Silêncio digital: uns dias sem celular e algumas horas a mais no dia

Lidia Saito
Cadê as três?
Published in
3 min readJun 29, 2018

Se sua vida dependesse da quantidade de likes que você recebe no seu instagram e no seu facebook, você estaria vivo ou morto? E se a sua existência dependesse única e exclusivamente das suas redes sociais digitais, você seria tudo ou nada? Parece até exagero, mas o avanço da tecnologia e consequentemente, a forma como nos relacionamos e comunicamos com o mundo, está tendendo a nos afastar fisicamente das pessoas, mas até aí nenhuma novidade.

Veja bem, quantas vezes por dia você liga para alguém (sem ser em questões de emergência)? Quantas vezes na semana você vê aquele amigo que há anos você não via? ‘ah, mas meu tempo é corrido, não tenho tempo para isso”. Quantas vezes por dia você e sua família sentam a mesa só para ficarem conversando sobre o dia (e aqui não vale contar as horas das refeições)?

Tudo bem que o nosso tempo é corrido, passamos o dia fora de casa e às vezes nem voltamos para almoçar, “só quero chegar em casa para descansar”. Mas será que é isso mesmo? Na verdade, nós não temos tempo, porque o nosso celular ocupa quase que o nosso tempo inteiro, então a hora que você tem pra ficar com a sua família, você prefere ir deitar (e ficar no celular), o tempinho que você tem para ficar com seus amigos, você prefere voltar pra casa para descansar pro outro dia (e ficar no celular). Ai, mas quanto exagero de novo! Se você leu até aqui e não se encaixou nas coisas que eu falei, então parabéns, você não é um viciado digital! Mas se tudo isso tocou fundo na ferida, parabéns você vestiu a carapuça e ela coube direitinho.

Mas tudo bem, amigo! Você não está só, porque tudo isso que eu já falei até aqui, serve mais pra mim do que pra você, acredite nisso. Como eu sei? Bastou eu ficar sem meu celular (infelizmente foi furtado) para perceber que a minha vida estava girando em torno de um retângulo com uma tela brilhosa, que todas vez que a luz brilhava no escuro, parecia a verdadeira luz no fim do túnel (não da morte, mas da esperança do crush ter mandado mensagem ou te ter curtido a minha foto). A vida vai passando e nem nos damos conta do quanto ficamos dependentes dos likes nas fotos, dos elogios nos comentários, dos seguidores que não param de crescer a cada segundo, e esquecemos que a nossa vida está além de tudo isso.

Fiz uma pequena experiência, forçada, de ficar sem o celular durante um tempo, imagina o quão assustador foi isso? Sem whatsapp, sem instagram, sem facebook, sem meus joguinhos de celular, sem aplicativos de relacionamento, sem spotify (porque escutar a voz do Brasil, no trânsito caótico de Belém, voltando pra casa não é nada legal), sem absolutamente nada que a Era digital nos proporciona. Nos primeiros dias eu sempre achava que aquele pedacinho de procrastinação ainda estava na minha bolsa, só me dava conta quando sentia minha bolsa mais leve que o normal. Além do vazio da bolsa, havia um vazio em mim, sem mensagens, sem notificações, sem música “boa” (entenda música boa, como música que eu gosto de ouvir. (Respeito a preferência musical de todos e todas, tá?), e o vazio de dormir e não ter nada me importunando de manhã cedo com um toque que eu eu já estava cansada de ouvir.

Foi então que eu percebi o tamanho de minha dependência por um pedacinho de tecnologia, e percebi como o mundo tende a te esquecer, você deixa de fazer parte de um todo, pra ser parte de um quase nada. Mas em meio ao silêncio digital, algumas vozes ecoam, mostrando que ainda existem pessoas que sabem da sua existência além de um perfil numa mídia digital.

Então amigos, uma experiência um tanto quanto libertadora e ao mesmo tempo sufocante, mas tudo bem, porque eu já estou acostumada com as contradições da vida.

E aí, você, já fez a experiência de ficar só você e você mesmo? Se já, me conta como foi, se não, me conta, tua vida tá rendendo muitos likes? Beijinhos e até a próxima!

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