O que o futuro vai pensar dos homofóbicos?

Um texto sobre como tudo precisa mudar, evoluir, crescer e se adaptar

Jim Anotsu
Cabine Literária

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por Jim Anotsu

Uma das minhas bandas favoritas é o My Chemical Romance.

Eu me lembro de estar ouvindo o primeiro álbum deles nos meados dos anos 2000. Era uma mistura de horror punk com violência de HQ e toques góticos suburbanos — uma mistura que muita gente tratou de catalogar como Emocore, embora não tivesse nada a ver com bandas como Minor Threat, Sunny Day Real Estate, The Get Up Kids ou Mineral, bandas emos de verdade. Então, de repente, eles lançaram “The Black Parade” — depois do estrondoso sucesso de “Three Cheers For Sweet Revenge” e ficaram mundialmente famosos. Foi nessa época que o emo 2000 chegou ao Brasil e bandas como a Fresno e NX Zero explodiram na cena mainstream e alternativa. “The Black Parade” foi um ponto de virada no fazer pop da banda e impossível de ser ignorado. Bem, o que isso tem a ver com o tema de hoje? Tudo, porque as coisas são feitas de mudanças, tudo precisa mudar e evoluir e crescer e se adaptar.

Essa semana eu estava lendo sobre o caos que aconteceu por causa do comercial com um casal homossexual daquela perfumaria famosa e como um monte de gente ficou “ofendida”. Como tinha um pastor homofóbico pedindo boicote de um lado, pessoas postando comentários ofensivos do outro, mil mais confrontos virtuais. Tudo o que eu conseguia pensar era: Em que ano vocês estão vivendo? Não há nada para brigar ou xingar, a única coisa que aconteceu foi de uma empresa chegar no século XXI e se adaptar. O mundo dos negócios e da publicidade é sempre mais atrasado do que a realidade. O que eles mostraram na propaganda não deveria ser algo espetacular, diferente e novidade, estamos em 2015, deveria ser a norma — o mesmo vale para beijo gay em novela, protagonistas negros e boas personagens femininas em filmes de ação.

Não devíamos ter pessoas se sentindo doloridas por causa disso ou por coisa parecida, os tempos estão mudando e o zeitgeist costuma ser cruel com quem insiste em confrontá-lo. Pense só na forma como olhamos para fotos de linchamentos nos E.U.A da era Jim Crow, como olhamos para os brancos orgulhosos e assassinos daquelas fotos e pensamos: Criaturas patéticas. O mesmo que — a maioria, acredito — pensa ao ver neonazistas em pleno 2015. Agora, pense como o futuro vai olhar para um Malafaia ou Datena no futuro. Uma geração nova está surgindo e com mais acesso a conhecimento do que todas essas pessoas jamais tiveram. Um grupo de jovens que faz conexões pessoais pela internet e que se organiza de forma on-line. Uma geração que não depende mais de uma Rede Globo, Veja, pastores e afins para se descobrir e interpretar a visão de mundo, estão se organizando em grupos e coletivos e espaços virtuais. Um adolescente de hoje não precisa mais passar pelo tipo de alienação social que eu passei nos anos 2000. O tempo está mudando.

Mudar não é ruim, a vida é feita de mudanças.

Acho é justamente o fato de as coisas mudarem que nos impulsiona a tentar ser mais, a crença de que algo pode ser diferente impele a humanidade a tentar criar, construir e lançar foguetes ao espaço. Fico pensando na Voyager 1 que saiu do nosso sistema solar em agosto de 2012 — para longe do toque do nosso sol. Pense só, um aparelho que nós, a humanidade, lançamos ao espaço em 1977 e viajou longe o bastante para alcançar um espaço nunca antes sonhado. Eu acredito que é justamente nossa ambição por mudanças, por descobrir e criar que nos impele a fazer coisas assim. Buscamos a mudança nas coisas pequenas e grandes, nos maiores e menores detalhes, porque o dia em que pararmos de nos mover — como indivíduos e como sociedade — é o dia em que deveríamos morrer, porque não há nada que possa nos maravilhar então.

A sociedade está mudando — finalmente, aos poucos — e pessoas que antes não tinham voz estão ganhando seu espaço cada dia mais, todo mundo que já foi um perdedor ou que foi silenciado está gritando com todo o ar dos pulmões. Eu sei que isso irrita quem já está acostumado com a forma antiga, com todas as minorias em “seu devido lugar” e com o mesmo tipo de hierarquia. Contudo, esse mundo passou, está morrendo e muita gente entendeu que a única forma de não nos autodestruir como um todo é aceitando e respeitando todas as diferenças. É como em Independence Day, um dos filmes que mais curto, apesar do excesso de patriotismo americano, mas whatever. Uma das minhas partes favoritas é quando todas as nações se unem para atacar os ETs, um ataque global e unido, sem diferença se era Oriente Médio, Japão ou U.S.A. É disso que precisamos no nosso mundo, de unir todo mundo — não sei se precisamos de um ataque alienígena para que isso aconteça.

A mudança pode assustar, mas ela não precisa ser ruim, ela pode ser o começo de algo maravilhoso. Pense só em como Doctor Who conseguiu ficar 50 anos na televisão — tá, eu sei que teve um hiato dos anos 80 até 2005, mas você entendeu — sendo apoiado no conceito de mudança. Eu sei que muita gente amava o primeiro Doctor e sentiu medo quando Patrick Throughton pisou na Tardis, mas foi essa mudança que nos trouxe tudo o que temos. Eu sei como eu me senti quando David Tennant e Matt Smith se regeneraram, mas hoje eu já amo o Peter Capaldi e sei que muitos outros ainda virão. A mudança está em tudo que nos rodeia, nas nossas séries, filmes, músicas e livros, por que não estaria em nossas vidas?

“Estamos no começo de algo muito bom, não precisa ter nome não”.

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Jim Anotsu
Cabine Literária

Autor de “Rani e o Sino da Divisão”. Emo velho. Um panda sociopata. O tipo de coisa que seus pais odiariam. Ama batatas. @jimanotsu