Eu, meus livros e o gato Tutu, lá pelos idos de 2012

Um ano escrevendo sobre experiências de leitura

Como falar dos livros que li

Carla Soares
Cabine Literária
Published in
5 min readDec 14, 2016

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Entre aprendizados, textos meio contidos e tímidos, e claro, alguns acertos, consegui dar conta da tarefa que me propus lá no início de 2016: escrever sobre todos os livros que lia, a cada mês.

Tentei fazer um pouco diferente do que vejo por aí. Não quis escrever resenhas, mas sobre experiência.

A diferença talvez seja sutil pra quem lê, mas imensa pra quem escreve. Contar minha experiência com livros envolveu, por exemplo, dizer porque o escolhi — a historinha por trás da compra-troca-ganho, e porque decidi tirar da fila a leitura naquele momento em especial. Falei bastante sobre como o livro se relacionava com o meu momento, com o que andava pensando, e com as coisas que estou vivendo. Achei que assim meus escritos sobre livros se tornaram um registro não só do que tem dentro deles, mas de um determinado tempo em que me relacionei com ele. Os livros viraram uma espécie de registro fotográfico, do tempo e do espaço, de como foi me encontrar com aqueles escritos.

Pra quem lê, imagino que as pequenas pistas que vou soltando sobre quem eu era quando me encontrei com aquele livro pode ajudar na escolha mais do que uma resenha, que sempre me pareceram frias demais. Bom, essa é a minha expectativa. Pra mim, posso falar, foi uma experiência bem boa.

A verdade é que não tinha muita clareza sobre como gostaria de falar de livros quando comecei. Tinha apenas uma ideia meio vaga, mal acabada, de que queria falar da minha experiência, e não de impressões, opiniões ou só recontar o que li. Foi bom não ter sido paralisada por não ter uma ideia fechadinha.

Me senti muito aberta todos os meses a fazer a pergunta aqui com meus botões sobre como falar dos livros que a gente lê. O que é que atrai uma pessoa a um livro e a uma conversa sobre livros? Pra quem escrevo, afinal?

Vou sair de 2016 ainda carregando a vontade de continuar a me perguntar isso. E também a vontade de procurar respostas sobre como falar dos livros que lemos.

Além da pergunta, algumas outras coisas que ficaram pra mim dessa experiência de escrever sobre todos os livros que li:

  1. Achei um exercício de escrita fantástico. É só olhar a resenha de janeiro e comparar com a de novembro pra ver como melhorei e fiquei mais à vontade ao longo do tempo. Acho que só por esse ponto, já valeu a pena!
  2. Como minha proposta não era resenhar, e sim escrever sobre a experiência com os livros, precisei me colocar mais nos textos que escrevi. Sei que muita gente fala de si por aí sem problemas, mas acho isso tremendamente difícil. Foi bom poder pensar sobre esses limites, e me soltar um pouco.
  3. Registrar o que li durante o ano me fez ter mais clareza do que li, por que li, e mais clareza do quanto leio.
  4. Fiquei mais consciente também dos meu próprio ritmo de leitura. Eu não funciono no inverno. Leitura e coberta não é comigo (prefiro rede e verão!)
  5. Criei coragem nesse ano de abandonar algumas leituras. Acho muito difícil fazer isso, embora racionalmente eu ache que a vida é curta demais pra gastar com coisas que não interessam. Quero continuar aprendendo a fazer isso.
  6. Tornar pública a minha relação com os livros me possibilitou encontrar outras pessoas que gostam de livros. Isso foi lindo!
  7. Por falar em pessoas que gostam de livros, foi escrevendo que fiquei conhecendo o pessoal do #LeiaMulheres. Não só li mais escritos de mulheres nesse ano, como me organizei pra montar um clube na cidade onde moro atualmente (Pato Branco-PR). Vai rolar em 2017. Quer coisa mais deliciosa?
  8. Estou aprendendo a ser menos dura comigo mesma, e dar vazão às minhas vontades. Escrever e publicar sobre os livros foi terapêutico: ninguém me jogou pedra porque eu li livro de tarô, nem apontou dedo porque como assim você nunca leu esse livro. Parece infantil, mas é honesto meu sentimento. Eu sou medrosa. E já passei por esse tipo de situação na vida (e me senti terrivelmente mal). Talvez algumas pessoas não tenham tido paciência de ler meus textos por esse motivo, ou talvez eu tenha tido sorte de não receber esse tipo de comentário, mas se torcerem o nariz pras minhas escolhas, ora, preciso aprender a lidar com isso.
O cinemagraph fofo é da Kitchen Ghosts

