O que eu mais gostei de ler em 2015

Ricardo Motti
Cabine Literária
Published in
6 min readJan 6, 2016

Se tem uma coisa que o Mark Zuckerberg fez de útil na vida foi me inspirar a ler mais. Se ele resolveu se desafiar a ler um livro a cada duas semanas, resolvi fazer o mesmo só pra ganhar dele (sou competitivo).

Soava improvável, mas foi bem fácil. Tanto que em abril subi a meta para três por mês, vi que dava pra bater 40 e acabei terminando com 44.

Pela primeira vez na vida:

  • li até o final livros que não estava gostando.
  • fiz um documento pra registrar tudo que li (e também o que assisti).
  • li um livro inteiro no celular (!) e nem doeu, daí me rendi ao Kindle.
  • criei uma listinha de futuras leituras.

O melhor de tudo: ter uma meta me deixou muito empolgado. Não teve um minuto sequer em que eu pensei "que merda, preciso ler pra manter a média". Às vezes ficava animado até pra andar de ônibus.

Por tudo isso, achei que deveria fazer uma lista do que mais gostei de ler. Com vocês, o 1.º Prêmio Literário Motti, apresentado por Ricardo Motti, tendo como jurado e ditador supremo Ricardo Motti.

Troféu Farenheit 451

Fui bem cauteloso nas escolhas, para não correr o risco de empacar. Mas inevitavelmente esbarrei em alguns livros que merecem ir para a fogueira. São eles:

3.º lugar: “A maçã envenenada”, Michel Laub (2013)

Ah, o perigo das indicações. Gosto para leitura é muito peculiar. Se encontrar sua alma gêmea literária, cuide dela. Enfim, pedi indicação de livro para uma pessoa cujo gosto não conheço, ela falou esse, não tinha a ver comigo, terminou em desastre.

Achei um draminha juvenil meio bobo e passei as 120 páginas amaldiçoando minha burrice. Pelo menos foi curto. (Vale registrar que as últimas cinco páginas são boas.)

2.º lugar: “Leite Derramado”, Chico Buarque (2009)

Li em fevereiro e foi tão chato que só lembro de torcer muito pra acabar. Não lembro nome do protagonista e nem do que se trata. E olha que eu adorei “Budapeste”.

Campeão: “Deuses da Bola — 100 anos da Seleção Brasileira”, Eugenio Goussinsky e João Carlos Assumpção (2014)

Ok, eu literalmente botei fogo nesse livro. Como já falei antes: não leia.

Troféu Pequeno Príncipe

Vez ou outra um livro me motiva a tentar algo novo (ou aprofundam psicoticamente o interesse que eu já tinha em algo). Com o risco de parecer auto-ajuda, os livros que mais me inspiraram:

3.º lugar: “The Examined Life”, Stephen Grosz (2012)

Um cara que é psicanalista há 20 anos contando causos sobre pacientes. Explica um cara que é mentiroso compulsivo, uma senhora que toda hora tem problemas, outro que se preocupa com tragédias distantes pra não olhar para os próprios problemas e por aí vai.

Cada história tem poucas páginas. É rápido, objetivo e uma delícia de ler. Me faz olhar pras pessoas e pra mim mesmo de um jeito diferente. E me deu vontade de ser psicoanalisado. Quem sabe em 2017.

2.º lugar: “What I Talk About When I Talk About Running”, Hideki Murakami (2007)

Eu estava começando a levar corrida mais a sério. Mas esse livro foi o carimbo de homologação de ok-correr-parece-perda-de-tempo-mas-também-é-uma-atividade-intelectual.

Gostoso de ler, interessante e motivador. Até demais: depois que eu li, exagerei um pouco e tive uma contusão que me deixou quase dois meses parado.

Campeão: “Ela Me Dá Capim e Eu Zurro”, Fabricio Corsaletti (2014)

Em algum almoço de família, abri uma Revista Sãopaulo e li uma crônica fantástica. Anotei mentalmente o nome do autor e aguardei alguma promoção pra comprar um livro dele. No caso, foi essa coletânea de crônicas; eu odeio ler coletâneas de crônicas.

Mas o cara escreve de um jeito incrivelmente simples e interessante. Te faz pensar "poxa, não precisa de firula pra escrever, eu devia tentar também". Foi graças ao Fabricio que eu arrisquei meu primeiro texto no Medium. Serei eternamente grato.

