NBA Awards: o foco do basquete é cada vez mais no entretenimento

Heitor Facini
buzzerbeaterbr
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8 min readJun 27, 2017

Russell Westbrook, James Harden e Kawhi Leonard batalharam pelo título de MVP. Mas o grande vencedor é o espetáculo

Três jogadores ou três astros?

No dia 1 de Novembro de 2016 a Assessoria de Imprensa da NBA divulgou que os seus prêmios da temporada 2016–17 seriam distribuídos de forma diferente que os anos anteriores. Ao invés de uma simples coletiva de imprensa durante os playoffs, sem cerimônia alguma, um evento faraônico seria realizado.

Drake traz o mundo das celebridades para a NBA

A data foi definida: 26 de junho de 2017. Ou seja, 13 dias depois que o campeão da NBA foi definido, 4 dias depois da escolha dos novatos da próxima temporada. Para se ter uma noção, nenhum dos candidatos a melhor jogador estava nas finais. Kawhi Leonard não disputa um jogo há 1 mês e 12 dias, James Harden há 1 mês e 15 dias e Russell Westbrook não joga uma partida há 2 meses e 1 dia. “Eu me sinto mal que as pessoas tenham tido que esperar”, declarou o comissário Adam Silver ao “Full 48” podcast do Bleacher Report. “Mas, levando em conta minha experiência de 25 anos, eu nunca gostei da maneira que os prêmios eram distribuídos durante os playoffs”.

Bom, Adam quis então glamourizar os prêmios. O rapper Drake foi o convidado para ser o primeiro apresentador do NBA Awards. Foram divulgados durante os playoffs os três finalistas a cada um dos prêmios individuais e foram adicionados mais prêmios para serem votados por fãs nas redes sociais como Melhor Estilo, Toco, Assistência, Enterrada, Game Winner, Atuação e Momento nos Playoffs. Tudo para aumentar a exposição e a interação com o público.

A cerimônia foi extremamente Oscarizada.

Malcolm Brogdon, do Milwaukee Bucks, foi o rookie do ano; Eric Gordon, do Houston Rockets, foi o sexto homem; Giannis Antetokounmpo, do Milwaukee Bucks, foi o jogador que mais evoluiu; Mike D’Antoni, do Houston Rockets, foi o melhor técnico; Draymond Green, do Golden State Warriors, foi o melhor defensor; e, por fim, Russell Westbrook, do Oklahoma City Thunder, foi o MVP da temporada. Mas, o vencedor disso tudo foi o entretenimento. E, consequentemente, o espetáculo da NBA e seu poderio financeiro.

Um triplo dupoo de média não é para qualquer um.

NBA aumenta seus ganhos porque aumenta os ganhos dos parceiros

“A principal razão para a criação de um evento assim é financeira”, opina Edson Hirata. Ele é Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, ex-técnico do time de basquete de Campo Mourão, onde também foi presidente. Ele pesquisa sobre temas relacionados a mercantilização do basquete brasileiro. “Inspirado no Oscar ou na premiação da FIFA, reunir celebridades é uma forma de atrair a atenção da mídia. Assim a premiação se torna um produto fácil de ser vendido a patrocinadores”.

A verdade é que o basquete, graças a mídia, se tornou um produto extremamente rentável. Em 2014 a NBA firmou um acordo multimilionário de direitos televisivos por US$ 24 bilhões num contrato que durará até 2025. Por ano, se antes recebiam US$ 930 milhões passaram a receber US$ 2 bilhões e 600 mil. O contrato passou a valer nesta última temporada, por isso os salários subiram absurdamente. Por isso essa mudança na premiação aconteceu nesta temporada.

“A principal razão para a criação de um evento assim é financeira” -Edson Hirata, professor da UTFPR

E há uma razão para as TVs colocarem caminhões de dinheiro no basquete — ele dá retorno. Desde 1998 um jogo de final não era tão assistido como foi o segundo dessa temporada. Quando o Golden State Warriors venceu o Cleveland Cavaliers 19,6 milhões de pessoas estavam em frente as suas telas para assistir o jogo. Desde 1998 não havia tantos espectadores acompanhando a NBA, quando 23,2 milhões de espectadores estavam vendo Michael Jordan e Chicago Bulls vencer o Utah Jazz na segunda partida.

Essa temporada trouxe de volta o telespectador para frente da TV.

“A premiação da NBA deste ano segue uma lógica: um produto sofisticado para suprir uma demanda”, é isso que opina Luiz Alberto Pilatti, reitor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e professor do curso de Educação física. “Desde o início da transmissão televisiva o esporte se transformou em espetáculo. Assim, passou a se comercializar esse espetáculo e maximizar ao máximo do lucro obtido com ele. Com essa lógica, no curto prazo, os valores dos direitos de transmissões esportivas foram se elevando até, em muitos casos, atingirem valores fora da realidade (superestimados), o que produziu transformações na própria dinâmica da prática. Passou-se a demandar espetáculos cada vez mais sofisticados para que os mesmos conquistassem consumidores e espaço midiático”, concluiu.

