Carinhosamente feito para crianças, mas quem leva o tapa são os adultos

“IF — Amigos Imaginários” é um longa que passou quase despercebido e que merece uma chance de se apresentar

Fran Bastos
Caderno 2
Published in
4 min readJul 1, 2024

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O que aconteceu com seus amigos imaginários quando você cresceu?

Querendo ou não, a fase adulta está aí para mostrar que existem responsabilidades maiores que fazer a cama de manhã ou não se atrasar para a escola. E inúmeros longas já retrataram isso, desde desenhos animados até filmes. Mas seria injusto chamar IF — Amigos Imaginários de “apenas mais um longa”.

REPRODUÇÃO: Prime video.

Dirigido pelo carismático John Krasinski, lançado em maio de 2024, o filme conta a história de diferentes MIGS — sacada inteligente que o estúdio brasileiro de dublagem encontrou para transmitir o apelido carinhoso —, amigos imaginários deixados para trás quando as crianças que os criaram cresceram.

Apesar de uma premissa inicial simples, a narrativa se complica quando o personagem Cal — interpretado por Ryan Reynolds – é apresentado como o responsável para encontrar novas crianças para os MIGS esquecidos. E no meio de tudo isso, Bea — interpretada pela jovem Cailey Fleming —, uma menina de 12 anos que está passando uns dias na casa de sua vó, os flagra e decide que irá os ajudar.

A personagem de Fleming tem seus medos em relação a perdas fortemente escancaradas para o público, desde o início. Ela perdeu sua mãe e agora que seu pai (Krasinski) tem que passar por uma cirurgia delicada, ela passa a temer sobre o futuro. É no meio de tudo isso que a trama começa.

Percebeu como complicou? E se eu te falar que ainda temos mais uma mudança? Talvez este seja o maior defeito do filme. Toda premissa apresentada no começo — muito boa inclusive — é deixada de lado quando os esforços dos personagens em encontrar novas crianças se perdem na prática. Logo, eles iniciam a busca das antigas crianças, agora adultas, para que os MIGS tenham seu ponto final. São muitas ideias que até fazem sentido juntas, mas se tornam cansativas. Para as crianças, torna-se um filme sonolento. Para o adulto, se torna repetitivo.

Cito os adultos, pois acredito que este seja mais um exemplo de filme lançado para encher o cinema com as crianças, mas que a mensagem final é para o público mais velho. Veja bem, quando você encontra um objeto muito querido de sua infância, quando escuta uma abertura de série infanto-juvenil que há tempos não escutava ou quando fala com alguém querido da época da escola, você não se sente bem? Ou minimamente nostálgico? Ou melhor, sente uma sensação boa que não sabe descrever? É essa sensação que o filme deixa. Com um toque de “nossa, eu cresci rápido e nem percebi para onde a magia foi”.

BLUE é um personagem dublado por Steve Carell.

Amigos Imaginários ainda conta com diferentes — adivinha — amigos imaginários! Sendo devidamente apresentados, eles demonstram que a imaginação da criança pode ir até espaços que nós adultos nem pensamos. Adicionado ao fato dos excelentes atores que dublaram os IF’s na América do Norte como Steve Carell, Phoebe Waller-Bridge, Awkwafina, Emily Blunt, Blake Lively e muitos outros. Aqui, podemos citar que apesar de sua importância para a trama, o tempo de tela desses personagens se torna pequeno quando comparado aos personagens principais — Bea e Cal. Para mim, não é um defeito, visto que o filme já conta com 1h47min de duração. Mas é uma tristeza, pois sinto que a presença deles é o que torna o filme mais divertido e dinâmico.

IF seria um filme melhor apreciado se não fosse lançado na mesma época que outro longa muito bom que também fala sobre crescer, mas que teve um orçamento para marketing maior — Divertidamente 2. Isso porque todo o roteiro, direção e a maior parte da produção saiu da mente e do bolso de John Krasinski. Seja por publicidade ou não, a maior divulgação do filme se baseou na declaração do ator em que o filme foi criado para suas filhas com Emily Blunt. Muito fofo, mas não bate milhões investidos em propaganda.

IF — Amigos Imaginários é um filme aconchegante, feito para assistir no final do ano quando estamos pensativos. Delicado, ele encanta com os personagens secundários coloridos — apesar de pouca personalidade —, personagens principais suficientes para nos emocionar e com um final carinhoso com o público.

Atualmente, o filme está disponível na plataforma digital Prime Video.

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