Nossos hábitos durante e após Pandemia irão mudar?

Emanuele Corrêa
Cadê as três?
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4 min readApr 10, 2020
Minha vista da janela. Foto: Emanuele Corrêa

Ao menos para mim, há 23 dias a minha vida mudou completamente. Os Jobs do teatro musical foram suspensos temporariamente, consequentemente os ensaios e as assessorias de comunicação que eu fazia. Tudo o que estamos tocando, na medida do possível, acontece de forma remota. Alguns de nós até nos adaptamos bem, estamos preenchendo os nossos vazios (e tempo sobrando) com covers no IGTV, com vídeos engraçados no TikTok, com aulas de yoga, francês, tirando um som da guitarra com mais frequência, fazendo mais vídeo chamadas com os familiares que moram longe e amigos. Quem precisa manter o estudo em dia está passando mais horas à frente do computador (concluindo a dissertação do mestrado, como eu), assistindo de casa as aulas do ensino fundamental, médio ou da faculdade, tudo online. Tudo para seguir à risca a recomendação para vencermos essa pandemia: ficar em casa!

A noção de tempo está diferente. Para algumas pessoas o dia tem 42 horas, mas para outras as 24h estão passando voando. Eu tenho dias e dias e por conversar em casa e virtualmente com os meus amigos, sei que eles também. No dia de hoje, eu tenho um misto de sentimentos e queria cpmpartilhar o que me incomoda não só hoje, mas que vem me incomodando há mais ou menos duas semanas, quando acho que isso se agravou.

Semana passada precisei sair de casa e ir à casa da minha mãe, pois ela precisava ir ao médico e como ela faz controle de ca (câncer, para quem não está familiarizado com a sigla) — ela está bem, só faz um controle de 6 em 6 meses para saber se não voltará -, por isso precisei dar essa ajuda. No caminho para a casa da minha mãe e na volta para a minha, percebi uma grande movimentação de carros e pessoas para uma quarta-feira, num cenário de pandemia. Nos dias consecutivos, da janela do meu apartamento, vi a movimentação aumentar e isso é revoltante, porque muitos boletins da Secretaria de Saúde do Pará mostram o aumento de casos de Covid-19 confirmados e mortes. Mas por qual razão parece que uma parte da população não se assusta com os números crescendo e continua nas ruas desnecessariamente? Digo isso, porque da minha janela eu vejo as pessoas correndo, passeando com cachorro, batendo papo na rua e caminhando sem pressa e sem máscara.

Vejo que as medidas adotadas no Estado estão mais restritivas por parte do Governo e por isso as pessoas não deveriam estar saindo. Tá tudo fechado, então, porque tem tanto carro e pessoas andando nas ruas? Será que elas realmente precisam ou só estão entediadas em casa e por isso estão saindo? Se for a segunda questão, não justifica, porque é extremamente doloroso para mim que sei que preciso sair às vezes para ajudar a minha mãe, me deparar com tanta gente na rua. Toda vez que volto para casa eu penso: “Vou ter que contar 14 dias na cabeça para ter certeza que não estou contaminada” e o último dia que pensei isso, foi anteontem, quando precisamos enterrar o pai da minha sogra. Além da tristeza de nos despedirmos de alguém que amamos muito e não poder fazer aglomeração, neste momento só a família núcleo pode ficar presente e de máscara tomando todos os cuidados recomendados, ainda tivemos que ver uma cena assustadora ao lado.

Um pouco distante de nós enterravam uma pessoa que faleceu de Covid-19, foi uma cena tristíssima. A família na capela bem distante, um monte de gente com aquelas roupas brancas toda aparamentada, que parece de filmes, e o caixão sozinho pronto para descer, sem as pessoas por perto. A família nem teve a chance de se despedir. Foi duro. Voltei para casa e vi da BR 316 até o centro muitos carros e pessoas, pessoas próximas umas das outras, andando sem máscara. Triste! Os hábitos já não deveriam mais ser os mesmos, quem pode ficar em casa deveria estar em casa e quem precisa sair, deveria estar de máscara.

Se não aprendermos e não seguirmos à risca as recomendações dos Órgãos de Saúde e dos Governantes — com exceção das que são dadas pelo Presidente da República — enquanto o cenário aqui no Pará não é tão assustador como nos Estados Unidos ou na Itália, chegará um momento que seremos obrigados a ficar em casa e não teremos para onde fugir.

Então, se vocês me perguntarem se nossos hábitos durante e pós Pandemia irão mudar, eu digo: eu espero que sim, só depende de você. Por favor, vamos ficar em casa. Criem uma rotina, um hobbie, façam vídeo chamada, cantem na janela, mas não saiam de casa sem precisar e sem máscara. Beijos da Manu e até a próxima. (:

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