NBA — Semana 23: Russell Westbrook e triplos duplos, às vezes nem mesmo a história é o bastante

Felipe Haguehara
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5 min readApr 7, 2017

Mesmo igualando a marca de Oscar Robertson ainda há muita dúvida sobre ser MVP

Ilustração: Felipe Haguehara/Buzzer Beater

Estamos acompanhando uma temporada fascinante na NBA quanto aos números. O principal da temporada já foi até citado no título. Mas ainda outros merecem no mínimo uma menção, como a chegada de Dirk Nowitzki no clube dos 30.000 pontos, ou LeBron James passando um por um na lista de maiores cestinhas da história. É óbvio que não podemos traduzir o basquete, nem mesmo o profissional, simplesmente em números, todos esses feitos têm várias místicas que vão além de símbolos gráficos representando quantias.

Porém, para nós jornalistas, produtores de conteúdo e contribuidores nas formações de opinião, eles são essenciais. Estamos falando sobre provar um argumento, nem todos têm olho ou experiência para fazer análises táticas profundas que apenas um estudioso desse aspecto seria capaz, bateríamos o martelo em um prego torto que que dessincronizaria com a estrutura que buscamos (in)formar. Ou seja, apresentamos nossas análises de jogo e impressões sobre determinados jogadores baseados na evolução de nossos conhecimentos ao acompanhar a bola laranja quicando nos tacos, e principalmente amparamos nos números as justificativas de nossas hipóteses para fazer um conteúdo plausível.

Vamos ao Brodie

Deixando um pouco dessa lenga-lenga beirando à teorização, vamos ao objeto desse texto. É óbvio que falaríamos de Russell Westbrook. Preterir um feito histórico desse porte, que perdurava inalcançável desde 1962, algo que mesmo em tempo de jogadores máquina, em seus portes físicos, parecia impossível.

Mesmo assim as pessoas já cogitavam que isso poderia ser feito nessa temporada. Em pleno 2016, as pessoas olhavam para aquele ser, muitas vezes contestado em sua genialidade, e diziam: “Agora que está sozinho, o olho de um furacão pode ter surgido”. Não era o olho, o furacão em si surgiu de sopetão.

Vários desentendimentos nos reencontros com Kevin Durant.

Russ colocou todas as suas frustrações na bola de basquete nessa temporada. Fosse a saída de Kevin Durant para a equipe que eliminara a sua nos playoffs do ano passado, fosse mídia e dirigentes dizendo que seu ex-companheiro era a única estrela daquele elenco (pasmem), ou a história contada nessa reportagem genial da ESPN (aqui). No fim, não era sobre ninguém, não era para provar algo a ninguém, era apenas sobre ele. Era a ele mesmo quem ele devia, os duelos na temporada contra Golden State Warriors foram cheios de emoção e desavenças, foram sim! Mas, dane-se o ala adversário, o que ele faria era jogar por ele mesmo e quem estivesse ao seu lado, faria sua história e quem quisesse escrever sobre ela que o fizesse.

Rebote e assistência que levaram ao triplo-duplo 41.

E assim aconteceu. 41 triplos duplos na temporada até agora, recorde igualado ao de Oscar Robertson; recorde de pontos num triplo duplo, feito no dia 30 de Março, 57 pontos, 13 rebotes e 11 assistências; empatou no segundo lugar com Robertson e Michael Jordan com a maior sequência de jogos seguidos fazendo a marca, 7 (o primeiro lugar é de Wilt Chamberlain, com 9). Os feitos relacionados a dois dígitos em três estatísticas apenas acumulam, além disso ele precisa de apenas 6 assistências para fazer algo que apenas o Big O fez, um triplo duplo nas médias. Considerando seu próximo adversário, na sexta-feira, é o Phoenix Suns podemos considerar praticamente feito, sua média contra a equipe na temporada é de 41.7 pontos, 13.7 rebotes e 13.7 assistências, nunca na história da liga um jogador fez 40–10–10 de média em cima de um adversário!

