CRÍTICA

“A cantiga dos pássaros e das serpentes” reacende a chama da franquia “Jogos Vorazes”

O filme baseado no livro de Suzanne Collins traz uma nova perspectiva sobre os Jogos que conhecemos

Luiza Duarte
Published in
3 min readNov 14, 2023

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Reprodução: People Magazine

“A cantiga dos pássaros e das serpentes”, livro escrito por Suzanne Collins e publicado em 2020, ganha adaptação cinematográfica com estreia marcada para dia 15 de novembro. O longa integra o universo de Jogos Vorazes, mas a história é, na verdade, um prelúdio: seus acontecimentos antecedem (e muito) o enredo do primeiro livro da trilogia — lançado em 2008, cuja adaptação saiu em 2012.

O personagem principal dessa trama é Coriolanus Snow (Tom Blyth), que anteriormente vimos como o presidente de Panem. Aproximadamente 60 anos antes de ser o inimigo cruel de Katniss Everdeen, Snow era um adolescente de 18 anos, ainda no ensino médio e cuja família estava falida. Sem abaixar a cabeça diante das dificuldades, ele almeja retornar aos dias de glória de antes da guerra que assolou o país, e sua oportunidade surge com a mentoria de Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), a tributo do Distrito 12 sorteada para a 10° edição dos Jogos Vorazes. A novidade dos tributos com mentores para ajudá-los a vencer os outros tributos na Arena foi ideia da comandante dos Jogos, Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis), que busca revigorar a competição e aumentar sua audiência.

O que “A cantiga dos pássaros e das serpentes” traz para o enredo original de “Jogos Vorazes” é a história dos próprios Jogos e como eles se tornaram o espetáculo midiático que conhecemos, esperado ansiosamente, todos os anos, pelos cidadãos da Capital. A trama também revela que Snow nunca foi exatamente uma flor — ou melhor, uma rosa — que se cheire.

Reprodução: Vanity Fair

Não só uma excelente adaptação da história contada ao longo das 576 páginas do livro de Collins, o longa de 2h30min de duração é um espetáculo visual em vários sentidos: no figurino, no cenário e nas cores, por exemplo. Isso já era esperado pelos fãs da franquia, visto que o diretor do spin-off, Francis Lawrence, é o mesmo de todos os outros filmes, que são fidedignos às obras nas quais se baseiam — motivo pelo qual fizeram tanto sucesso em sua época. A figurinista, Trish Summerville, também esteve na equipe de “Jogos Vorazes: Em Chamas”. Esses elementos estão por trás do panorama que nos permite entender a perversão e o egoísmo embrenhados na personalidade de Snow desde cedo, refletindo em suas ações e na sua relação com Lucy Gray. A personagem emblemática de Rachel Zegler, por outro lado, joga luz sobre as raízes da aversão do presidente Snow pela heroína original da trama, Katniss, e pelo seu distrito de origem.

Vemos que Suzanne Collins não quis somente surfar de novo na onda de sua reputação às custas de algo mal escrito e produzido. É possível observar na franquia de Jogos Vorazes as pistas que permitiram que a história apresentada em “A cantiga dos pássaros e das serpentes” fosse desenvolvida de forma condizente com o universo criado em 2008. Tudo é pensado de forma que o novo enredo enriqueça uma trama já bem desenvolvida, ao invés de desarranjá-la. É fascinante entender o aprimoramento do mecanismo que sustenta os jogos, antes brutos demais para que qualquer um pudesse apreciá-los, mas que com o refinamento e o apelo de um reality envolvente, conquistam apoio e participação popular.

Assim, “A cantiga dos pássaros e das serpentes” vem para rechear o universo de Jogos Vorazes e fazer uma crítica política contundente, com a qual Suzanne Collins justifica seu sucesso ao retratar de forma tão absurda, e ao mesmo tempo tão condizente, diversos cenários que realmente acontecem na sociedade, de formas (talvez) mais sutis, numa perspectiva maquiavélica em que os fins justificam os meios. Dentre eles a apatia diante do sofrimento em prol do entretenimento, o totalitarismo, as disputas de poder e o desdém pelos outros em favor das próprias conquistas. Afinal, snow always lands on top.

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