Música

A solidão da psicodelia tropical de Tagua Tagua:

Com vocais tímidos e personalidade antissocial, músico gaúcho lançou seu segundo álbum, que flutua desde o início do mês de março

Nycolas funk
Published in
3 min readApr 10, 2023

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capa do álbum “Tanto” em tons gradientes de azul e laranja. Tem uma esfera no centro, acompanhado de três barras em 3D.
Capa de “Tanto”, novo álbum de Tagua Tagua.

Tagua Tagua, projeto musical do músico gaúcho Felipe Puperi, lançou recentemente, dia 3 de março, seu mais novo álbum de estúdio. Intitulado “Tanto”, ele segue a linha de trabalho do cantor e produtor. A sonoridade tropical e psicodélica de Tagua (2x) segue sendo seu grande trunfo. A escolha em anunciar que o álbum “flutua desde o início do mês de março”, por exemplo, nada mais é do que uma artimanha léxica da coluna para descrever a sensação que se tem ao ouvir as músicas produzidas e tocadas por esta “banda de um homem só”.

Para relembrar, a história de Felipe nem sempre foi de projetos individuais. O artista foi vocalista e guitarrista da banda porto-alegrense Wannabe Jalva, que chegou a ser atração do Lollapalooza em 2013. Com o tempo, Felipe Puperi abraçou o interesse em apresentar suas criações para além do paralelo 30: “Puperi agora é Tagua Tagua”, anunciava a coluna de Juarez Fonseca (GZH/2020).

Hoje, exitoso e coerente com sua caminhada, Tagua Tagua nos apresenta seu segundo trabalho, o qual exalta uma personalidade introvertida, elegante e que festeja uma solidão poética.

Felipe Puperi, 37, Músico e produtor musical (Reprodução/Instagram)

“Pra trás” é uma ótima escolha para abrir o álbum, uma vez que introduz ao que escutaremos pelos próximos trinta e sete minutos, prendendo muito bem a atenção. Seus vocais tímidos talvez possam mascarar a primeira frase: “Já anda em paz”. Porém, ao longo da escuta, ela se torna uma máxima, uma espécie de tratado de paz — deverasmente cumprido — entre o cantor e o ouvinte.

“Tanto”, que dá nome ao projeto, é um deleite para quem gosta do primeiro álbum de Tagua Tagua. Fixa a marca e torna as músicas de Felipe reconhecíveis.

Na sequência, aparece a cadenciada e lenta “Me leva”, que parece aproveitar a personagem de “Inteiro metade”, mais célebre canção de sua carreira.

Agora, pausemos para uma confissão. A escolha de apresentar e criticar — a mais humilde de suas designações — este disco para os leitores do Caderno 2 não foi imediata. Desatento, meu primeiro contato com o álbum não foi capaz de gerar qualquer sensibilização com a obra. Tal é fruto de uma antiga impressão que tenho de que todas as faixas de Tagua Tagua, reproduzidas em sequência, parecem ser uma única música. Ao passo de que isso pode demonstrar um empenho em ter personalidade e ser original, também dificulta a fluidez e a dissociação entre os sons. Parecia não ser possível escutar e reconhecer a história contada por Tagua Tagua. Superei o desinteresse com a excelente e contagiante “Brisa”, quarta canção apresentada:

“Encantei na tua levada/ Desvendei o teu azul / Fiz de ti minha jornada / Meu norte, meu sul/ Me levou pro ar/ Me fez flutuar”

Depois, ainda há um fenômeno no disco. Presunçosamente, tomarei a liberdade de chamá-lo de trilogia da reconciliação — sem saber se essa era a verdadeira intenção do músico. A sequência de “Barcelona”, “Starbucks” e “OODH” parecem contar a história de um eu lírico que se apaixona, se desilude, mas depois reconquista seu amor e canta o fascínio por alguém. “Colors” e “Cada passo” coroam esse sentimento, com letras romantizadas e que apresentam uma levada inédita ao álbum. “Te dizer” fecha a experiência sonora.

Em suma, Tagua Tagua parece flutuar por cenários hipotéticos, enquanto imerge em um contentamento próprio com as escolhas da carreira. Entendê-lo pode não ser tão simples, mas tentar é válido, aconselhável e acessível, claro. Pois, além de estar disponível em todas as plataformas de streaming de música, a turnê do novo disco passará por Porto Alegre.

O show está marcado para o dia 02/06, no Agulha.

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Card com datas já anunciadas para a turnê de 2023

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