No Brasil, a ESPN seguiu a mesma linha. De 2014/15 para 2015/16 a audiência dos playoffs subiu 75%. O crescimento continuou para 2016/17, em que o aumento foi de 64% em relação ao mata-mata da temporada anterior. “O número de grandes jogadores na NBA e de marcas importantes sendo quebradas é impressionante. Hoje a gente tem todas as cotas de patrocínio vendidas”, afirmou German Hartenstein, diretor geral da ESPN no Brasil, em entrevista a Folha de São Paulo. “Estamos colocando o basquete em outro patamar”.

“Desde os anos 2000 a NBA tem mirado no aumento de seu público alvo”, destaca Edson Hirata. “Imagine a quantidade de chineses que aumentaram seu interesse em acompanhar o basquete americano após a entrada de Yao Ming na NBA. O mesmo procedeu com os brasileiros, argentinos, franceses, italianos, espanhóis, etc. A NBA globalizou seu mercado consumidor, tanto de seus produtos (camisetas, bonés, etc) como das transmissões televisivas, isso permite que ela consiga melhores negociações com as empresas de comunicação de massa”, concluiu.

“Estamos colocando o basquete em outro patamar” — German Hartenstein, diretor geral da ESPN no Brasil

A NBA é um grande espetáculo e, mesmos em cenários cada vez mais complexos, permanece expandindo seus negócios e tem espaço nos principais canais”, opina Luiz Alberto Pilatti. “Agora, essa não é a regra atual. A arrecadação dos valores com os direitos de transmissão vem diminuindo. É fato. A NBA é um produto diferenciado”, conclui.

NBB tem desafio de continuar apresentando um grande produto

O NBB, seja por expertise transmitido pela NBA, seja por experiências em sua própria toada, vem tomando como seu o desenvolvimento do basquete como experiência de entretenimento. Em entrevista ao portal Locomotiva Esportiva concedida na época do Jogo das Estrelas desse ano, João Fernando Rossi, presidente da Liga Nacional de Basquete que organiza o NBB, ressaltou esse lado. “Nós misturamos um entretenimento forte com um público exigente, uma televisão exigente e uma imprensa exigente. Só temos a comemorar. Acredito que é um divisor de águas entre o jogo de basquete e o entretenimento esportivo [o jogo das estrelas]”, destacou João.

NBB também tem desafio de vender melhor seu produto.

O fato é que o número de patrocinadores do NBB aumentou. Isso ocorreu pelo fato de que o NBB é algo mais interessante de ser patrocinado. De acordo com números do IBOPE Repucom apresentados no NBB Marketing Summit ano passado, mesmo com a redução do número de partidas televisionadas entre 2014/15 e 2015/16 — de 151 a 68 — o número de espectadores aumentou 1,8 milhão de pessoas para 1,9 milhão de pessoas. O valor também aumentou chegando a R$ 1,08 bilhão.

“Não estou certo em que medida a NBA tem alavancado o NBB, ou vice-versa, mas acredito que exista uma relação de ganha-ganha”, observa Edson Hirata, professor da UTFPR. “Parece que a NBA não se tornou parceira da LNB à toa, penso que percebendo o crescimento da competição brasileira, a NBA vislumbrou potenciais consumidores, ou seja, ao transmitir seus conhecimentos para a liga brasileira, a torna mais profissional, mais atraente, e isso, indiretamente refletirá positivamente em seus negócio”.

“É importante notar que a NBB mesmo estando na mídia, apresenta índices de audiência relativamente baixos, e esses índices determinam os valores envolvidos nas transmissões. O grande desafio que a NBB tem é alcançar um espaço midiático mais privilegiado e valorizado”, destaca Luiz Alberto Pilatti, reitor da UTFPR. “O crescimento, como comentado, existe e é importante, mas também precisa ser lido com reservas”.

Quanto a isso, João Fernando Rossi, presidente da LNB ressalta que a evolução tem de vir a cada ano. “Sempre teremos de apresentar novidades. Temos que lembrar sempre que a NBB está em construção, ela não é uma liga pronta”.

“O grande desafio que a NBB tem é alcançar um espaço midiático mais privilegiado e valorizado”, Luiz Alberto Pilatti, reitor da UTFPR

Basquete cada vez mais presente no Brasil

E isso já é claro para todos os brasileiros. Cada vez mais se vê pessoas comentando basquete, mais pessoas assistindo basquete, mais basquete passando na TV. “A globo inseriu reportagens quase diárias da NBA só agora que se tornou parceira. Antes não se via muito NBA no Globo Esporte”, comentou Edson Hirata.

“NBB está em construção, ela não é uma liga pronta” — João Fernando Rossi, presidente da LNB

Por fim, com prêmios, com jogos das estrelas, com celebridades cada vez mais o basquete se torna um produto de entretenimento. Não importa quem vença a premiação. O que importa é o entrenimento ser mais interessante, a experiência que o basquete vende ser mais interessante. Isso mostra o momento mágico que o basquete vive. Vamos ver até quando estaremos numa subida e não numa ladeira.

O basquete está cada vez mais presente no dia a dia do brasileiro.

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