A Barbolandia está de volta! Bate papo com Bruno Melo

Juliana Theodoro
Cadê as três?
Published in
7 min readApr 26, 2018
Imagem: Bruno Melo (arquivo pessoal)

Sabe aquele sonho de criança de ser astronauta, jogador (a) de futebol, escritor (a) ou até mesmo desenhista de histórias em quadrinhos? Pois é, às vezes a gente cresce e esse sonho vai ficando lá atrás e aparecem na nossa cabeça de vez em quando como uma nostalgia da nossa inocência da época, afinal, a vida é muito complicada e nem todos os sonhos se realizam, o que é verdade…

Porém para alguns mais ousados, como o Bruno, esses sonhos podem sim ter lugar na vida adulta. Tive o prazer de conhecer a Barbolandia em 2014, por meio de um amigo quando eu estava trabalhando na edição de um jornal infantil. Adorei a aventura e a história do Bruno Melo, autor do livro “A Fuga do Herdeiro” (primeiro livro da série) lançado dois anos antes.

O Bruno é publicitário e autor infanto-juvenil, além de ser o fundador (e proprietário; tá, meu bem?) da Barbo House, editora responsável pela série ambientada na Barbolândia. Quando eu soube que o segundo livro da série estava saindo do forno, pedimos para o Bruno uma entrevista para a gente conhecer mais um pouquinho do trabalho dele, que é incrível, e saber o que tem de novo chegando. Bora lá?

Ah! Para você que não conhece a Barbolandia, vou fazer um resuminho maroto: A Barbolandia é uma ilha fictícia (só para quem não leu o livro, quem já conhece sabe que é verdadeira ;) ) que fica no Oceano Atlântico e possui três cidades: Capital, Savana e Salpicos. Em A Fuga do Herdeiro, primeiro livro da série, Ryan Day é o herdeiro de uma família muito rica que não vê a hora de que ele assuma os negócios da família, o que ele não está nem um pouco a fim de fazer, então há uma fuga e muitas, muitas aventuras.

Cadê as três?: Bruno, como começou essa vontade de ser escritor e por que de livros infanto-juvenis? Você se dá bem com crianças ou as suas histórias são para sua criança interior?

Bruno Melo : Até meus 15 anos, meu sonho era ser desenhista de HQs. Eu lia muitas histórias em quadrinhos da Disney e da Turma da Mônica. Eu comecei desenhando HQs do Pato Donald e inventei histórias da minha cabeça. Acho que foi daí que tomei gosto pelo tema infanto-juvenil. Mas, com o passar do tempo, percebi que eu tinha mais talento para escrever os roteiros das HQs que eu queria desenhar, do que realmente pôr a mão na massa e pintar a arte final. Os desenhos quase não passavam do lápis e eu nem tinha muita paciência para colorir. Já os roteiros, eles eram cada vez mais cheios de detalhes… Ao mesmo tempo, comecei a ler mais livros na escola e ser influenciado pelo poder da literatura… Foi assim que eu decidi ser apenas escritor.

C3: A Barbolândia é uma ilha no Oceano Atlântico, com as coordenadas 23ºN, 66ºWE, no Trópico de Câncer, se nós seguirmos essas coordenadas onde vamos parar realmente? Hahah

BM: Barbifeito! Olha aqui, hehe. Se você reparar, Barbolandia fica dentro do Triângulo das Bermudas — uma região cheia de mistérios!

C3: E você como foi parar na Barbolandia? Como este mundo surgiu para você?

BM: Minha casa era Barbolandia! (risos) Eu já brincava de Barbolandia com meus brinquedos de criança. Só foi virar história quando, um dia, meu pai disse que eu devia criar meus próprios personagens, caso eu quisesse publicar de verdade uma HQ. Conceber os personagens não foi difícil, afinal eu tinha brinquedos que formavam uma espécie de turminha que passava por diversas aventuras; eu criei uma personalidade para esses brinquedos, pensei em um cenário e pronto… Foi daí que surgiram o Capitão Barba, Chinesinho, Lagartixa, Ryan e Leopoldo! Então, aos 15 anos, eu decidi escrever um roteiro para uma super HQ de Barbolandia. Mas esse roteiro só foi crescendo e crescendo, foi ficando sofisticado e, quando eu percebi, aquilo poderia virar um livro.

C3: Quais novidades podemos esperar dessa nova aventura na Barbolandia que está prestes a ser lançada? O que te inspirou nesse projeto e quanto tempo você trabalhou nele?

BM: O primeiro livro lancei em 2012! (risos) Nesses seis anos, me mudei de Belém para Florianópolis, terminei o mestrado e agora trabalho com webdesigner! Posso dizer que amadureci bastante e a história de Barbolandia também! Por isso, não esperem uma história infantil… Quero cada vez mais atingir um público maior.

No primeiro livro, “A Fuga do Herdeiro”, tivemos a apresentação dos personagens principais, como eles se conheceram e em quais condições a Ilha de Barbolandia foi construída. Já o próximo volume vai se chamar “O Sistema Dia”, e vai passar dentro da ilha de Barbolandia, com o país recebendo novos moradores e com um Ryan Day mais revoltado por estar, novamente, sendo obrigado a ser o herdeiro da Dinastia Day. Ah, vai ter mais páginas também! Veremos a briga homérica entre Augusto e o seu pai Panfilo Day, pois Panfilo voltou para roubar o governo da Ilha de Barbolandia das mãos do seu filho; conheceremos mais a índole dos irmãos de Augusto, entre eles, a carrasca e impopular Elizabeth Day; teremos a participação importante de Celeste Plumb (aquela que trocou cartas com Augusto no prólogo do primeiro livro); e, claro, veremos os cinco amigos Ryan, Leopoldo, Barba, Chinesinho e Lagartixa bolando planos de fuga da ilha de Barbolandia.

