Vamos falar de assédio moral?

Lidia Saito
Cadê as três?
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4 min readNov 11, 2017

Olá pessoas que seguem o Cadê as Três? Por muito tempo estive sentada em frente dessa tela branca chamada computador sem saber o que escrever, na verdade, sem saber como começar a relatar um pouco da minha experiência com esse assunto delicado. Então, vamos pelo começo e sem enrolação!

Tenho pouco tempo de formada em publicidade e propaganda e também pouco tempo no mercado de trabalho, porém esse pequeno período já foi suficiente para eu conhecer uma realidade bem cruel: como a relação humana, ou poderia dizer desumana, acontece num ambiente de trabalho hostil.

Aquela frase que minha tia sempre dizia na minha infância: “manda quem pode, obedece quem tem juízo” começou a ser um mantra na minha vida. Eu passei a perceber como mercado de trabalho para o proletariado pode ser um ambiente totalmente tóxico, e que é preciso aprender a viver nele para não adoecer.

“Calma Lidia, tu tens pouco tempo de mercado, poucos lugares são ruins assim” era o que eu pensava até conversar com pessoas próximas a mim de publicidade (e também de outras áreas) e ver que o assédio é mais comum do que se pensa.

Em situações de assédio moral prevalece a lei “quem manda é o dinheiro e o poder”; você deve deixar de ser você mesmo, um ser humano, para ser quem o seu patrão quer que você seja, uma máquina; a sua vida não é mais sua, mas sim do seu trabalho. Exagero? Para mim, que passava 12h no trabalho e tinha minha voz abafada por alguém só porque ele estava pagando meu salário, não.

Mas se fosse só a carga horária extra seria mais fácil, a gente até aguenta, né? Até você escutar as primeiras ofensas…

O que eu posso dizer é que minha experiência trabalhando numa empresa que se dizia séria — mas é só entrar na page da empresa para você ver que o que tem de sério lá são só os problemas — foi traumatizante. Senti na pele o assédio moral e os efeitos que eles podem causar na vida de uma pessoa.

Trabalhei de segunda a sexta, e aos sábados e domingos quando era “necessário”, com horário para entrar, mas sem hora para sair, porque se “precisasse” eu deveria passar da minha hora. Horário de almoço? Quando o patrão estava na empresa, não era respeitado. Favores? Era o que essa pessoa acreditava que eu devia a ela espontaneamente. O salário? Péssimo, e sem os direitos básicos trabalhistas, mas o que esperar de um tempo em que a CLT não é levada a séria? Onde se finge que um acordo entre patrão e empregado vai poder beneficiar os trabalhadores? A empresa “séria”, onde eu trabalhei, não tinha nem um contrato de trabalho, partindo disso quaisquer outros tipos de direitos vão ralo abaixo, não é mesmo?

Aceitei esse emprego porque tenho 23 anos e deveria a ajudar em casa, na hora da contratação a gente não pensa muito, só aceita, eu precisava do trabalho, então foi o que eu fiz. Foi aí que o meu inferno começou!

Todo dia era uma reclamação diferente, críticas nada construtivas, ameaças disfarçadas de brincadeira: “eu só não te bato, porque eu poderia ser processada por assédio moral”; insinuações sobre a minha vida pessoal na frente dos meus colegas de trabalho: “a Lidia deve ser tão distraída porque deve tá pensando no namorado dela, ou melhor nos namorados dela”; e acrescentando a tudo isso o salário atrasado, que era justificado com prints de conversas com os clientes.

Hoje estou livre desse inferno, porque decidi me valorizar. Coloquei minha saúde em primeiro lugar, porque naquele lugar a ansiedade estava piorando, e eu ainda sinto as sequelas do assédio moral.

Depois de tudo isso fiquei me perguntando: por que os trabalhadores não são valorizados? Por que não temos reconhecimento? Por que trabalhar e trabalhar é só o que podemos fazer? Por que não podemos ter o mínimo, que são os nossos direitos e respeito? Por que as relações humanas são tão desumanas? Eu pude sair dessa situação, mas as pessoas que por necessidade tem que suportar esses ataques todos os dias?

Somos humanos e devemos ser respeitados! Se você está passando por uma situação parecida ou pior, por favor não fique calado, utilize os meios necessários para encontrar sua justiça. Muitos mais que esperar por outro emprego, procure saber reconhecer o seu valor, não se deixe atingir, procure seus direitos. Porque, caro leitor, não há dinheiro que dê o direito de alguém te assediar moralmente, te fazer sentir menos do que você realmente é!

Você já passou ou passa por uma situação parecida ou conhece alguém que tenha sido assediado? O que você faz/fez para acabar com essa situação? Vamos falar de assédio moral? Deixa nos comentários.

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