Cinema

A Pior Pessoa do Mundo

“A Pior pessoa do mundo” chega ao Brasil, e retrata com primazia os dilemas do jovem contemporâneo.

Maria Fernanda Freire
Published in
2 min readApr 5, 2022

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A pior pessoa do mundo. (Reprodução: Diamond Filmes)

Meses após seu lançamento internacional, que aconteceu ainda em 2021, “A Pior Pessoa do Mundo” estreou no Brasil em 24 de março. Indicado ao Oscar nas categoria Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, o longa do norueguês Joachim Trier parecia ser bom. Minhas expectativas, confesso, eram altas. Mesmo assim, fui surpreendida: o filme é excelente.

Estruturado de maneira peculiar, o primeiro ponto positivo de “A Pior Pessoa do Mundo” é o roteiro segmentado em doze capítulos, além de prólogo e epílogo. Essa organização evita que as duas horas do longa se tornem maçantes, e proporciona um dinamismo para a história da protagonista Julie. A personagem, que está prestes a completar 30 anos, não sabe muito bem que rumo dar a sua vida. Ela toma atitudes questionáveis e costuma ser inconstante em suas decisões. Entretanto, contrariando o título, ela não é nem de longe a pior pessoa do mundo. Ela é, basicamente, qualquer jovem adulta mediana. E aí está a maior beleza do filme.

Julie gera uma rápida identificação, especialmente para o público feminino. É fácil se ver refletida nos dilemas da protagonista: a indecisão sobre seu futuro profissional, as incertezas que possui em relação a sua vida amorosa, a dificuldade de decidir se quer ou não ser mãe. Até mesmo os eventuais equívocos cometidos por ela não a fazem parecer uma pessoa particularmente ruim, mas alguém real, com nuances. Parte da humanidade, dela e de todos os personagens da obra, se constrói na forma como eles lidam com a dificuldade de tomar decisões. O filme retrata precisamente como as inúmeras possibilidades de escolha do jovem contemporâneo podem gerar angústia, uma vez que optar por um caminho é abdicar de outros. As decisões tomadas por Julie marcam pontos de virada para ela, e, no epílogo, é reconfortante perceber que ela está em paz com o caminho que escolheu.

“A pior pessoa do mundo” que consegue se manter leve mesmo abordando temáticas sérias. O longa dialoga com a maior parte dos jovens adultos — mesmo falando norueguês — e tem tudo para se tornar um clássico moderno. Definitivamente vale a ida ao cinema.

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