Fato curioso: estou trabalhando cada vez mais da criação de uma cultura barbalonence. Vocês verão expressões locais, a moeda, as leis, o hino e muito mais sobre a ilha!

C3: Que livros te inspiraram e quais te inspiram hoje como escritor? Quais são seus autores preferidos?

BM: Como todo jovem que cresceu nos anos 90 e início de 2000, tive fortes influências de Harry Potter e O Senhor dos Anéis; mas o engraçado é que Barbolandia não tem nenhum bruxo ou hobbits (ainda não); quer dizer, esses livros me despertaram o interesse por outras histórias que falam do poder da amizade, da perseverança, de acreditar em um ideal, tendo como plano de fundo a fantasia. Virei super fã de Douglas Adams (O Guia do Mochileiro das Galáxias) e de autores internacionais como Sir Arthur Conan Doyle, Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Michael Crichton, Agatha Christie, R. L. Stine, Milan Kundera… E autores brasileiros como Pedro Bandeira, Ana Maria Machado, Clarice Lispector, Lya Luft, Drummond etc.

Atualmente, por conta do dia-a-dia agitado, estou lendo mais livros da minha profissão de designer e sobre metodologias ágeis (algo que pode me ajudar a publicar as coisas mais rapidamente também eheh). Ah, e sempre que posso estou lendo os livros que meus amigos escritores de Belém estão lançando.

C3: Você já sentiu vontade de escrever outro tipo de literatura? Se sim, podemos esperar algo com outra pegada no futuro?

BM: Eu passei a me interessar muito pelos dilemas da vida de uma pessoa adulta (risos). Talvez eu escreva algo que ajude as pessoas a superarem suas crises existenciais por terem uma vida orientada à pagar boletos e consumir coisas (embora eu já esteja preparando o terreno para Barbolandia assumir esses tipos de assunto).

C3: E falando em futuro, quais são as suas perspectivas para o futuro? Qual caminho a Barbo House deve trilhar nos próximos anos?

BM: Eu enxergo o futuro da literatura atrelada à tecnologia. Sim, o livro impresso ainda vai existir, tal como ainda existem o rádio e a televisão face ao avanço da internet. As mídias acabam se convergindo. Mas eu acredito que o livro digital, como o vemos hoje, ainda não está nem perto do que poderá ser daqui vinte anos à frente, por exemplo. Com o investimento e o planejamento certo, eu pretendo investir mais nas possibilidades do livro digital.

C3: Sobre ser escritor no Brasil, quais tem sido, para você, as dores e os prazeres de ser escritor no nosso país?

BM: Eu gosto muito de conversar com estudantes em escolas públicas. Eu sinto que tenho a oportunidade de abrir os olhos de crianças e jovens que acham que sua vida nunca vai mudar porque tem uma origem pobre. Não é novidade eu dizer aqui que nosso país é extremamente desigual. Que temos uma política pedestre e injusta. Eu tenho amigos que acham que “o país não tem mais jeito” e, como não podem fazer nada para mudar essa realidade, eles acreditam que a melhor saída é morar em outros países de primeiro mundo. Não vou julgá-los. Cada um faz o que acredita que é melhor para si. Eu acredito que se pelo menos eu contribuir positivamente para a vida de uma única pessoa no Brasil, acho que meu trabalho como escritor/editor está feito.

C3: E por fim, queríamos que você indicasse para a gente alguns livros que tocaram seu coração de alguma forma (podem ser quatro? Dois infanto-juvenis e dois adultos).

BM: Os infanto-juvenis: 1) Nariz de Vidro, uma coletânea de poemas do sensível Mário Quintana; 2) O Guia do Mochileiro das Galáxias: Volume Um da Trilogia de Cinco de Douglas Adams; e 3) Harry Potter (a série) — J.K. Rowling.

Os dois adultos: A Insustentável Leveza do Ser — Milan Kundera; e vários poemas de Carlos Drummond de Andrade que me identifiquei de alguma forma, como o Poema de Sete Faces e o clássico No Meio do Caminho.

C3: Se tiver mais alguma coisa que você queira dizer, dar um recado. Fica à vontade :)

BM: Eu quero agradecer o espaço que vocês do Blog Cadê as Três me deram para eu falar um pouquinho da minha vida literária, que poucos sabem que eu tenho (risos). Desejo muito sucesso ao projeto de vocês e que, também, possam entrevistar mais autores de autopublicação, pois esses precisam do apoio e da divulgação que vocês fazem. Obrigado! Barbifeito!

Recado anotado :)

Gostaram do bate papo com o Bruno? Nós adoramos! Já conhecia o trabalho dele ou ficou morrendo de curiosidade? Deixa para a gente nos comentários. O Sistema Dia, segundo livro da série, será publicado nos próximos meses, fica de olho, nós já estamos haha.

Beijinhos, e até a próxima.

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