Imagem: Poster de Divulgação

Amor e Humanidade em “A Forma da Água”

Juliana Theodoro
Cadê as três?
Published in
4 min readJan 26, 2018

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Dia 23 saíram os nomeados para o Oscar 2018, que vai acontecer no início de março e, como sempre, nós começamos aquela maratoninha para conseguir ver o máximo de filmes até a premiação; às vezes até participamos de um bolão, essas coisas… Confesso que adoro esse período: ficar procurando os filmes, assistir e escolher os favoritos, torcer por eles na premiação, ficar indignada quando os filmes que a gente não gosta tanto vencem… Tudo faz parte de uma espécie de tradição de início de ano.

Ainda estou caminhando a passos lentos na minha maratona, somente vi Dunkirk, Get Out (amo os dois ❤) — mas esses vi ano passado, então não foi exatamente para maratona do Oscar-, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e The Shape of Water. E hoje vou falar um pouquinho desse último pra vocês.

The Shape of Water ou a Forma da Água é um filme do cineasta Guillermo del Toro, aquele mesmo que fez o Labirinto do Fauno, a história se passa na década de 1960, em plena Guerra Fria, na qual a protagonista Eliza Esposito, faxineira de uma base secreta americana, acaba por encontrar, em um dos laboratórios, um monstro humanoide que está sendo estudado para fins militares, ela cria uma relação forte com o monstro e os dois se apaixonam.

Pode parecer uma nova versão de a Bela e a Fera, e é, mas também não é, pelo menos não é só isso. O filme começa com uma pegada à la O Fabuloso Destino de Amélie Poulain que eu adorei, mostrando a questão da rotina bem marcada, a alegria na rotina, mas o que destaca uma diferença bem forte é o aspecto escuro e verde. Não é que seja triste, é melancólico mesmo.

Eu, particularmente, tenho a tendência de não gostar de filmes carregados em tons verdes, não é que o filme seja ruim, é a cor que me incomoda — já imaginou a tortura que é ver Matrix, né? — Mas em A Forma da Água isso não me atrapalhou em nada, e olha que o filme é muito verde, quando não é verde, é de um tom mais amarelado — talvez pelo filme se passar nos anos 60 e ter um aspecto mais fechado, e não tão brilhante, achei que o verde se encaixou perfeitamente. Além de que verde é água, né? ;)

Outra questão relacionada ao verde, é que a cor faz parte da história. Em certo momento se diz algo como “o verde é a cor do futuro”, e não é por acaso que o personagem mais conservador, o vilão, não gosta nada da cor.

Por falar em vilão, vamos aos personagens: os atores estão incríveis em seus papéis, acho que não há de quem reclamar, então vou citar somente o vilão e a protagonista, vividos por Michael Shannon e Sally Hawkins, porque esses dois se destacaram muito.

Michael Shannon vive a agente policial Strickland, o cara é um sádico total, defensor da moral e dos bons costumes e supostamente tem a Bíblia na ponta da língua, mas a interpreta a seu favor, acredita que os humanos são a imagem e semelhança de Deus, mas só os humanos que se parecem com ele, e ah! Ele também é um assediador. Mas não pense nesse personagem como um fanático religioso e hipócrita; hipócrita talvez até ele seja mesmo, mas além disso ele é uma pessoa normal, que acredita que está certa, que faz pelo melhor, que só quer fazer um bom trabalho e voltar pra casa para descansar. Michael Shannon está muito, muito bem no papel.

Sally Hawkins está maravilhosa, é a forte e doce Eliza. A personagem é muda, mas não surda, teve as cordas vocais cortadas ainda quando bebê e foi encontrada as margens de um rio, o que mostra certa ligação de Eliza com água, além de sua cicatriz no pescoço ter um aspecto bem característico. Eliza e o monstro — uma mistura de anfíbio e humano, considerado sagrado pelos povos amazônidas — se apaixonam e lutar por essa paixão não é somente uma questão de romance, mas também de humanidade.

Apesar da história aparentemente simples, a Forma da Água é cheio de detalhes, também se encaixa no recente grupo de filmes que é uma espécie de grito dos que são excluídos, dos diferentes, dos que não se encaixam. Aborda preconceito, paixão, humanidade; o plano de fundo da Guerra Fria é importantíssimo, não passa nem um pouco despercebido, também aparece um pouco da luta pelos direitos civis nos EUA da época, e há uma homenagem ao cinema e aos musicais, que embalam a vida de Eliza e seu vizinho Giles (Richard Jenkins) e os ajudam a fugir desse cenário fervoroso. É um filme bonito e delicado, tem planos lindos, cenas encantadoras, música maravilhosa de Alexandre Desplat. Vale muito a pena assistir. Mas, olha, não é filme para criança não, há nudez, violência, sangue e tortura também.

Li uma crítica sobre o filme no site O Vício, que me fez ver um outro lado que eu ainda não tinha enxergado: supostamente cada personagem do filme que entra em contato com o monstro, vê nele sua própria imagem refletida, assim como se olhasse para água, e o tipo de relação que esta pessoa criará com a criatura está ligada a esse fator. Genial, né?

Apesar de todos esses elogios, não acho que seja o filme para levar a estatueta de melhor filme. Vamos ver se estou enganada… E vocês, o que acharam de A Forma da Água? Como está a maratona pro Oscar 2018? Vocês já fizeram as suas apostas? Conta pra gente.

Para quem ainda não começou, clica aqui e veja a lista dos indicados ao Oscar 2018.

Beijos e até mais. :)

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