Cruel, mas às vezes nem mesmo fazer história pode ser o bastante

Com tudo isso pontuado, sobre seus feitos históricos na temporada, é impossível não colocá-lo numa corrida pelo prêmio de MVP. Dentro disso temos 2 grupos, os promotores e os advogados de defesa da premiação individual de Westbrook.

O argumento pró é simples. O cara está fazendo história, um ponto interessante o qual vi recentemente é que, ganhando ou não o prêmio, as pessoas olharão para essa temporada e dirão:

  • “Ah! É essa é a temporada que Russell Westbrook fez um triplo duplo de média e bateu o recorde do Oscar Robertson”
  • “Verdade, e ele fez isso liderando a liga em pontos, não?”

A conversinha hipotética parece boba, mas se há algo que a memória arranja espaço para guardar dentro de nosso fanatismo sobre basquete é o impactante, o sem igual, e nisso não podemos negar, Russ está conseguindo com folga. Há quem queira sequer considerar o armador entre o top 3 do prêmio. Balela! Ele está levando um time que (me desculpem!) é sem sal para os playoffs mesmo depois de perder um jogador importantíssimo.

Dito isso vamos aos pontos contra! Realmente, a última vez que um jogador foi MVP não estando entre os 2 primeiros colocados de sua conferência foi em 1999, quando Karl Malone faturou a premiação. Porém, isso foi fruto da regra equivocada da época, na qual mesmo tendo, na verdade, o melhor recorde empatado com o San Antonio Spurs, o Utah Jazz ficou com a terceira colocação por não ter liderado sua conferência. De qualquer maneira, apenas 4 jogadores foram MVPs com o time tendo menos que 60% de vitórias na temporada: Bob Petit (1955–56); Bob McAdoo (1974–74); Kareem Abdul-Jabbar (1975–76) e Moses Malone (1978–79).

Fora esse âmbito geral, os críticos pesam bastante o quão forçados são os números de Westbrook. A ordem lá é a seguinte, os caras de garrafão fazem o box-out (dar as costas ao adversário inibindo que ele pegue o rebote) enquanto Russ pega os rebotes sem ser contestado. O vício rotativo e que a bola sempre precisa estar em sua mão para ocorrer jogadas acarreta em muitos erros. Ele é o líder da NBA em jogadas na qual é utilizado quando está em quadra, com 40.9%, e está indo juntamente a James Harden ao recorde de turnovers em uma única temporada, o barba está com 444 enquanto o armador do OKC tem 424, atualmente 1º e 2º lugar respectivamente, na história da liga.

O argumento no qual buscam dissociar Harden como um real merecedor do prêmio é a eficiência. A porcentagem em chutes de quadra não é tão diferente, o atleta do Houston Rockets tem 44%, enquanto Westbrook tem 42.6%. Porém, em números totais, o Brodie tenta 5 arremessos a mais que Harden. Assim, se teoricamente o barba permite cerca de 10 chances dos adversários ficarem com um rebote defensivo, Westbrook permite quase 14, o que, acreditem, é uma diferença significante.

Além disso, há quem apoie Kawhi Leonard como MVP, afinal é uma das melhores temporadas two-way (ofensivo e defensivo) em muito tempo, talvez desde um LeBron mais jovem. Pesa ainda o fato do cara estar segurando a barra de um time que aposentou o maior ídolo de sua história, mantendo o Spurs como uma equipe capaz de fazer 60 vitórias.

Argumentos e contraargumentos colocados lado-a-lado, cada vez mais inclino minha simpatia a desejar que deixem tradições de lado e deem o prêmio a Westbrook. A verdade é que ele não precisa, ele já tem o reconhecimento histórico e seu nome gravado em centenas, até milhares, de textos contando sua jornada na temporada atual. O MVP seria apenas uma coroação. De qualquer maneira não ficarei chateado em ver o trofeuzinho na mão de algum desses dois últimos atletas citados, pois o que Westbrook fez nessa temporada foi muito maior do que três letrinhas!

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