Código Antirracista

Fabrine Bartz
Código Antirracista
3 min readOct 20, 2021

Um projeto semestral que mostra como as falhas tecnológicas impactam no racismo digital

Em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi espancado e assassinado por asfixia em uma unidade do Carrefour, na zona norte de Porto Alegre. Um ano antes, negros, assim como João Alberto, representaram 77% das vítimas de homicídios no Brasil, de acordo com o Atlas da Violência 2021.

Com a pandemia Covid-19, o número de mortes pela doença no país evidenciou o racismo estrutural persistente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 57% das vítimas pela doença são pessoas negras, enquanto brancos são 41% dos mortos. Diante de dados e vivências sobre a desigualdade racial no estado e no país, o racismo foi tema escolhido para o Projeto V do segundo semestre de 2021.

Pouco mais de nove meses depois do assassinato de João Alberto, uma das medidas adotadas pelo hipermercado foi a instalação de câmeras portáteis nos uniformes dos agentes de prevenção. No entanto, levantamento realizado pela Rede de Observatórios de Segurança revela que 90,5% dos presos por monitoramento facial no Brasil são negros, embora o uso de tecnologias de reconhecimento facial no país na área de segurança pública tenha sido lançado apenas há dois anos, 2019. Interligando os dois pontos, o racismo estrutural e o avanço da tecnologia, o Código Antirracista irá aprofundar os estudos sobre o racismo digital.

Instagram: @codigoantirracista

Há um ano, setembro de 2020, a identificação facial feita pelo algoritmo chamou atenção dos usuários do Twitter. No caso, um usuário postou um relato sobre como o Zoom, aplicativo de videoconferências, recortava pessoas negras na opção de utilizar um fundo virtual, ou seja, o Zoom deixou de reconhecer o rosto de uma pessoa negra como o rosto de um ser humano. Com isso, surgiram outros casos, inclusive recortes faciais de pessoas negras dentro do próprio Twitter. O exemplo citado é um tópico dos casos presentes na linha do tempo do racismo algorítmico do mestre em comunicação e doutorando em ciências humanas, Tarcízio Silva.

No Brasil, fora da internet, desde 2019 o interesse de parlamentares, governadores, prefeitos e policiais em reconhecimento facial tem aumentado. A reportagem da Revista Piauí sobre o assunto traz o primeiro preso com o uso dessa tecnologia no país, Marcos Vinicius Neri, de 19 anos, preso durante o carnaval de 2019, em Salvador. Ele era procurado desde julho de 2018, acusado de homicídio. Desde a prisão de Marcos até o dia da publicação da reportagem, janeiro deste ano, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública Baiana, o estado já prendeu 199 pessoas com o uso de reconhecimento facial. No entanto, negros são maioria nas penitenciárias brasileiras, dos 657,8 mil presos em que há informação de cor/raça disponível, 438,7mil são negros. Os dados são referentes a 2019, de acordo com o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Quais são as chances do reconhecimento facial contribuir para o sistema prisional sem que haja falhas? Através do Código Antirracista, nossa equipe buscará responder essa e outras questões sobre como o algoritmo racista impacta o país e quais são as medidas existentes para que a realidade seja diferente. Além do reconhecimento facial, abordaremos métricas de alcance dos posts em plataformas digitais, a importância da população negra estar presente na formação das mesmas e o como movimentos antirracistas têm crescido dentro do ativismo digital.

A linha do tempo do racismo algorítmico mencionada anteriormente está em constante atualização, o que mostra o quanto atitudes humanas atuais contribuem para o aumento do racismo dentro e fora da internet. O Código Antirracista servirá de aprendizado aos leitores e a equipe, mas também será um espaço aberto para ouvir e transmitir relatos, informações e experiências sobre o racismo digital.

Conheça nossa equipe

O Código Antirracista é formado por alunos do curso de jornalismo da Escola de Comunicação, Artes e Design -Famecos.

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Fabrine Bartz
Código Antirracista

Jornalista. Produtora da BandNews Porto Alegre e pesquisadora da interseccionalidade nos novos formatos jornalísticos