NBA — Semana 27: Cleveland Cavaliers nos trilhos e a máquina de playoffs LeBron James

Felipe Haguehara
buzzerbeaterbr
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5 min readMay 7, 2017

Depois de uma temporada regular sem tanto brilho os atuais campeões mantêm o status de potência na pós-temporada

King James e Uncle Drew estão dominando pelo Cavaliers (Ilustração: Felipe Haguehara/Buzzer Beater)

Nos últimos dias um certo meme viralizou. Colocaram a face de LeBron James no lugar da de Will Smith em uma cena na qual ele fazia cestas de todas as maneiras na popular série Fresh Prince of Bel Air, ou como bem conhecemos das tardes de SBT, Um Maluco no Pedaço. A brincadeira que viralizou comparava os absurdos do comediante ao desempenho massivo do ala do Cleveland Cavaliers contra o Toronto Raptors, série a qual o Cavs pode fechar em 4–0 no próximo jogo.

Não apenas nas semifinais da conferência Leste, o Cavs tem mostrado seu valor como competidor pelo título e digno de defender seu título no mais alto nível. James está especialmente espetacular, da mesma maneira que podemos falar da maioria dos playoffs de sua carreira. Nesse ano, inclusive, se tornou o 2º maior pontuador da história dos playoffs com 5.812 pontos, passando Kareem Abdul-Jabbar, e a tendência é que mais para frente ele chegue no primeiro lugar dessa lista, ocupado hoje por Michael Jordan, com 5.987 pontos.

Os recordes são apenas uma parcela da prova da dominância do ala nos playoffs. Não apenas ele, Kyrie Irving vem chamando a responsabilidade para si nos 1 contra 1, além de estar participando muito mais da defesa nos offs. Ambos são a principal fonte do sucesso ofensivo da equipe visto que são os jogadores da equipe que mais tempo ficam em quadra, Irving é o segundo com 33.4 minutos por confronto e King James o primeiro, de longe, com 41.9. E, naturalmente, como as duas primeiras opções de ball handle do time são os jogadores mais usados nas jogadas, o armador é usado em 34.6% delas (na temporada regular era 30.8%), e James é usado em 32.2% (na temporada regular era 30%).

Cleveland de volta aos trilhos

O Cavaliers esteve longe de ter a temporada tranquila no topo que gostaria, o bom projeto do Boston Celtics e seu armador estrela Isaiah Thomas frustraram o reinado do time de Tyronn Lue. Na verdade, eles até sofreram perigo de perder a segunda posição para seu atual adversário nas semifinais do Leste, o Raptors empatou em número de vitórias, porém perdia nos critérios de desempate (porcentagem de vitórias no confronto direto).

Porém, isso tudo parece já ter ficado no passado. Apesar da vitória apertada, por apenas um ponto, em cima do Indiana Pacers na partida de abertura o Cavs aparentemente entrou nos trilhos. E a mentalidade de campeões precisando manter o troféu em Ohio entrou na cabeça de todos, principalmente dos titulares.

Com seu basquete reconhecidamente ofensivo, eles fora a 3ª melhor equipe em pontos a cada 100 posses de bola, com 114.2. Enquanto isso sua defesa não era nada a se destacar, com 111 pontos sofridos a cada 100 posses eles eram apenas a 21ª equipe no ranking de toda a liga. Para se ter ideia, dentre as equipes que foram à pós-temporada apenas Portland Trail Blazzer possuía uma marca pior nessa estatística.

Mas como playoff é um campeonato completamente diferente da temporada regular, no qual a competitividade dos melhores jogadores do mundo tem picos altíssimos, as coisas mudaram. Juntamente com o Golden State Warriors, eles são a única equipe invicta até aqui. E suas médias tiveram uma melhora interessante. O número de pontos sofridos a cada 100 posses de bola caiu para 109.2, pode parecer pouco, mas foi o bastante para colocá-los acima de 9 times que disputaram os offs. E o ataque, caiu com a melhora defensiva? Ficou melhor ainda! São 119.6 pontos a cada 100 posses, ou seja, o ataque está mais quente do que nunca.

