Música

Donda: A obra da vida de Kanye West

Entre polêmicas, atrasos e muita espera, Kanye lança Donda, o álbum.

Camila Mendes da Rocha
Published in
3 min readSep 14, 2021

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No dia 29 de agosto de 2021, Kanye West, ganhador de 22 Grammys e protagonista de inúmeras polêmicas, lançou seu décimo álbum de estúdio, Donda. O lançamento ocorreu semanas após três eventos para audição do álbum em Atlanta, depois de múltiplos adiamentos. O público, depois de quase dois anos do nono álbum do rapper, Jesus is King, mal podia esperar pelo projeto que prometia inovação, entrega e — como de praxe do Kanye — polêmica.

Até a divulgação do álbum foi feita de maneira inovadora: Kanye espalhou ônibus pelo mundo que reproduziam imagens e sons do álbum. Além de uma mini caixa bluetooth que, não só permitia a audição das faixas, mas permitia ao ouvinte alterar completamente a estética, som, vocais e melodias das faixas, tornando o processo de escuta mais interativo.

O Donda:

O álbum, que recebeu o nome da mãe de Kanye, não poderia entregar menos que o prometido. O cantor nunca procurou esconder sua relação próxima com a mãe, falecida em 2007 aos 58 anos após complicações de cirurgias estéticas. Além de criar o filho sozinha, Donda era menager do filho na época de seu falecimento e, principalmente, sua maior inspiração. Donda, o álbum, foi o resultado dessa inspiração, com uma carga de emoções que foram guardadas durante esses anos. Kanye se culpa muito pela morte da sua mãe e nunca tinha, explicitamente, falado sobre essa “cruz” que carrega.

O rapper conecta diferentes áreas e fases da vida dele nas músicas: tudo tem uma história por trás, tudo faz sentido. Ele reconhece que sua história formou quem ele é hoje e encontrou a melhor forma de expressar isso, com sua música. Por causa disso, a experiência do álbum é percebida de maneiras diferentes pelos fãs quando comparada com a experiência do público geral.

O álbum que, além de homenagear a mãe do cantor, é um experimento religioso, demanda múltiplas escutas para compreender completamente a experiência. Isso porque muitas das músicas parecem repetitivas na primeira vez que são ouvidas, algumas têm letras muito parecidas e até sonoridades similares. Mas o foco do cantor não está no produto completo e sim em momentos: essa é a palavra central do álbum.

O experimentalismo de Kanye está nos momentos únicos das faixas: a mistura de samples, os efeitos de voz diferentes, as letras fortes e claro, a carga emocional. Existem momentos no disco que são questionáveis e não parecem merecer espaço dentro do álbum, mas aqueles momentos em que o rapper acerta, são com certeza uma experiência divina.

E essa é a proposta do Kanye: experimentar. O rapper trabalha de maneira interativa e dá a chance para ouvinte escolher seus momentos. É possível que após esse primeiro lançamento o rapper faça uma seleção ou até edição do álbum, já que, algumas faixas ainda são muito brutas e soam quase como demos.

A Repercussão:

Independente de toda a crítica e repercussão negativa, Donda já fez história. Kanye quebrou um recorde ao alcançar o número um na Apple Music Melhores Álbuns em 152 países em apenas 24 horas. De acordo com a Apple, no primeiro dia de lançamento do álbum, Donda foi ouvida mais de 60 milhões de vezes apenas nos Estados Unidos, fato marcante para um álbum com 27 faixas e quase duas horas de duração. Spotify também anunciou que Donda foi o álbum mais ouvido em um dia em 2021 até o momento, superando Sour de Olivia Rodrigo.

Mesmo com participações de grandes nomes como Jay Z, The Weekend, Dababy, Travis Scott e Chris Brown, Donda pode não ter sido o lançamento de Kanye que mais agradou o público geral, mas com certeza foi sua obra mais sincera e a que mais tocou os fãs. Para eles, o álbum é o retrato da vida e carreira do cantor, uma obra de arte, bagunçada e imperfeita, mas a mais bonita de Kanye.

Colaboração: Bruno Ribeiro

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