Troféu Metamorfose

Gosto quando um livro me ensina algo, muda minha visão sobre alguma coisa e me deixa 4% diferente. Por isso, os livros de não-ficção que me transformaram um pouquinho:

3.º lugar: “The Disaster Diaries: One Man’s Quest to Learn Everything Necessary to Survive the Apocalypse”, Sam Sheridan (2013)

Imagina: acontece uma hecatombe global e você sobrevive, mas morre logo depois porque está fora de forma ou não sabe atirar. Trágico, né? Bom, o autor resolveu ser a pessoa mais preparada para o fim do mundo.

A cada capítulo, ele conta sobre algo que foi aprender. Lutar com faca? Temos. Primeiros socorros? Claro. Sobreviver no frio? Fazer fogo? Roubar um carro? Sim, sim, sim. Instrutivo e muito bem-humorado.

2.º lugar: “Perv: The sexual deviant in all of us”, Jesse Bering (2013)

Imagina ser gay em 1850 e ser perseguido e isolado socialmente. Adiante para 2015 e pensa as consequências sociais de ter um fetiche por, sei lá, formigas.

A tese do livro é que as preferências sexuais de cada um são tão únicas quanto impressões digitais. Passa por várias parafilias, porque isso existe, porque todo mundo tem alguma e porque somos tão encanados com isso.

Tudo isso de um jeito extremamente leve e divertido. Afinal, tem uma ovelha na capa.

Campeão: “Barbarian Days: A Surfing Life”, William Finnegan (2015)

Melhor jeito de explicar: é o “What I Talk About When I Talk About Running” do surf. Um jornalista passou a vida viajando atrás de ondas, mas nunca levou isso a sério. Até que resolveu fazer suas memórias praianas, dividida em looooongos capítulos que coincidem com os lugares onde ele viveu.

Nunca fiquei em pé numa prancha, mas adorei passar as 450 páginas lendo sobre o assunto. É desnecessariamente longo, mas não dá vontade de acabar. Leitura tão gostosa que dá pra se imaginar boiando na praia, ainda que o balanço seja do ônibus descendo a Brigadeiro.

Troféu Marvel

Na dúvida, eu leio não-ficção. Acho que sou meio crítico com os autores criativos. Por medo de cair em algo chato, acabo vergonhosamente descambando pra livros que viraram filmes: se Hollywood investiu US$ 30 milhões em algo, deve ser no mínimo digerível.

De qualquer forma, esse ano decidi igualar o jogo e li exatamente o mesmo número de cada. E os livros de ficção que mais me encantaram foram:

3.º lugar: "Três Mulheres de Três PPPês", Paulo Emilio Sales Gomes (1984)

Nunca tinha ouvido falar, só comprei porque estava em alguma promoção da Cosac Naif. Ficou encostado na pilha por meses, até que li e… uau. São basicamente três longos contos com o personagem-narrador unindo todos eles.

Cada uma das histórias é contada em primeira pessoa pelo narrador neurótico e tem uma virada surpreendente que lembra episódios de Black Mirror. Ei, Hollywood, filma esse!

2.º lugar: “Planet of the Apes”, Pierre Boules (1963)

Comprei como leitura de aeroporto, mas foi quase um tratado antropológico sobre a relação entre humanos e animais.

Ok, exagerei. Mas é basicamente o ponto de vista de um humano tentando entender uma sociedade de animais e depois tentando provar que é inteligente. Se um chimpanzé começasse a falar, quanto tempo a gente demoraria pra acreditar que ele realmente pensa? É isso. E é perfeito como leitura de aeroporto.

Campeão: “Fim”, Fernanda Torres (2013)

Tudo que eu pensava enquanto lia era "como?". Como uma autora descreve sentimentos tipicamente masculinos tão precisamente? Como é possível um jeito tão inovador de contar uma história? Como descrever um ataque cardíaco fulminante de forma tão convincente?

É simultaneamente complexo e agradável como uma música do Wilco no Yankee Hotel Foxtrot. Fiquei deslumbrado com cada escolha que ela fez.

Foi o livro que eu mais gostei no ano e o primeiro que vem na cabeça quando alguém me pede uma indicação. Só tomem cuidado, posso não ser sua alma-gêmea literária.

E em 2016? Como as metas de 2015 eram puramente numéricas, eu preferi livros fáceis ou curtos e deixei coisas muito densas na estante.

Então as metas agora são: 25 livros no total, mas seis precisam ser "difíceis". Torçam por mim.

A lista de tudo que eu li e assisti em 2015 está aqui, ó: http://bit.ly/1U7HnpV.

E se quiser saber o que eu aprendi anotando tudo que li e assisti, dá uma olhada nesse texto. :)

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