A arte de ser seletivo na hora de ler

Quantos livros você será capaz de ler na vida?

Tatiany Leite
Cabine Literária

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por Tatiany Leite

As pessoas que acompanham o Cabine já devem ter visto o Danilo e o Gabriel comentando que — depois de quase cinco anos de existência do vlog — passaram a ser mais seletivos em relação às leituras. Eu, particularmente, desde a criação do antigo Vá ler um livro (em 2011), batia na tecla de que qualquer leitura era bem-vinda.

Quem sou eu para inibir o desejo pela leitura em um país onde 13,4 milhões de pessoas são analfabetas? Continuo com esse intuito, mas (pessoalmente), passei a ser bem criteriosa depois de uma conversa com três amigos na qual o tópico foi: Quantos livros podemos ler em nossa vida?

Façamos as contas e passemos a considerar leituras verdadeiras a partir dos 15 anos. Também vamos entender que viveremos até os 80. Alguns me chamarão de pessimista, de uma pessoa que não encara os fatos, mas é assim que é. A partir daí, vamos considerar que lemos um livro por semana, o que é maluco. Mesmo para aqueles mais afoitos ou para os que possuem leitura dinâmica: há semanas que não lerão um livro sequer por motivos aleatórios. Mas, vamos voltar para o cálculo.

Dos 15 aos 80 teremos vivido 65 anos. Um ano possui 54 semanas. 54 semanas vezes 65 anos dá o total de 3510 livros. Em toda a nossa vida. Agora, tire daí as semanas que não lemos, os anos perdidos dos quinze aos vinte… E pronto, temos uma média justa (mesmo para os mais afoitos) de 3000 livros. Daí, paramos e pensamos: A maior biblioteca pessoal do Brasil (sim, vamos tratar de exemplos nacionais) tem 38 mil títulos. Isto é, SE alcançarmos nossa meta de vida, um ser humano normal teria a capacidade de ler, ATENÇÃO, menos de 10% desta biblioteca. Vamos com outro exemplo: A editora Companhia das Letras, que não é a editora mais velha que existe nas terras brasileiras (ela tem 25 aninhos) já tem, pasmem, quase quatro mil livros lançados. Ou seja, não dá. A gente não pode (a gente não consegue) ler o catálogo inteiro de sequer uma editora.

Tem muitos muitos e muito pouco tempo.

Depois de ficar horas debatendo sobre isso — com esses mesmos amigos — comecei a passar esse cálculo para frente. Acho que o intuito é apenas falar que, ora, tudo bem ser mais seletivo com as obras. Eu, pelo menos, me sinto totalmente bem com isso (apesar de, nos últimos meses, ter lido algumas obras bem água com açúcar). Mas, o mais interessante (e talvez uma tamanha coincidência) é que logo depois dessa conversa fui entrevistar duas grandes editoras: Uma está na carreira há mais de vinte anos, foi publisher de uma das maiores editoras do país e hoje tem a sua empresa independente; a outra — apesar de mais nova no mercado — conseguiu desbancar uma grande trilogia na lista dos mais vendidos com um livro de poesia.

Apesar de terem perfis diferentes, ambas foram unânimes ao dizer que o mercado editorial precisa lançar menos livros. Não porque a leitura deva diminuir: Muito pelo contrário, mas porque muita gente já entrou em um critério de publicação apenas pelo dinheiro e retorno. Não pela qualidade literária ou — como disse uma das entrevistadas — "por livros que poderiam fazer diferença na vida das pessoas". É ruim, mas vai vender? Então, está ótimo. Publica.

A intenção desse texto não é pedir para as pessoas lerem menos. Mas, talvez, na altura do campeonato, seja bacana uma leitura mais consciente. Gosta do erótico ao clássico? Vá em frente. Mas, não leia por ler. Afinal, um a mais ou um a menos (dentro dessa média maluca de três mil títulos por vida) faz toda a diferença. Não concorda, leitor?

Em todo o caso, se nada der certo, pare de ler esse texto agora e Vá Ler um Livro! Quem sabe não dá tempo de ultrapassar a meta? ;)

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