Por que não sou a favor de publicações pagas para livros

Depois não diga que não avisei

Danilo Leonardi
Cabine Literária

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por Danilo Leonardi

Às vezes tenho insônia, mas não do tipo criativo. Insônia do tipo entediante, que me dá vontade de fazer nada. Nessas horas eu gosto de visitar meu Kiwi, que é um site/aplicativo de perguntas e respostas.

Eu não visitava o Kiwi há várias semanas, então a quantidade de perguntas acumuladas era imensa. A maioria era genérica e eu simplesmente deletei, outra boa parte era de perguntas bastante ofensivas e também acabaram no lixo, mas sempre existem aquelas que nos provocam o suficiente para respondê-las. E justamente um anônimo me deixou irritado, o que me levou a respondê-lo de forma um pouco rude.

Não estou falando sobre uma das perguntas sexuais (Ativo ou passivo?) ou das que são simplesmente clichês (O que te faz sorrir pela manhã?), mas uma clássica sobre publicação:

Você pagou pra ser publicado?

Minha irritação não tem um fundo elitista. Eu não acho que todas as pessoas que pagam pra publicar são piores do que as que não pagam. Ser escritor, inclusive, não faz de ninguém uma pessoa melhor. O problema é a mentira que é vendida junto com isso.

Veja bem. Sou autor de “Por que Indiana, João?”, um livro que não alçou a lista da VEJA, mas vendeu razoavelmente bem, dada a quantidade de pessoas que me seguem, principalmente pelo Cabine Literária.

Portanto, eu tinha os seguidores e eu tinha um tema de interesse geral: bullying. Quédizê, não era mais um livro sobre vampiros nem mais um livro sobre dragões nem sobre uma menina que tem um trauma e arranja um namorado. Em resumo, o mercado estava aberto pra mim.

Reconheço que escritores que ou não têm seguidores suficientes ou um livro fácil de ser trabalhado (com tantos livros pra lançar, que editor quer ter trabalho extra?) sintam-se tentados a usar um serviço de publicação paga.

Nem todo mundo tem visão de mercado,

e isso não é problema. É possível encontrar o seu público sozinho. Faça o e-book, imprima seu livro e vá atrás dos seus leitores.

Nesse caso, eu só questionaria a racionalidade de usar uma editora como mera intermediária da gráfica. Por que não mandar o arquivo diretamente e economizar vários milhares de reais?

Mas não. O problema está em fazer pensar que o serviço é muito mais do que pegar o arquivo e mandar imprimir. O escritor fica com a ideia de que receberá pelo seu dinheiro o mesmo tratamento que o escritor que foi convidado. E isso não é verdade.

Então eu fico com raiva quando vejo amigos meus pagando preços abusivos por um serviço que não vão receber, e me sinto pessoalmente ofendido quando perguntam se essa foi a minha escolha.

Na primeira vez que perguntaram, eu respondi numa boa. Falei não pagaria, porque não acho legal. Aí veio a segunda, terceira, quarta…

Dessa vez, respondi que conheci minha editora no Tinder e paguei a publicação com meus conhecimentos matemáticos.

Isso se chama ser babaca com senso de humor.

E convenhamos. Quem me pergunta isso, não está realmente interessado em mim. Quer saber apenas se eu recomendo as publicações pagas. Então, caro anônimo, peço humildemente que perdoe minha resposta rude e aceite este texto em retorno.

Caso tenha ficado alguma dúvida, apenas aceite publicar pagando caso tenha dinheiro de sobra e muita disposição pra supervisionar a revisão, diagramação, capa, distribuição e divulgação do seu livro.

Mas a editora disse que ia cuidar de tudo.

Não conte com isso. Se você quer que te levem a sério, comece se levando a sério. Junte sua dedicação, criatividade, disciplina, autocrítica, e vá atrás do seu sonho.

Já que sua publicação não é boa para o mercado, mas você quer tanto ser lido, que tal usar a autopublicação de e-books da Amazon? Ou mesmo disponibilizar o texto gratuitamente no Wattpad? As opções pra quem quer ser lido são imensas.

Ou então, sei lá, desista e vá fazer outra coisa.

Faça o que quiser, só não diga que eu não avisei.

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Danilo Leonardi
Cabine Literária

Escritor de livros jovem-adultos e criador de conteúdo / YA writer and content creator