Televisão

Arquivo 81: ocultismo, viagem no tempo e o poder da imagem

Série da Netflix, inspirada em podcast de sucesso, mistura terror com ficção científica e prende o telespectador.

Anselmo Berté
Caderno 2
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3 min readFeb 24, 2022

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Matt McGorry (Mark) e Mamoudou Athie (Dan) em trecho da série / Reprodução: Netflix

Lançada na plataforma de streaming em 14 de janeiro, a série Arquivo 81 conta com oito episódios com cerca de uma hora de duração. Apesar de ter sido inspirada no podcast de mesmo nome produzido por Daniel Powell e Marc Sollinger, a versão audiovisual, que tem Rebecca Sonnenshine como showrunner, toma bastante liberdade para levar a história por um caminho diferente.

O elenco, por sua vez, conta com Mamoudou Athie no papel principal. O ator de origem mauritânia se diz mais “atraído pela humanidade” e pelas relações entre personagens do que por elementos do terror ou da ficção científica. Também tem destaque a participação de Matt McGorry, que é conhecido pelos papéis de John Bennett em Orange is the New Black e Asher Millstone em How to Get Away with Murder, além de Dina Shihabi, atriz saudita que tem em seu currículo a série sci-fi Altered Carbon.

Na trama, Dan (Mamoudou Athie) é um arquivista a serviço do Museu de Imagem em Movimento de Nova York e tem especialidade em restauração de fitas cassete. Em busca desse talento, o misterioso empresário Virgil Davenport (Martin Donovan) faz uma proposta tentadora para que Dan restaure diversas fitas danificadas, sozinho, em uma propriedade isolada. Movido por sua paixão, o arquivista decide aceitar o novo trabalho.

Dan é especialista em restauração de mídias VHS / Reprodução: Netflix

O suspense gerado pelo mistério em torno da estranha propriedade é intensificado pelo material revelado pelas fitas. Gravados em 1994 pela estudante Melody Pendras (Dina Shihabi), os vídeos, que tinham a intenção de documentar a vida no edifício Visser, mostram Melody descobrindo um culto secreto que envolve todos os moradores. Conforme Dan restaura a filmagem, ele se conecta com Melody para além da imagem, como se o universo das fitas interagisse com o real. É através da ajuda de seu amigo Mark (Matt McGorry) que ele conduz uma investigação para descobrir os segredos de Davenport e acaba trazendo à tona uma ligação muito mais pessoal com o caso e um mundo inteiro de novas dimensões e viagens no tempo!

O que a primeira vista parece um exagero de elementos, se transforma em uma narrativa bem construída e com personagens desenvolvidos. Ao mesmo tempo que a série se preocupa em não deixar o espectador perdido através de elementos de fotografia e de diálogos explicativos, ao ponto de não ser necessário grande esforço para acompanhar, ela mantém o suspense com uma trilha sonora de tirar o sono.

Para além da interessante trama, a série inclui uma metáfora comunicativa intrigante: a ideia de congelar um momento no tempo e garantir a sua eternidade através da imagem. Os vídeos, ao mesmo tempo que ligam diferentes realidades, tornam vivas todas as emoções de um momento que já passou. Esse poder do registro, que fica mais fiel à realidade conforme novas tecnologias surgem, tem papel importante na construção dos elementos fantasiosos. Um prato cheio para reflexões profundas após cada episódio.

Apesar de não confirmada pela Netflix, uma segunda temporada de Arquivo 81 é provável, visto que a série teve boa audiência e crítica, além de deixar algumas pontas soltas para serem desenvolvidas.

Melody em uma de suas gravações / Reprodução: Netflix

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Anselmo Berté
Caderno 2

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).