Chuck Palahniuk, o horrror e a literatura

Alexandre Rodrigues
Cabine Literária
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3 min readAug 24, 2015

“Na turnê promocional do meu novo romance, li um conto chamado ‘Tripas’ pela primeira vez em público. A ideia era incluí-lo em um outro livro, que se chamaria ‘Assombro’. Meu objetivo com a história era causar horror com coisas bastante comuns: cenouras, velas e piscinas.

Estava numa livraria lotada em Portland, Oregon. Cerca de 800 pessoas foram suficientes para atingir a capacidade de lotação máxima. Ler ‘Tripas’ requer um certo nível de concentração e por isso você não tem muito tempo para desviar os olhos do papel. Mas sempre que eu podia, via algumas pessoas nas fileiras da frente com a cara não muito boa.

Mas foi só quando eu acabei de autografar alguns livros que um funcionário se aproximou e me disse que dois homens haviam desmaiado. Os dois despencaram no chão de concreto e não tinham lembrança alguma além de estar em pé, ouvir a leitura e acordar rodeados pelos pés das outras pessoas. A livraria estava cheia e abafada, pensei. Foi apenas uma casualidade, nada preocupante.

Na noite seguinte, em uma livraria com ar condicionado em Borders, outra grande plateia ouvia a leitura de ‘Tripas’ quando mais duas pessoas desmaiaram. Um homem e uma mulher.

No outro dia, em Seattle, mais duas pessoas foram ao chão exatamente na mesma parte da história, derrubando suas cadeiras com um estrondo no piso de madeira do auditório. A leitura teve que ser interrompida enquanto traziam os dois de volta à consciência. Foi aí que percebemos que tínhamos um padrão.

Na noite seguinte, em São Francisco, mais três pessoas desmaiaram.

Na seguinte, em Berkeley, mais três. Um jornalista que esteve nas três leituras disse que todas as pessoas caíram no momento em que eu li as palavras ”milho e amendoim”. Foi esse detalhe que fez as pessoas despencarem de suas cadeiras. Primeiro, suas mãos tombavam para o lado e seus ombros cediam, fazendo a cabeça pender para um lado. Depois, era o peso todo indo ao chão.

Na livraria de Beverly Hills, em Los Angeles, uma mulher no fundo do salão gritou pedindo por paramédicos e uma ambulância, chorando tão desesperadamente que a blusa ficou encharcada, tendo que ser torcida por seu marido, molhando o chão.

No banheiro masculino, outro homem tentava fugir da história quando se inclinou para lavar seu rosto com um pouco de água fria e desmaiou, batendo sua cabeça contra a pia.

Um repórter do Publishers Weekly escreveu um artigo com a manchete: ‘Autor de Clube da Luta derruba-os com um soco’.

Na Universidade de Columbia, no dia seguinte, dois estudantes desmaiaram. Enquanto a ambulância os levava para o hospital, meu editor foi até a ponta do palco, acenou para mim, e quando eu me aproximei, disse: ‘Acho que você já fez bastante estrago com essa história. Não termine de lê-la’.

Na Grã-Bretanha, algumas pessoas desmaiaram nas leituras em Leeds e Cambridge. Em Londres, os banheiros ficaram lotados de pessoas bem vestidas que escaparam da história para se deitar no chão frio e se recuperarem do que haviam escutado.

Até agora, 67 pessoas desmaiaram enquanto eu lia ‘Tripas’. É um conto de nove páginas, e na maioria das vezes, levo cerca de 30 minutos para lê-lo, porque na primeira metade, preciso pausar para que a plateia possa rir, e na segunda, para que ela possa ser reanimada.

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* Aqui o conto (não botei o link lá em cima para não atrapalhar a leitura).

** Depoimento no jornal inglês The Telegraph.

*** Tentei dar crédito ao autor da imagem. Só descobri que é da Playboy, que publicou primeiro “Tripas”, mas não quem o criou. A segunda é de Hybris.

**** Publicado também em Fetiche Idílico.

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Alexandre Rodrigues
Cabine Literária

Autor de “Veja se você responde essa pergunta” e “Aquilae non gerunt columbas” e de 11 contos publicados em bielorrusso.