Cap 7. — O Sol de Tumalina pt. 2

ravi freitas
Cacto0083
Published in
2 min readJun 22, 2020

Maria não acreditava no que via. Um Cacto inteiro e desligado bem na sua frente. Agora entendia o porquê das janelas estarem todas cobertas: cactos funcionam a base de energia solar, e aquele provavelmente era um defeituoso que precisava ser desligado.

Com a primeira ferramenta que achou na oficina, acertou 83 bem no rosto. Acertou mais uma vez no peitoral, no queixo e derrubou a máquina. Pensou em bater mais uma vez, mas se viu incapaz de acertar o robô. Apesar de ser um Cacto, ele estava desligado, e se sentiu estranha com seu desejo de destruir completamente uma criatura que, naquele momento, estava indefesa.

Com correntes, cordas e outras partes mecânicas espalhadas pelo local prendeu 83 e retirou a cobertura de uma das janelas. Primeiro ela imobilizaria aquele robô defeituoso e, caso ele funcionasse, aí sim ela iria destruir ele pedaço por pedaço.

O Sol de Tumalina entrava pela janela, iluminando mulher e máquina. Enquanto o suor na sua pele marrom fazia com que ela brilhasse, a superfície do robô absorvia aquela luz e fazia seus circuitos zunirem. Aos poucos 83 ganhava seus movimentos, limitados pela astúcia de Maria.

Ela esperou o primeiro movimento agressivo do Cacto pra justificar sua real intenção, mas a máquina não se movia. Pelo contrário, tinha o olhar fixo nela. Tentou levantar seu braço e não conseguiu. Tentou mover a perna e também não conseguiu. E assim ficou, parado.

“Mexe seu filho da puta, me ataca que eu vou quebrar você todo na porrada!”

A máquina começou a mexer. Balançava a cabeça de um lado pro outro. Maria decidiu se aproximar e livrou um dos braços dele, colocando a mão dele em seu pescoço. Ele delicadamente retirou e colocou em seu próprio pescoço. Ela não entendeu.

Cacto-0083 não era uma máquina descontrolada. Era apenas uma máquina que não estava sob controle.

Em pouco tempo percebeu que a máquina copiava alguns dos seus movimentos. Balançava a cabeça quando ela balançava. Cerrava os punhos quando ela cerrava. Decidiu então colocar sua mão no pescoço de 83. Ele levantou a mão devagar e encostou no pescoço dela. Ela apertou. Ele não.

Gentilmente 83 levantou seus dedos e passeou pelo rosto de Maria, que se chocou em ver a máquina que outrora matou tantos dos seus colegas agindo de maneira tão inofensiva. Começou a questionar a máquina sobre sua origem, sobre sua essência e sobre sua existência. A máquina, incapaz de emitir sons, não respondia. Apenas acompanhava os passos dela com a cabeça.

Sem o conhecimento dos dois, uma voz conhecida veio da entrada principal do armazém. “Bota as mão pra cima bem devagar”. Distraída pela máquina, Maria não notou a chegada de Caçador, que apontava um revólver pra ela.

--

--

ravi freitas
Cacto0083

eu sou o inverno russo matando todos aqueles que se aproximam