Literatura

Cinco anos de “Pessoas Normais”

Um retrato da intimidade humana em formato de romance

Luiza Beber
Caderno 2
Published in
3 min readAug 31, 2023

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“Pessoas Normais”, livro publicado por Sally Rooney no dia 30 de agosto de 2018, acompanha a passagem dos protagonistas Connell e Marianne do final da adolescência ao início da vida adulta. Narrando seus repetidos encontros e desencontros, o romance explora a íntima relação desenvolvida pelos personagens ao longo dos anos, além dos impactos — diretos ou indiretos — que essa teve na vida de ambos.

Reprodução: Enda Bowe / Hulu

A obra inicia-se em 2011, no momento em que, ainda no Ensino Médio, os dois primeiramente reconhecem a presença um do outro. A mãe de Connell trabalha como faxineira na casa de Marianne e, apesar de frequentarem o mesmo colégio, é nesse outro contexto que os jovens começam a interagir. Já nas primeiras páginas, evidenciam-se diferenças fundamentais entre eles: Connell é popular, Marianne não; Marianne tem dinheiro, Connell não. Apesar disso, os dois descobrem que compartilham uma visão de mundo muito semelhante, e passam a desenvolver um relacionamento intelectual e físico.

Durante o período de Ensino Médio, Connell ignora a presença de Marianne socialmente, mantendo o relacionamento no âmbito privado. Mesmo alegando não se importar, a protagonista eventualmente se incomoda com a situação, o que desencadeia a primeira de muitas rupturas que marcam a narrativa. Posteriormente, os dois vão para a universidade, onde acabam se reencontrando em um ambiente inteiramente diferente. O cenário se altera e, consequentemente, a dinâmica entre os personagens também.

O livro, adaptado para as telas em 2020 através de uma minissérie homônima, retrata as relações humanas de forma assustadoramente precisa. A autora faz um comentário muito interessante acerca da forma como as conexões interpessoais, e as marcas deixadas por elas, fundamentam todos os outros aspectos da vida. Além disso, assim como em “Conversas entre Amigos” e “Belo Mundo Onde está Você”, suas outras obras, a discussão a respeito de luta de classes permeia toda a leitura. Por mais que em segundo plano, o posicionamento político da escritora não passa despercebido.

Uma das maiores críticas à obra dá-se pelo fato dos diálogos não serem introduzidos por marcadores, de modo que não se diferenciam totalmente do fluxo de consciência dos personagens. Isso, porém, não interfere na leitura a ponto de comprometer a compreensão: a utilização da linguagem por parte da autora é extremamente cuidadosa e acessível.

Outro problema frequentemente mencionado é que a narrativa, por vezes, desenrola-se através de conflitos que provêm integralmente da falta de comunicação entre os personagens, e que poderiam ser “facilmente” resolvidos. É, todavia, justamente nesse ponto que reside a principal beleza da história — os protagonistas são falhos e imperfeitos, e portanto, fundamental e inevitavelmente humanos.

“Pessoas Normais” é sensível, identificável e, contradizendo o nome, passa longe de ser ordinário. Com qualidades que se sustentam em qualquer ponto do espaço-tempo, o livro é a verdadeira definição do termo “clássico moderno”.

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