NBB9 — Semana 11: Sem Hettsheimeir, Bauru muda. Bom para Shilton (e bom para o time?)

Heitor Facini
buzzerbeaterbr
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5 min readJan 26, 2017

O pivô consegue agora uma chance de mostrar a que veio. Sem o principal jogador, o estilo muda, melhor para Alex e Jefferson

Shilton agora comandará o garrafão do Bauru Basket (Ilustação: Heitor Facini/BuzzerBeater)

No dia 7 de Julho deste ano a Paschoalotto, naquela época patrocinadora master da equipe, deixou o Bauru Basket. O medo era claro, desmanche e começar um projeto do zero. Mas, o estrago, a princípio, deixou de ser tão grande quando a equipe anunciou o acordo com a Gocil para o lugar de maior patrocínio da equipe. Óbvio, o investimento não era o mesmo, houve perdas, mas conseguiram colocar um curativo no corte naquele momento.

As perdas, enfim, não foram tão grandes. Saíram Murilo Becker, Paulinho Boracini, Ricardo Fischer e Robert Day. Vieram, a primeiro momento, Valtinho e Shilton. Mais para frente, o Bauru, beneficiado pelo fim do time do Rio Claro, conseguiu ainda contratar Gegê e Gui Deodato. O mais importante, os dois principais jogadores do time acabaram ficando: Alex Garcia e Rafael Hettsheimeir. Também permaneceram Léo Meindl e Jefferson.

Ou seja, no fim das contas, em alguns lados o time melhorou e outros piorou. O banco não era mais tão bem em todas as peças. Mas, a qualidade não estava tão abaixo mais. Mas e aí, por que o time não vem mais tão bem nessa temporada? Primeiro ponto foi uma mudança tão brusca, o time demora para entrosar. Por exemplo, Gegê e Gui Deodato, hoje imprescindíveis para o time, chegaram nas vésperas do campeonato iniciar. Depois vieram as lesões. Por exemplo, os jovens Gui Santos e Léo Eltink ainda estão fora por lesão. Léo Meindl já ficou fora um tempo também. E principalmente a falta que Alex Garcia fez.

Hettsheimeir era o melhor jogador do time na temporada

Pra quê relembrar tudo isso que aconteceu até o momento? Pra entender como Rafael Hettsheimeir era a principal arma ofensiva no Bauru. Com a lesão de Alex, é fácil compreender como o pivô virou a mais importante arma ofensiva da equipe. As jogadas eram direcionadas a ele e se junta ao fato que o cara tava tendo uma temporada iluminada. Melhor ano em pontos dele, com 19.9 — aliás, aqui mostra como o cara estava sendo exigido, ele tentava em média 37.9 por jogo, mais que 8 a mais que na última temporada. Melhorou e muito o arremesso do perímetro, com 44% contra os 39% da carreira. Os rebotes subiram para 7.8 em comparação aos 5.7 do último ano.

Como o Bauru joga com Hettsheimeir? Desde a temporada passada e continuando no início dessa a equipe sempre usou e abusou do espaçamento em quadra. Assim, as bolas no perímetro são importantíssimas para o sucesso deles. A equipe no momento é a segunda que mais tenta bolas de 3 (com 29 em média por partida) e a segunda que mais converte com 10.67. Rafael era responsável por fazer quase ¼ dessas bolas na temporada com 2.4 por jogo.

Deu para entender? Então agora deu para compreender mais ainda o baque da notícia do início dessa semana. O jogador se transferiu para o Funlabrada da Espanha para substituir o jogador Moussa Diagne, que foi para o Barcelona. Ai, o que fazer quando se perde um jogador para fora do país? Buscar reposição através de contratações, certo? É, seria se houvesse essa possibilidade. A janela de inscrições terminou com a ultima partida do primeiro turno, que foi há mais de uma semana.

Solução caseira: Shilton ou Jefferson William?

A solução então é buscar dentro do elenco a substituição. Para a posição de pivô o Bauru possui apenas dois jogadores puros e que normalmente jogam ali: Shilton, que veio nessa temporada e Michael, jovem de apenas 19 anos. Na teoria o jogo montado com eles seria parecido pelas características do mesmo. Shilton recebe vantagem pelo fato de ser mais experiente.

Outra alternativa seria de certa forma emular a formação da morte do Golden State Warriors do ano passado e não jogar com um pivô de ofício. Não sabe o que é a formação da morte? É quando o time de Steve Kerr colocava Stephen Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Draymond Green para jogar juntos. Percebe que não tem nenhum jogador que seja realmente um pivô aí? Além disso, vê que todos os jogadores são pelo menos razoáveis arremessando de longa distância?

Certo, como o Bauru faria isso? Ao invés de colocar um pivô para assumir a posição de Hettsheimeir colocaria Jefferson William nessa posição e colocar Léo Meindl aí. Seria algo como Gegê, Alex, Gui Deodato, Léo Meindl e Jefferson William. Na verdade assim, isso não mudaria tanto a forma que o Bauru jogaria porque Hettsheimeir não é um pivô de origem, na própria olimpíada jogou na posição de Ala Pivô. A vantagem dessa formação nova é o ganho na agilidade. A diferença é que Jefferson não é tão bom no low-post e embaixo do garrafão quanto Hetts. Além do fato de força física de Jefferson e de proteção de garrafão ser pior.

Shilton melhora a defesa do Bauru

Um dia após o Hettsheimeir embarcar, tivemos o primeiro desafio sem o pivô/melhor jogador da temporada do dragão. O desafio era contra o Flamengo, campeão dois anos seguidos em cima do Bauru e que venceu o primeiro jogo nesse ano. Pelo menos para esse primeiro desafio o escolhido para comandar o garrafão foi Shilton. A preocupação com isso era clara, não tanto porque Shilton seja ruim ou algo do tipo, mas porque Hettsheimeir estava em outro nível.

O que aconteceu? Um resultado muito acima do usual. A diferença principal era, Bauru não tinha um pontuador dentro do garrafão mas sim um defensor e um cara para fazer o trabalho sujo para os outros jogadores, principalmente Alex e Jefferson. A dinâmica muda, Shilton tem uma capacidade física e de posicionamento maior para defender a cabeça do garrafão e executar pick and rolls para fazer com que os jogadores de perímetro fiquem livres. Jefferson por exemplo terminou o jogo com 80% no arremesso.

Além do pick’n roll e da defesa do garrafão, Shilton deu uma arma importante para quem arremessa tanto do perímetro, a maior capacidade de brigar lá embaixo e ganhar rebotes. Como ele não é um eximio chutador de três, ele sempre fica mais perto da cesta. Isso fez com que ele conseguisse pegar 4 rebotes no ataque, uma excelente marca (Gui Deodato pegou outros 2, Jaú outros 2, Léo Meindl 1 e Michael também pegou 1). Além disso ele desempenhou um bom trabalho contra os pivôs do Flamengo, JP Batista e Hakeem Rollins, que ficaram abaixo dos 45% de acerto dos arremessos. JP, aliás, que tem média de 60% por jogo.

Por fim, Bauru conseguiu ganhar do Flamengo na casa do adversário. É cedo para dizer alguma coisa? É, com certeza. Um jogo apenas. Hoje vem o segundo contra Macaé. Mas o que aparenta é que Shilton, por se dedicar mais na defesa, tem mostrado que pode fazer com os outros possam se focar mais no ataque. No fim, pode ser que o time, mesmo sem seu melhor jogador na temporada, jogue bem.

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