Mais pra frente dedicarei uma parte do texto ao desempenho de James. Mas é importante lembrar a importância do resto do times para esse sucesso. O time possui peças importantes para manter ou variar as possibilidades de jogadas. Seja a adição de Kyle Korver e Deron Williams, que trouxe mais qualidade de chute e o um playmaker para sair do banco como LeBron havia pedido; sejam as variações que já eram possíveis com o que tinham no tabuleiro desde sempre, um jogo com Tristan Thompson tomando conta do garrafão, ou tirando-o e colocando Channing Frye e jogando com quatro abertos.

A equipe titular do Cavaliers tem sido um deleite entre ataque e defesa, a diferença entre o número de pontos feitos a cada 100 posses e o de sofridos é de +7.5, numa lineup formada por Kyie Irving, J.R. Smith, LeBron James, Kevin Love e Tristan Thompson. Considerando que esse time jogou 112 minutos e 33 segundos até agora, ou seja, essa formação jogou 39% do tempo de partida total da franquia nos playoffs, muito mais do que qualquer outra combinação.

Tomemos a importância de Irving e Thompson na defesa por exemplo. O pivô já era algo a se esperar, afinal é o protetor de garrafão da equipe, quando ele está em quadra, na pós-temporada, seus oponentes tendem a produzir apenas 100.8 pontos a cada 100 posses, sem ele esse número sobe para “astronômicos” 135.5, ninguém no Cavs tem tamanha discrepância, uma diferença de -34.7. Essa diferença na temporada regular era -0.7.

Já o armador cresceu depois do fim da temporada regular. A diferença entre pontos que seus oponentes faziam a cada 100 posses quando ele estava em quadra contra quando ele não estava era de +3.2, ou seja, os oponentes eram melhores ofensivamente quando Kyrie estava em quadra. Já no momento atual do torneio, com ele em quadra o número de pontos sofridos é 106.5 a cada 100 posses, e sem ele sobe para 125, uma diferença de -18.5. Bem melhor, não?

Em tempos de guerra o rei brada espada e escudo

Falar do bom desempenho dos atuais campeões da NBA sem falar dos números individuais de LeBron James é igual querer conversar sobre a carreira de Tim Maia e ignorar o Universo em Desencanto e a Cultura Racional (eu mesmo que sou uma porta quanto a música sei disso!).

O ala saiu de uma temporada com 26.4 pontos, 8.7 assistências, 8.6 rebotes, 1.2 bolas roubadas e 0.6 tocos para uma pós-temporada de 34.3 pontos, 7.3 assistências, 9 rebotes, 2.4 bolas roubadas e 1.6 tocos. O cara diminuiu apenas sua média de assistências por partida, e isso porque tem se reservado a concluir mais jogadas!

O offensive rating do time, que é justamente esse número de pontos convertidos a cada 100 posses, quando ele está em quadra é de 123.4. Até têm alguns jogadores com marcas semelhantes ou maiores como Love, 123.2, ou Frye, 127.6. Porém, levando em conta o tempo de quadra de James, esses números teriam tudo para ser menores, ele não jogou apenas 35 minutos do Cavaliers em toda a pós-temporada.

Além disso ele está entre os líderes de totais em muitas das estatísticas dos playoffs. 3º em arremessos de quadra convertidas, 1º em bolas roubadas, 7º em tocos, 6º em assistências, 10º em rebotes, 3º em pontos, 10º em pontos convertidos a cada 100 posses de bola e 9º em pontos permitidos a cada 100 posses. Isso tudo com um número de jogos menor do que muitos líderes dessas estatísticas.

O cara é uma máquina, um dos melhores da história e seguirá acrescentando estatísticas até as finais da NBA, caso ninguém arranje uma maneira de segurar esse tanque de guerra de 32 anos!

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