As eleições mais importantes da década

Rodrigo Romano
5 min readOct 6, 2020

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Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Coritiba e Goiás. Internacional, Santos, São Paulo, Sport e Vasco da Gama. Todos estes 11 clubes da Série A passarão por eleições para definir os dirigentes que irão comandar as instituições nos próximos anos.

Durante seu tempo de mandato, estes dirigentes terão decisões importantíssimas para tomar, que afetarão o futuro de seus clubes. O novo texto Cadeira Central vai analisar quais as principais pautas do mercado brasileiro, buscando ajudar estes gestores na tomada de decisão e alertar os torcedores sobre a importância das eleições deste ano.

A política dos clubes já foi assunto por aqui, em um texto que destacou alguns aspectos negativos que a área traz aos clubes. É possível dizer que a dificuldade para construir um plano de longo prazo é a pior das consequências, com decisões tendo como foco o próximo jogo ou a próxima eleição. Nosso pensamento era que as estruturas do futebol brasileiro iriam amadurecendo ao longo do tempo, mas estávamos errados. Podemos destacar o Flamengo, que iniciou seu planejamento em 2013 para colher os frutos em 2019, e, ainda assim, não aprendeu a lição. Disputas políticas têm afetado o rubro-negro, sendo um dos motivos a contribuir para a queda de desempenho.

Sem mais enrolações, vamos justificar o título deste texto. Por que estas serão as eleições mais importantes da década?

O motivo é a transformação da indústria do esporte, já citada em textos anteriores, e que atingirá também o futebol brasileiro. Na verdade, este fenômeno já está acontecendo, e sua origem está no novo comportamento dos consumidores. Será preciso pessoas com a mentalidade certa para adequar seus clubes ao novo contexto, com algumas decisões para os próximos anos sendo fundamentais nesta jornada. Vamos elencar três assuntos que consideramos mais importantes:

Venda dos direitos de transmissão

Esta é a receita mais significativa para os clubes brasileiros, cerca de 39% do total. Foi muito debatida durante 2020, graças à Medida Provisória 984. Os contratos atuais do Campeonato Brasileiro vencem em 2024, e um cenário diferente se avizinha.

A primeira questão está relacionada aos valores, que deverão alcançar um nível menor do que aquele apresentado na última renovação, em 2016. Esta é uma tendência no mundo todo, e tem como principal causa a diminuição de pessoas assistindo televisão. Com menos espectadores, as marcas diminuem valores de patrocínios, pois aquele canal já não atinge tanta gente como em períodos anteriores. Uma consequência disso deve ser a ausência das altas luvas, espécie de bônus que os clubes recebiam na assinatura do contrato, e eram utilizadas para salvar suas finanças do ano.

Outro destaque será a inclusão do streaming, já estabelecido como um canal de transmissão apresentando melhores condições do que as atuais. Novas empresas podem entrar na disputa, como Amazon e Facebook, indo além dos canais de televisão tradicionais. Além disso, novos valores chegam para atenuar a diminuição comentada anteriormente. Por ser algo mais novo, ainda não deve equilibrar a conta, mas deixa a situação um pouco melhor para os clubes. Estes, no entanto, precisarão saber como trabalhar com plataformas de streaming, seja própria ou uma empresa consolidada. Este tipo de ferramenta permite entregar diversos produtos além do jogo, que possibilitam, inclusive, aumentar ganhos com direitos de transmissão e patrocínios.

Um terceiro ponto aqui seria uma nova legislação como parte do ecossistema. Após muitos debates sobre a MP 984, que deu ao clube mandante o direito de negociar a transmissão das partidas, as instituições perceberam que é preciso mudar. O modelo anterior ainda traz pontos que atrapalham o desenvolvimento do futebol brasileiro como indústria. Ainda que a Medida Provisória não seja votada no prazo estipulado (o prazo vence em 8 dias) é possível que os clubes continuem em busca de uma nova legislação que conceda o poder ao mandante e mude o cenário para a próxima negociação.

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Uso da inovação

O futebol brasileiro, e todos aqueles que o compõem, é um ambiente conservador. É mais aceitável você errar apresentando as mesmas práticas do que tentar fazer diferente. No entanto, este pensamento está com os dias contados. Será preciso tratar o futebol nacional como uma indústria, um produto. Utilizar práticas diferentes para resolver problemas será fundamental. Todos os agentes precisam estar conectados desenvolvendo o mercado, fazendo com que o individual evolua junto, sem espaço para atitudes pessoais que prejudiquem o ecossistema com um todo.

A inclusão da tecnologia em diversas áreas dos clubes faz parte deste processo. É um meio importante para criar fontes de arrecadação, tanto a partir de propriedades digitais, quanto de ativações de marcas parceiras. No entanto, o papel mais importante aqui é melhorar a relação com os torcedores. A tecnologia permite que as instituições entreguem conteúdo de forma personalizada, tenham conhecimento sobre o comportamento do torcedor e possibilitem que estes tomem decisões importantes no clube, como a escolha dos novos uniformes. Tudo isso faz com que o fã esteja mais próximo de consumir produtos de seu clube, trazendo receitas para a entidade.

A busca pelo equilíbrio financeiro

O dinheiro faz cada vez mais diferença no futebol. É possível notar, não só no futebol brasileiro, que os clubes campeões têm sido aqueles que apresentam um alto volume de arrecadação, além de um controle em suas dívidas.

O importante relatório do Itaú BBA produzido pelo consultor César Grafietti, em sua edição referente aos números de 2019, destacou que o futebol brasileiro passava, antes da chegada da pandemia, por uma formação de dois grupos. O primeiro seria composto por clubes que possuem boas práticas financeiras, com dívidas controladas. Já o segundo, aqueles que seguem ligados ao passado, com ações que comprometem um trabalho de longo prazo. A pandemia apenas acelerou este processo, que deve diminuir a relevância de clubes considerados grandes até pouco tempo, e elevar o patamar de times médios.

Trecho do relatório do Itaú que destaca a formação de grupos.

Um maior controle por parte das confederações também faz parte do processo. Dois exemplos recentes mostram que a postura da FIFA com clubes devedores será diferente daqui para frente, dando mais uma vantagem para quem estiver com as finanças equilibradas. O Cruzeiro começando a série B com menos seis pontos e o Santos perdendo a possibilidade de contratar novos atletas, ambos por dívidas feitas no passado.

Para finalizar, fica o convite para todos os envolvidos na política de seus clubes estarem atentos aos temas acima e alguns outros que destacamos nas nossas redes sociais. O futebol, brasileiro e mundial, passa por transformações inéditas e quem demorar para acordar pode sofrer consequências graves neste processo.

Texto de Rodrigo Romano

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Rodrigo Romano

Head de Operações FootHub — Gestão e inovação no esporte