NBA — Semana 21: Kawhi Leonard e o triunfo da defesa e coletividade

Felipe Haguehara
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5 min readMar 24, 2017

Dando cada vez mais atenção ao ofensivo, o ala cada vez mais se confirma como uma força assustadora da liga

Ilustração: Felipe Haguehara/Buzzer Beater

Quando a temporada começou havia quem esperasse uma ligeira queda de produção do San Antonio Spurs, nada que fizesse o time perder playoffs, por exemplo, mas a aposentadoria do maior ídolo da história do time poderia acarretar em algum baque no sistema.

Quer dizer, a evolução temporada a temporada de Kawhi Leonard é indiscutível, mas seria o momento de um demônio defensivo tomar mais parte ainda nas responsabilidades ofensivas, até com o envelhecimento de outras peças chave, e não se poder simplesmente conferir tanto a um recém chegado LaMarcus Aldridge. Até o desligamento iminente de Gregg Popovich para as próximas temporadas era algo a se manter preocupado.

Porém, o time está melhor até que na temporada passada no desempenho. Não é uma grande surpresa, algo que nos deixa estarrecidos, como a temporada de Cinderela do Washington Wizards, mas ver essa briga de perto com o Golden State Warriors pela primeira posição na conferência é algo que faz as anteninhas de vinil vibrarem de fascínio. Kawhi mais uma vez vem mostrando que tem mais passos possíveis a serem dados individualmente, e que a equipe sabe trabalhar o equilíbrio da rotação; todo mundo pode contribuir, todo mundo tem espaço em algum rabisco de Pops na prancheta.

Na ala, uma fera incansável!

Naturalmente que um dos grandes fatores dessa temporada excelente do time é o franchise player mais risonho da NBA. Como já dito, sua evolução simplesmente não acabou. Dentre os jogadores ativos, dos mais expressivos em média, Kawhi é um dos três jogadores a aumentar sua média de pontos em pelo menos 5 temporadas consecutivas, os outros são Jimmy Butler (também está 5ª) e Gordon Hayward (na 6ª consecutiva).

O ala saltou de comuns 7.9 pontos por partida em seu ano de rookie para notáveis 26 pontos por partida na temporada atual. Nesse tempo ele foi 3 vezes eleito para algum time defensivo ideal da liga, além de duas vezes seguidas o melhor defensor do ano. Hoje não é besteira dizer que ele é o melhor jogador two-way em atividade (atleta que desempenha com excelência o ataque e a defesa.

Nessa temporada ele se confirmou realmente como um monstro a se olhar ofensivamente. Aos 25 anos e apenas em sua 6ª temporada, ele se igualou a David Robinson, Tim Duncan e George Gervin como os únicos jogadores da franquia a fazerem mais de 20 jogos com 30 pontos ou mais em uma única temporada, Kawhi tem atualmente 25 jogos do tipo na temporada!

Mas porque destacar tanto sua evolução ofensiva se sua principal qualidade seria “ser o melhor defensor em atividade”? Esse é ponto, a capacidade defensiva de Kawhi é inquestionável, mesmo em uma temporada em que sua participação no ataque tenha aumentado significativamente ele não abandonou os fundamentos que o fizeram temível frente aos adversários. Ainda que Draymond Green e Rudy Gobert estejam, até com uma boa vantagem, a sua frente no prêmio de Melhor Defensor, ele estará na votação e provavelmente será algo como o terceiro mais votado. Porém, juntando sua capacidade sem igual de marcar no perímetro, principalmente, com o florescer de suas bolas de média e longa distância, ele está virando um monstro, o que era temível ficou apavorante para os adversários.

Kawhi é essencial ao time para que o sistema funcione, tanto ataque e defesa precisam de sua participação. Quando em quadra ele participa de 31.3% das jogadas da equipe, a maior porcentagem do time e a 9ª maior de toda a liga. E esse tempo em quadra é valioso para o time, principalmente no ataque. Dentre os jogadores com mais de 30% de uso em jogadas apenas Joel Embiid tem menos tempo em quadra que Kawhi, isso por conta de sua restrição de minutos. Sabemos que Pops não arrisca lesões e poupa sempre que puder poupar.

O impacto do ala em quadra é tremendo. Sem ele o time faz apenas 106.8 pontos a cada 100 posses, para se ter ideia isso deixaria o time com desempenho ofensivo semelhante a Phoenix Suns e Detroit Pistons, apenas 22º e 23ºs em toda a liga. Enquanto com ele em quadra esse número sobe para 115.6, bastante superior a própria média geral do San Antonio Spurs no quesito que é 111.9, a 7ª melhor da liga.

O desempenho defensivo em si porém não é tão significante, o time como um todo, na verdade, até fica melhor sem Kawhi nessa temporada. São 106.7 pontos sofridos a cada 100 posses do adversário, enquanto sem ele são 98.6 pontos a cada 100 posses. Porém, individualmente ele continua entre os melhores, no site de estatísticas Basketball-Reference, ele é o 8º melhor no quesito, dentre os atletas que se qualificam pra disputar a liderança dele, com 101.6 pontos permitidos a cada 100 posses.

Não há só Kawhi

Há algo sempre necessário de se ressaltar em se tratando desse Spurs. Kawhi é uma determinante, uma força essencial, mas não atua sozinho. Ainda falando de desempenho ofensivo e pontos permitidos a cada 100 posses do adversário, se deixarmos em conta essas questões de jogadores que se qualificam para determinado quesito, à frente dele estão caras como Kyle Anderson e Dewayne Dedmon, além de Pau Gasol e LaMarcus Aldridge, não muito longe de Leonard.

Pra falar a verdade, o banco do time do coiote é um dos times que tem o banco mais equilibrado, com nomes capazes de definir as jogadas e suprir necessidades que o time titular possa estar carecendo. Por exemplo, o impacto de Dedmon e Jonathon Simmons na defesa do time quando em quadra, são até mais bem vindos que a estrela do time. Simmons permite apenas 98.5 a cada 100 posses contra 106.4 quando ele está fora. Dedmon é semelhantemente eficaz, permite 99 pontos a cada 100 posses quando está em quadra, contra 105.9 que o times sofre quando ele está fora!

Pops em algum momento deixará esse time, mas deixou um legado e um processo de trabalho intenso. Complexo em saber como fazer um time ter por 20 temporadas consecutivas um recorde positivo na temporada regular (um novo recorde, que até ano passado estava empatado com o Utah Jazz de 1985–2004).

Os jogadores envelhecem, mas sempre são achadas peças capazes de ocupar lacunas deixadas por ela. Gasol e Aldridge estão longe de ser um Tim Duncan, mas sabem oferecer o espaço necessário para Kawhi Leonard fazer sua mágica. Tirando da cartola, viram Simmons e Dedmon virarem peças importantíssimas na rotação, eu diria que o San Antonio Spurs, regido por Popovich é a sinfonia mais uníssona da NBA, tudo funciona na engrenagens certas, de corpo diretor ao desempenho e aceitação dos jogadores em seus papeis. E há de se ter cuidado quem ouvir à essa orquestra durante os playoffs, o que é bonito para uns, para outros pode significar aniquilação!

Dados: Basketball-Reference, RealGM

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