Big Little Lies: a história de Celeste Wright

Lidia Saito
Cadê as três?
Published in
6 min readDec 12, 2017

Olá, gente! Essa semana vou compartilhar com vocês uma das minhas séries preferidas. Então cuidado, porque tem spoiler aqui sim.

Eu sou do tipo de pessoa que sempre está buscando séries novas para assistir, mas nunca tem saco de verdade para começar algo novo. Até que eu encontrei uma minissérie da HBO chamada Big Little Lies, na hora confesso que não me empolguei muito, mas como vi que seria bem rapidinha, já que ela é só de uma temporada de 7 episódios com uns 50 e poucos minutos, dei uma chance. Então comecei a assistir e a medida que os episódios iam passando, eu não conseguia mais parar.

Vamos lá. Big Little Lies é uma série protagonizada por mulheres e todas as tramas giram em torna delas. O enredo começa contando a história de um assassinato — que só vai ser revelado o culpado e a vítima no final, por isso se você ainda não viu BLL pare aqui mesmo — que ocorreu durante um baile a fantasia. Algumas pessoas estão na delegacia dando seu depoimento sobre os possíveis suspeitos, e é assim que somos apresentadas as três mulheres que serão essenciais para que esse “suspense” se desenrole, são elas: Madeline Mackenzie (Reese Whitherpoon), Celeste Wright (Nicole Kidman) e Jane Chapaman (Shailene Woodley). Todas com uma historia diferente para contar, mas que de alguma forma se encontram e isso as faz amigas.

Além de termos mulheres protagonistas, outro ponto positivo é que estas não estão brigando por um cara, ou por qualquer outro motivo que estamos costumadas a ver nos filmes tipicamente norte-americano. Mas o que de fato eu vou compartilhar com vocês nesse texto é a história da Celeste Wright, interpretada brilhantemente pela atriz Nicole Kidman.

No início é muito fácil — para algumas pessoas — se apaixonar pela vida dela, 1- ela mora numa casa m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a de frente para o mar, 2- tem dois filhos que são as coisas mais fofas do mundo, 3- tem um marido que parece ser amável com a esposa e filhos e 4- ela aparenta ser muito feliz com aquela vida que escolheu.

Mas calma, será que ela escolheu mesmo tudo isso? Com o decorrer dos episódios percebemos, que sim, ela escolheu casar com Perry Wright. Mas o que não é deixado claro é o porquê de Celeste não trabalhar, e aí somos apresentadas a realidade sobre a vida dela. A personagem de Kidman na verdade era uma grande advogada renomada da cidade em que morava, muito respeitada pelas amigas e vizinhos. Mas o casamento com o Sr. Wright a obrigou abrir mão de sua carreira para cuidar de uma casa e dois filhos ~alerta relacionamento abusivo~. Até aí ok? Não! Nada de ok!

Todo relacionamento abusivo é nocivo a saúde de qualquer mulher, seja ele como for. Mas é claro que a vida de Celeste podia piorar, e muito. O marido doce começa a tirar suas garrinhas da manga quando a série nos apresenta a primeira cena de agressão de Perry contra sua esposa.

De início começa “leve”, com alguns tapas, mas as coisas vão piorando gradativamente quando Celeste resolve não procurar ajuda e perdoar o marido sempre que ele vinha pedir perdão, e esse perdão sempre era acompanhados de mimos. Na verdade, o casal procurou ajuda juntos, quando as brigas e a violência começaram eles foram atrás de uma terapeuta para casais, porque Celeste acreditava, e Perry a fazia acreditar, que as terapias poderiam ajudar o casal.

Mas é claro que o marido não mudaria com terapia, e foi o que aconteceu, no início Celeste acreditava que o marido realmente estava arrependido e que não faria de novo, até que os tapas passaram para socos, chutes e enforcamento. O motivo? Os mais banais possíveis, seja porque Celeste queria voltar a trabalhar, ou porque ela não havia limpado a bagunça dos filhos. Para piorar a situação de Celeste, na maioria das vezes sempre que o casal “brigava”, Perry abusava sexualmente de sua esposa, Celeste acabava tendo que “ceder” as investidas do marido.

O enredo vai se desenvolvendo e percebemos que ela começa a entender que o marido não vai mudar, e o que antes era esperança se transforma em medo. Medo de ser agredida se o marido souber de qualquer erro seu, medo de denunciar Perry, medo de morrer nas mãos do seu agressor.

Celeste começa a frequentar a terapia sozinha, já que seu marido estava sempre muito ocupado, e é quando a terapeuta entende o que de fato esta acontecendo. A psicóloga tenta de todas as formas lhe ajudar como profissional e também como mulher, foi por isso que lhe aconselhou a comprar uma casa escondida, e na primeira oportunidade que tivesse, deixasse Perry e fugisse para essa casa com seus filhos.

Bom, o que acontece depois de tudo isso? Celeste finalmente cria coragem, compra a casa, começa a mobiliar, abastece geladeira e dispensa com comida. Mas como nem tudo na vida dela é fácil, Perry descobre seu plano de fuga. Não continuarei daqui, mas quem viu sabe muito bem o desfecho dessa história, que inclusive é o desfecho da série. Se você é curioso veio até aqui, deixo essa pergunta para vocês: será que Celeste não consegue fugir do seu agressor e o assassinato é da Srª Wright?

Eu escolhi contar a história de Celeste Wright, porque sabemos que essa é uma realidade muito recorrente no mundo que vivemos. Infelizmente as estatísticas sobre violência contra mulher, no mundo inteiro, ainda são altas; não podemos permitir que alguém nos fale que este tipo violência não existe mais, e toda vez que isso chegar aos nossos ouvidos, tenhamos voz para dizer que isto não é verdade e coragem e força para lutar contra as agressões que nos são postas diariamente, seja ela física, moral ou psicológica. E mulher, sempre que você ouvir ou presenciar uma história parecida a de Celeste, nunca, em hipótese alguma, faça julgamentos do tipo “ela quem escolheu isso” “ela não procura ajuda porque não quer ou pior “ela gosta de apanhar”.

Mulheres se encontram nessa situação por acreditaram que seus parceiros podem mudar, ou pelo medo, que se alastra por todas as entranhas de seu corpo. Muitas mulheres não conseguem sair de um relacionamento abusivo e violento porque as consequências podem ser mortais, essas mulheres sofrem ameaças, possuem seu corpo e mente marcados e muitas vezes são perseguidas pelos seus agressores. Quantas Celestes precisaram sofrer para tudo isso acabar? Você já parou para pensar que você pode estar vivendo ao lado de uma Celeste e nem ou menos se deu conta? Não julgue, ajude e denuncie. Ligue para o 180.

Big Little Lies nos faz refletir sobre violência doméstica e sobre o machismo, depois de ver essa série refleti sobre muitas coisas da minha vida, inclusive sobre quantas vezes já julguei mulheres que enfrentam esse tipo de situação, Big Little Lies para mim é muita mais que uma ficção, é uma lição que levarei para vida toda e um aprendizado. Nicole Kidman deu vida a uma personagem da vida real, ela conseguiu passar todo o sentimento de Celeste para nós, e nos faz entender como é difícil alguém sair do seu inferno.

Você já assistiu? Gostou? Chegou nossa hora de compartilhar nossas experiências sobre Big Little Lies, deixa um comentário aí e vamos conversar.

E para quem ainda não viu, deixo mais um motivo para começar a assistir. BLL é a série mais indicada ao Globo de Ouro 2018, com seis indicações e só esse ano ganhou em oito categorias no Emmy. Assistam e depois me digam o que acharam. Beijinhos e até o próximo texto!

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