Aos 16, decidi morar em um garimpo na Amazônia. E essa decisão mudou minha vida.

Ligia Guimarães
Cada Uma

--

Por Ligia Guimarães, do Cada Uma.
Siga a gente no Twitter! E, se quiser ajudar a espalhar o amor, recomende esta história clicando no coraçãozinho ali no pé da página.

O futuro de Lilian não parecia muito promissor em 1985, na bela cidade histórica de Porto Seguro, na Bahia, onde ela cresceu.

Aos 16 anos, ela se viu sozinha e perdida após o falecimento da avó, que era sua principal referência materna.

Três décadas depois, a realidade é outra: Lilian é empresária, dona do próprio nariz, cidadã do mundo e mãe de dois filhos. Ela é dona de um badalado spa especializado nos famosos tratamentos de beleza brasileiros. Emprega 26 pessoas no bairro de Astoria, no Queens.

Lilian contou sua história — e as decisões que fizeram dela a mulher que ela é hoje — ao Cada Uma.

  1. Decisão que me dá mais orgulho na vida

“Quando minha avó faleceu, fiquei perdida: sem casa, aos 16 anos de idade, sozinha e sem lugar para morar. Um dia uma amiga maluca me chamou e disse: vamos pegar carona e sumir no mundo? Aceitei. Fomos para a estrada e viajamos até Goiânia (GO)em caminhão de cerveja.

A decisão de entrar naquele caminhão é a que mais me orgulha, porque exigiu muita coragem e mudou o rumo da minha vida.

Passamos uns meses em Goiânia, até que essa mesma amiga louca me fez um novo convite: vamos para o Amazonas? Voltamos para a estrada ecabamos indo parar em um garimpo no meio da Amazônia. Não sei nem te dizer o nome do lugar porque não é uma cidade, é um ponto no meio da floresta. Você só chega lá de avião teco-teco”.

2. Sonhei ficar rica vendendo produtos do Paraguai para os garimpeiros

“Você já assistiu Serra Pelada? É uma coisa parecida com aquilo. 300 homens moravam lá. E de mulheres só havíamos eu, minha amiga e uma senhora.

Chegamos em Alta Floresta, a cidade mais próxima do garimpo, de teco-teco e sentadas em fardos de arroz. Porque era um avião para levar comida, não tinha lugar para passageiros.

Nós que insistimos tanto, porque pensávamos: vamos ficar ricas vendendo para os garimpeiros!

Conhecemos o dono dessa mineração, pedimos e pagamos por um lugar para ficar. Ele permitiu que ficássemos no alojamento dele, onde ele guardava o ouro e havia um monte de guarda-costas.

Mas a minha amiga não aguentou e foi embora depois de uns três meses. Mas combinamos de continuar o negócio: ela continuava comprando as coisas do Paraguai e mandando para mim. Eu me apaixonei pelo dono do garimpo e fiquei lá por três anos”.

3. Aos 23 anos, tinha três quilos de ouro e vontade de empreender

“Moral da história: eu ganhei muito dinheiro nesses anos vendendo coisas do Paraguai para os garimpeiros. Quando eu saí de lá eu tinha quase três quilos de ouro. Eu vendia radinho de pilha, desodorante, relógio, calça jeans, camiseta. Minha moeda era pesar o ouro na balança. Então eu não comprava nada, eu só derretia e ia guardando.

Quando eu voltei para Porto Seguro, no início dos anos 90, eu tinha 23 anos e tinha uma boa quantia de dinheiro.

Fui uma das primeiras pessoas a abrir lojas de souvenir em Porto Seguro. Não tinha nem concorrente. Montei quatro lojas com a minha irmã e fiquei com uma vida financeira bem razoável”.

3. Vim passar seis meses em Nova York e nunca mais voltei

“Quando as lojas em Porto Seguro estavam indo bem — eu já estava nos meus 30 — decidi: vou passar seis meses em Nova York. Logo me apaixonei pela cidade. Aluguei um apartamento e fiquei passeando, dando uma vida diferente para a minha filha, Bianca, que à época tinha 8 anos, podia estudar inglês na escola.

Hoje a Bianca tem 24 anos e está se formando em Direito Criminal, e quer ajudar mais a comunidade brasileira em Nova York. E também sou mãe do David, que tem 15 anos.

Vendi minha parte das lojas de souvenir no Brasil e abri uma loja de roupas em Nova York. Vendia marcas brasileiras bacanas. Cheguei a ter uma no Soho, uma no Queens e outra na avenida Lexington, que fizeram muito sucesso. Aí quando o dólar chegou a R$ 1,20, no fim da década de 90, eu fali.

Falida, fiquei amiga de uma moça que tinha um salão de beleza e estava precisando vender. Vi o negócio dela e achei que poderia fazer melhor. Decidi passar as lojas para a minha irmã e comprei o salão. Comprei, botei tudo abaixo e fiz novo. Já saímos no New York Post, no ABC, no I Live Astoria, no Pequenas Empresas, Grandes Negócios.

Sou muito sortuda. Mas também já ralei muito”.

O Cada Uma acredita que há infinitas maneiras de ser uma mulher incrível, e que ninguém deve julgar suas decisões de vida. Não há nada mais feminista do que ser livre!

Queremos contar mais histórias inspiradoras! Conhece alguma? Nos escreva no leiacadauma@gmail.com

Siga o Cada Uma no Facebook
E no
Twitter

--

--

Ligia Guimarães
Cada Uma

Brazilian journaist. 2016 Fellow at the Tow-Knight Center. MBA em economia pela FIA. Into economic, gender and social issues.