Encostado no batente da porta, você abria o último capítulo de Sidarta
e recitava a passagem em que acontece a grande revelação.
Meus ouvidos se perderam em Govinda.
Eu vagava pelos caminhos que me levaram àquela meia-luz, e meus olhos assumiam o sentido principal na tentativa de registrar a cena.
Em silêncio, eu ri — de mim mesma e dos meus equívocos com uma palavra que você entoou enquanto apontava o dedo, em gesto platônico.
Achei graça de todas as certezas infundadas que o autoengano tece em quem busca desesperadamente aquilo que não tem pressa, mas germina.
Já não me importavam mais as poesias, músicas, filmes e promessas, ou minha angústia de tentar entendê-la, senão por reconhecimento.
Tudo em órbita, em segundo plano, quando você fechou o livro e procurou em mim alguma reação. Eu só consegui sorrir — talvez nem isso.
Indiferente ao contar do tempo, entendia como fazem barulho aqueles que profetizam uma explosão ou euforia.
E silenciam os que, à distância, das águas serenas, segredam que é como atracar ao cais e encontrar o alívio de poder finalmente descansar.