Pra fechar, eu não quero falar de quantos livros li (não estou competindo com ninguém, nem comigo mesma), nem de quais os melhores livros. O melhor livro é o que serve pra gente naquele momento. Então, seguindo a ideia lançada pela na sua cartinha de banalidades, deixo aqui listas soltas, de momentos aleatórios, pra embalar o fechamento de 2016:

Livros que fiquei com vontade de ler de novo mais devagar:
Meu nome é Lucy Barton — Elizabeth Strout
Pequenas delicadezas — Cheryl Strayed
When things fall apart — Pema Chodron
Jung e o Tarô — Sallie Nichols

Livros que tive coragem de desistir (grazadeus!):
Under the skin — Michael Farber
O Livro do cemitério — Neil Gaiman
Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua — Giorgio Agamben

Livros que não tive coragem de desistir, mas acho que eu deveria ter tido:
O massagista místico — V. S. Naipaul
Além das coincidências— Martin Plimmer e Brian King
Por uma outra globalização — Milton Santos

Livros que li em viagens, e que tinham a ver com a viagem (recomendo a experiência):
Malcomidos — Soledad Barruti

Livros que me fizeram ter conversas memoráveis:
Autobiografia de um iogue — Paramahansa Yagananda
The Obesity Epidemic: science, morality and ideology — Michael Gard and Jan Wright
Carne e Pedra — Richard Sennet

Livros que recomendei a outras pessoas por motivos diversos:
A vendedora de fósforos — Adriana Lunardi
Vozes de Tchernóbil — Svetlana Aleksiévitch
Pequenas delicadezas — Cheryl Strayed
As águas-vivas não sabem de si
Em defesa da comida — Michael Pollan
Sociedade de risco — Ulrich Beck

Livros sobre comida (afinal, eu escrevo sobre isso)
Malcomidos — Soledad Barruti
Manual do herói — Sônia Hirsch
Food politics — Marion Nestle
Sal, açúcar, gordura — Michael Moss
Nutricionism — Georgy Scrynis
Em defesa da comida — Michael Pollan
Especiarias e ervas aromáticas — Jean Marie Pelt

Livros que adquiri, mas que virarão o ano na pilha dos ainda não-lidos (que venha 2017):
Uma vida pequena — Hanya Yanagihara
O morro dos ventos uivantes — Emily Brontë
Comunicação não-violenta — Marshall Rosemberg
Olhos d’água — Conceição Evaristo
Colecionando frutas — Helton Josué Teodoro Muniz
Cathedral Cats — Richard Surman
How to supress women writing — Joana Russ
Places that scares you — Pema Chodron
Seeds of Hope — Jane Godall
The green beauty guide — Julie Gabriel
50 best plants on planet— Cathy Thomas
The gift of madness — Seth Farber and Kate Millet

Esse registro dos livros que li começou em janeiro. Fique à vontade para se aventurar ou conversar sobre as minhas experiências nos links:

JaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunho
JulhoAgostoSetembroOutubroNovembro

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Carla Soares
Cabine Literária

Escrevo sobre comida e PANCs no http://outracozinha.com.br, e outras coisinhas no Mulheres que Escrevem