Eu e o Budismo

Caroline Pestana
Cada lua que vejo
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5 min readJun 3, 2020

As pessoas costumam dizer que o budismo é uma religião, mas pra mim não é bem isso. Na minha concepção de religião e na minha concepção de budismo — simplesmente não combinam. Pra mim, o budismo é uma linda e antiga filosofia de vida. Mas o mais importante: o budismo não prega um deus, o budismo prega o amor. E é isso que mais me encantou nele.

O Buda, era o príncipe Sidarta Gautama, que cresceu protegido no luxo do castelo, pois seus pais tinha medo da profecia de que o menino iria se tornar no futuro um grande rei e que renunciaria ao mundo material para que se tornasse um homem santo, e por isso não o deixavam sair do palácio.

Obviamente um dia, com 29 anos, o príncipe deixou o palácio e, ao ver toda a pobreza e o sofrimento das pessoas, iniciou sua vida espiritual e se desligou da vida material. Após muito conhecimento, muita meditação e jejum, já com 35 anos, Sidarta se sentou embaixo do que hoje conhecemos como árvore de Bodhi, na Índia, e prometeu não sair dali até que alcançasse a iluminação espiritual. Foi lá que o príncipe atingiu o Nirvana, se tornando o Buda, o Iluminado, e passou a ensinar o darma aos seus seguidores.

É preciso entender que Buda não é um deus. Nunca foi. Muita gente por falta de conhecimento acha que o Buda é um deus para os budistas, mas não é, é apenas um guia, um homem que alcançou o nirvana.

Isso é algo que me identifiquei muito no budismo pois Buda nunca pregou a existência ou não de um deus. Hoje em dia, com as muitas ramificações do budismo que se espalham pelo mundo, existem muitas variações. Alguns ramos são ateístas, outros são panteístas e outros, ainda, teístas. Mas o budismo clássico, nunca falou sobre a existência de um deus, sendo considerado ateísta.

O Budismo não fala de Deus. Para o budista o mundo é um conjunto de forças, ou elementos, que se transformam e interagem num ciclo eterno de equilíbrio. O ser humano é só uma parte desse ciclo e a ideia de identidade individual é para eles uma ilusão. A única forma de se libertar desse ciclo é atingir o estado de nirvana, que é quando se desliga de todas as ligações com o mundo material e se apaga a identidade. Quando uma pessoa atinge o estado de nirvana é chamado de “Buda”, que significa “esclarecido”. Há muitos ramos diferentes do Budismo e alguns incorporam os deuses de outras religiões, como a religião Hindu. Mas o ensinamento central do Budismo ignora a questão de Deus. O importante para eles é o trabalho de cada pessoa durante sua vida.

Então, o que o budismo ensina? Basicamente, o que Buda aprendeu quando atingiu o nirvana, e que ficou conhecido como os 4 princípios ou verdades fundamentais:

  1. ver­da­de do sofri­men­to;
  2. ver­da­de da ori­gem do sofri­men­to;
  3. ver­da­de da ces­sa­ção do sofri­men­to;
  4. ver­da­de do cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofri­men­to.

O Comentário sobre o Tratado da Visão do Meio diz: “As Quatro Nobres Verdades são o ponto de passagem entre a ilu­são e a ilu­mi­na­ção. Quan­do elas não são com­preen­di­das, persis­te o apego aos Seis Reinos. Se com­preen­di­das, alcan­ça-se a san­ti­da­de”.

O budismo constantemente prega o amor, a solidariedade, a bondade, a responsabilidade sobre suas ações (e as consequências), e sobre como devemos deixar de lado os sentimentos negativos.

Portanto vou contar como mudei minha vida:

  1. Passei a lutar contra os sentimentos negativos.

Sentimentos como o ódio, a raiva, o rancor, surgem de momentos conflituosos. Mas nós podemos afastar esses sentimentos e transformar em coisas boas. Desejar o bem a quem nos faz mal é de uma dificuldade enorme, mas facilita muito se mudarmos nosso jeito de ver essa pessoa e entendermos que o que ela faz é reflexo do que há dentro dela, e que ela só vai parar quando tiver paz consigo mesma.

2. Passei a espalhar o amor.

Seja fazendo voluntariado, ou simplesmente ouvindo alguém que precisa desabafar. Seja não dando corda para pessoas que te desejam o mal, ou compartilhando o seu conhecimento. É preciso espalhar amor por aí.

3. Lutei contra maus pensamentos.

Seja em relação aos outros ou a mim mesma, maus pensamentos nos contaminam e impedem de seguir em frente e sermos felizes.

4. Passei a entender que preciso cuidar de mim mesma.

E com esse entendimento passei a cuidar do meu corpo e da minha alma, através de exercícios, repensando a alimentação e meditação. O yoga passou a fazer parte da minha vida, assim como muitas coisas deixaram de fazer.

5. Me protegi de pessoas invejosas, rancorosas, estressadas…

Pois pessoas com sentimentos ruins inflamam e contaminam todos a sua volta. Pessoas em fases ruins precisam de ajuda, claro, mas devemos ajudar sem deixar que essas pessoas nos prejudiquem ou inflamem com seus pensamentos.

6. Passei a aceitar o sofrimento e entender que é parte da vida.

Afinal, é o ensinamento de Buda, e quando se aceita e busca entender e aprender com o sofrimento, a alegria vem muito mais rápida e sólida.

7. Me coloquei no centro da minha vida

Passei a aceitar o fato de que eu é que estou no controle, e nunca mais culpei os outros pelos meus erros ou problemas. Hoje entendo que apenas eu tenho o poder de mudar minha vida, meus pensamentos, meu corpo, meus relacionamentos, e só o fato de se colocar no controle e aceitar isso, já muda tudo.

Isso é só um pouco do que aprendi com o budismo, e o que já consegui colocar em prática. Não sou perfeita e nunca serei. Sou humana, afinal. Mas acredito que estamos todos em uma constante evolução, e busco sempre melhorar.

Alguns dias é mais difícil, outros mais fácil, mas com o tempo tem se tornado tudo muito natural. Fazer o bem atrai o bem e te incentiva a continuar. É como começar a se exercitar e ver os resultados em seu corpo, seu bem estar e seu ânimo — é o maior incentivo para continuar treinando.

Nesse momento estou lendo muito e aprendendo cada vez mais sobre o amor mais puro pregado pelos budistas. Com certeza um dia postarei a respeito por aqui para compartilhar as coisas lindas que estou aprendendo e -tentando- aplicar no dia a dia.

“Nossos verdadeiros inimigos são os maus pensamentos. Podemos fugir de inimigos externos. Mas o ódio e a raiva permanecem conosco, mesmo quando fechamos as portas atrás de nós. Quando temos pensamentos negativos, prejudicamos sobretudo a nós mesmos porque mesmo as coisas mais belas já não nos deixam felizes.” Dalai Lama

Texto de 01/03/2017.

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Caroline Pestana
Cada lua que vejo

Brazilian writer and lawyer. Trying to make sense of things.