O ethos da distopia segundo Stanislaw Lem

Alexandre Rodrigues
Cabine Literária
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2 min readDec 11, 2016

Comparado à maioria dos escritores de ficção científica, o pensamento de Lem era desinteressado e abrangente. Em obras como a Summa Technologiae, de não ficção, ele explorou as possibilidades da inteligência artificial, da realidade virtual e da engenharia genética, comparando o avanço tecnológico à evolução biológica. Assim como a evolução não tinha uma agenda moral, argumentou ele, os desenvolvimentos tecnológicos não eram inerentemente bons nem ruins, mas seguiam sua própria lógica interna. Ao contrário da maioria dos aspirantes a profetas, que predizem o futuro com avisos de distopia ou promessas de um amanhã melhor, Lem abordou o assunto sem um tom moralizante.

Mas em sua ficção, Lem explorou as armadilhas que o futuro poderia oferecer. Sua experiência vivendo sob ocupação alemã imprimiu nele o papel do acaso na vida e a facilidade com que aquela vida poderia ser apagada. Os absurdos do comunismo autoritário e os perigos da Guerra Fria ilustravam ainda mais o perigo que a humanidade representava para si. O pior de tudo é que a construção de sistemas ideológicos opressivos parecia ocorrer por meio de processos que seus participantes não conseguiam impedir, nem mesmo entender completamente”.

Do perfil de Stanislaw Lem (Solaris, O incrível congresso de Futurologia, Memórias encontradas numa banheira), um dos mais inusitados escritores de ficção científica, cuja morte completou dez anos em 2016.

E em Pinterest, essa página maravilhosa só com ilustrações e capas de obras dele.

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Alexandre Rodrigues
Cabine Literária

Autor de “Veja se você responde essa pergunta” e “Aquilae non gerunt columbas” e de 11 contos publicados em bielorrusso.