Televisão

“Continência ao Amor” e ao clichê

O mais novo sucesso da Netflix seria melhor se apostasse só no romance puro e simples

Sophia Goulart
Caderno 2
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3 min readAug 30, 2022

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Pôster de Continência ao Amor (Foto: Divulgação / Netflix)

Continência ao Amor estreou no dia 29 de julho na Netflix e está, desde então, entre o Top 10 da plataforma, consagrando-se como um sucesso de visualizações. O longa é uma adaptação do livro de 2017 Purple Hearts, da escritora Tess Wakefields, que retrata a jornada amorosa de Cassie (Sofia Carson) e Luke (Nicholas Galitzine).

Apostar em clichês amorosos não é incomum a Netflix e, desta vez, o filme é inserido em três nichos diferentes: o do famoso enemies to lovers, pois Cassie e Luke não se gostam imediatamente ao se conhecerem; o de opostos que se atraem, já que os dois são bem diferentes; o do relacionamento falso que se torna verdadeiro, porque no fim o casal principal percebe que está perdidamente apaixonado.

A história acompanha Cassie, uma jovem latina que trabalha como garçonete e sonha em viver da música, e Luke, um rapaz com um passado problemático que se alista nos fuzileiros navais, para impressionar seu pai. Os dois sofrem com um problema em comum: a falta de dinheiro. Cassie foi diagnosticada com Diabetes Tipo 1 e não tem condições de custear a insulina. Já Luke está devendo $15 mil dólares para um traficante com quem ele comprava drogas após sofrer o trauma de perder sua mãe. Os dois decidem se casar, apesar de se odiarem, já que, dessa forma, o salário de Luke aumentaria e Cassie poderia ser incluída no plano de saúde militar para tratar sua diabetes.

O longa tenta abordar questões mais sérias, como conflitos morais e sociais, porém não possui muito êxito. As falhas do sistema de saúde americano, as guerras em que os Estados Unidos sempre está envolvido e os soldados que perdem suas vidas, o problema do Luke com drogas são todos problemas apenas citados. Claro que nada disso era o tema principal do filme, mas sua abordagem rasa e com rápidas soluções faz com que a sua inclusão na trama se torne quase irrelevante.

A relação ruim de Luke com seu pai acrescentaria uma carga dramática na história do mocinho que, apesar de ter um passado difícil, não atrai a empatia do público. Essa trama, porém, nunca sai da superficialidade. A gente sabe que o traficante está cobrando ele, sabe que ele perdeu a mãe, sabe que a relação com o pai não é das melhores, mas sinceramente, quem se importa?

Já Cassie, possivelmente pela atuação brilhante de Sofia Carson, estabelece uma relação diferente com o telespectador. Ela é cativante e independente, além de ter uma relação muito bonita com a mãe — que embora também não seja tão explorada, consegue, em alguns trechos, trazer a carga dramática do medo de uma filha pela segurança de sua mãe.

O filme também peca, mesmo que sem querer, quando coloca Cassie, que tinha críticas muito contundentes ao exército e aos militares, tendo que engolir suas opiniões e abrir mão desse discurso. A ideia explorada é de que pessoas diferentes acabam encontrando um ponto de equilíbrio, no entanto o personagem de Luke não abre mão de nada por ela.

Apesar dos deslizes e da velocidade com que as coisas acontecem — evidenciando a falta de profundidade da maior parte do filme — Continência ao Amor apresenta um casal principal com bastante química (graças aos atores), cenas que vão fazer os corações mais moles derramarem pelo menos algumas lágrimas e uma trilha sonora espetacular — quatro músicas estão na voz de Sofia Carson, que além de atriz, é uma cantora incrível.

Continência ao Amor está disponível na Netflix.

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Sophia Goulart
Caderno 2

Estudante de Jornalismo em Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).