Imagem aleatória de culpa para vender suéteres

8 livros que você vai se sentir culpado por não ler em 2017

RIDÍCULA
Cabine Literária
Published in
5 min readJan 5, 2017

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Não dá para ler todos os livros do mundo, sempre sobram eles, os livros que você vai se sentir culpado de não ter lido. E sempre que você não lê, inevitavelmente alguém vai te dizer “nofa, não creio que você não leu. O único motivo de seres humanos terem olhos no rosto é para esfregá-los sobre as letras maravilhosas desse livro específico”. Você sabe que é verdade.

Então, em vez de lista dos melhores lidos em 2016, segue aqui minha listinha de tipos de livros que perseguirão você (e eu e todo mundo) em pesadelos no fim desse ano que acaba de começar.

Aquele livro que virou filme
Aquele-livro-que-virou-filme estava encalhado nas prateleiras, mas, agora que botaram nele aquela sobrecapa horrorosa com um astro de Hollywood (que vai desbeiçar antes mesmo de sair da livraria), ah, agora vai vender horrores. E todo mundo vai dizer que o livro era melhor/diferente/tinha outro final/tinha mais papel. Pena que você não leu. Na verdade, nem o filme você viu…

Aquele livro nacional que ganhou prêmio
Se você não leu aquele-livro-nacional-que-ganhou-prêmio pode ser porque aquele-livro-nacional-que-ganhou-prêmio não está a venda nas livrarias. Primeiro você teria que descobrir a editora, criar um cadastro, ver que esgotou, ver que foi reimpresso, mandar uma cópia autenticada do seu próprio RG para você mesmo no futuro, desistir, se lembrar do livro depois de dois meses, encontrar o perfil do autor no facebook, pedir direto para ele, assistir à chuva que desliza pelo vidro da sua janela num dia de tempestade, receber o pacote com o livro. Se ele não tiver se extraviado pelo correio. Mas tudo bem. Você não ia ter entendido mesmo.

Aquele livro de 7 tomos do cânone ocidental
Você tem vergonha de admitir que não leu aquele-livro-de-7-tomos-do-cânone-ocidental. Os professores comentam em aulas e todos acenam com a cabeça com grande naturalidade, como se soubessem exatamente do que ele está falando. É possível que você já tenha acenado também, temendo o momento em que sua farsa seria descoberta, deixando escapar algum erro dantesco, mencionando as belas lembranças que o personagem evoca ao mergulhar um risole (não era risole? seria um olho de sogra?) em uma xícara de chá. Mas o que você pode fazer, carregar um livro de mil e quinhentas páginas no ônibus Sacomã? E não adianta dizer que basta ler no Kindle. Aquele-livro-de-7-tomos-do-cânone-ocidental tem o peso existencial de 3 baleias brancas também na versão digital.

Aquele livro que você comprou faz quatro anos na feira da USP ou Aquele livro que você comprou faz dois anos na Black Friday
É verdade que você já não lembra muito bem o que estava pensando quando levou aquele-livro-que-você-comprou-faz-quatro-anos-na-feira-da-USP (possivelmente da Cosac Naify), porém sempre que bate os olhos naquela triste lombada — ainda embrulhada em um plástico que já começa a ficar opaco — promete a si mesmo que a vez dele chegará em breve. Segundos depois, abre o livro que comprou na semana passada e deixa que ALQVCFQANFLUSP (pra abreviar) se dissolva na memória até sua próxima visita à estante. Quem sabe ano que vem?

Aquele livro que virou série
Vide Aquele-livro-que-virou-filme.

Aquele livro que te emprestaram
Pode ser que seu amigo nem se lembre que você está com aquele-livro-que-te-emprestaram. Faz muitos meses que ele deixou o dito cujo na sua casa, junto com entusiásticas recomendações. Pode ser que seu amigo de vez em quando olhe para o paralelepípedo de vazio que ficou na prateleira dele e se pergunte onde foi parar aquele livro que ele amava tanto — e sinta no peito um paralelepípedo de vazio das mesmas dimensões. E a culpa é sua, seu desalmado de leitura vagarosa. Toda sua.

Aquele livro que fica de pé sozinho
Você gosta do autor. Todo mundo disse que é bom. Inclusive a New Yorker (você sabe disso porque a contracapa estampa isso em fonte tamanho 50). Só que aquele-livro-que-fica-em-pé-sozinho, tem envergadura para segurar uma porta durante o El Niño. Talvez só mais um livro fininho antes dele. E mais um. Até porque, na largura daquele-livro-que-fica-de-pé-sozinho, caberiam 5. Até que você repara que o guardou justo na prateleira mais alta e se acovarda de tentar pegar. Se ele escorregar dos dedos, o encontro da sua moleira com tal jamanta de celulose seria fatal.

Aquele livro que está todo mundo falando
Não importa onde você for, vai dar de cara com aquele-livro-que-está-todo-mundo-falando. Ele está em pilhas mais altas que você nas livrarias. Finalmente um livro que diz tudo sobre feminismo/imigrantes/vegetarianismo/aliens/matança no colegial/pintassilgos/italianas de identidade desconhecida e tanto o público quanto a crítica estão descontrolados. Não é que você tenha muitos outros livros que precisa ler antes. Você furaria a fila por aquele-livro-que-está-todo-mundo-falando. Um leve suor no lábio superior se acumula quando você aproxima os dedos dele. Você engole seco. Sem conseguir pegar aquele-livro-que-está-todo-mundo-falando, começa a ter ataque de pânico, com obras desimportantes escapando dos braços, caído no carpete da Livraria Cultura: e se você for a única pessoa do mundo que não gostar?

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Jabázinho: Meu primeiro livro de contos, Morri por Educação, será publicado pela Editora Oito e Meio. O lançamento é dia 28 de janeiro.

Update do jabá: o livro já está em pré-venda no site da Editora, com R$10 de desconto :)

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Mais informações em breve :)

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RIDÍCULA
Cabine Literária

Nathalie Lourenço, publicitária e ridícula de nascença. Autora dos Livros Morri por Educação e Sabor Idêntico ao Natural. https://linktr.ee/natlourenco