equipe principal. Ele vem tendo 9.9 pontos de média e 5.6 assistências — quarta melhor marca em todo o campeonato. “Eu acho perfeita [a iniciativa da LDB], a melhor das iniciativas que a Liga teve. Antes quando o jogador estourava 19 anos, ou conseguia jogar no profissional ou saia do basquete. Agora com a LDB tem a oportunidade de desenvolver até os 22”, afirma.

Du Sommer, João Pedro, Antonio e Alexey hoje brilham no time principal do Franca (Divulgação/LNB)

“Eu acho perfeita [a iniciativa da LDB], a melhor das iniciativas que a Liga teve” — Alexey, armador de Franca

João Pedro foi eleito o melhor jogador daquela competição. E, após ter subido ao time principal, vem tendo um bom ano. São 5.5 pontos, 3.1 rebotes e uma atuação nesse ano com 18 pontos contra o Campo Mourão. “A LDB é extremamente fundamental na formação de atletas. Ouço falar que antes de surgir um campeonato dessa faixa etária, a transição da base pro adulto era muito mais difícil, pois assim que você estourava o limite de idade do sub 19, já teria que jogar contra jogadores adultos, e muito mais experientes. Muitos atletas acabaram desistindo, e a LDB veio para ajudar na formação de jogadores, e revelar nomes de peso no cenário nacional e internacional”, afirmou o jogador.

--

--