Crítica

“Ela Disse” é sensível e impactante

Baseado no livro de mesmo nome, o filme honra a integridade das jornalistas que contaram a história das mulheres silenciadas por Harvey Weinstein

Cecilia Martini
Published in
3 min readDec 8, 2022

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Reprodução: Universal Pictures

Ela Disse, dirigido por Maria Schrader e baseado no livro de mesmo nome, conta a história da investigação feita pelas jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey para um artigo — publicado no New York Times em outubro de 2017 — que expôs os abusos sexuais do ex produtor Harvey Weinstein. Muito influente em Hollywood, Weinstein abusou de atrizes e funcionárias de sua empresa (Miramax) por anos e comprou o silêncio de quase todas com acordos.

O filme foca principalmente no processo jornalístico durante toda a investigação de Jodi (Zoe Zazan) e Megan (Carey Mulligan) — que começa quando Jodi encontra um relato de assédio feito pela atriz Rose McGowan e suspeita que ela esteja se referindo ao produtor. A partir disso, juntando-se a Megan e tendo todo o apoio de seus editores, a jornalista encara uma longa jornada em busca de evidências e de mulheres que estejam dispostas a contar suas histórias (ainda que muitas não queiram abrir mão do anonimato). No entanto, também se tem — de forma sutil, sem atrapalhar a história principal — um vislumbre das vidas das repórteres, importante para sua construção como personagens.

Apesar de revelar detalhes dolorosos dos crimes de Weinstein nas cenas em que as vítimas e testemunhas são entrevistadas — como a estratégia do produtor de recebê-las em seu quarto de hotel para o que elas achavam ser reuniões de trabalho -, o longa nunca reproduz os abusos ou mostra o agressor. Honra-se a coragem dessas mulheres de compartilhar suas histórias; e isso é feito de forma excelente nas atuações comoventes e impactantes das atrizes que as interpretam. Outro detalhe importante é a participação da atriz Ashley Judd como ela mesma, reproduzindo sua conversa com as jornalistas na época, assim como o momento em que decide que quer seu nome citado na reportagem — reforçando, assim, sua denúncia.

A narrativa se perde em alguns momentos onde o tempo presente se alterna com cenas das vítimas ainda jovens (como a que abre o filme). Mesmo retratando a devastação delas depois do que sofreram, esses momentos acabam sendo um rasos e facilmente descartáveis, atrapalhando — ainda que pouco — a coesão do filme como um todo.

Ela Disse é um filme sensível e angustiante, com um ótimo ritmo. Cumpre muito bem o papel de dar espaço para as histórias, antes silenciadas, das profissionais que por anos sofreram nas mãos de um homem poderoso e influente na indústria. Além disso, enaltece o trabalho de Jodi Kantor e Megan Twohey — brilhantemente interpretadas por Zoe Zazan e Carey Mulligan — e a integridade de seu fazer jornalístico. Todo processo é mostrado de forma interessante — com cada “reviravolta” quando surgem novas evidências -, mas sem que ele seja romantizado.

A obra mostra como todos sabiam o que acontecia, mas ninguém tinha coragem de falar sobre — e como esse ciclo foi quebrado. Mostra o medo que as vítimas e testemunhas tinham de Weinstein, por saber do poder de alavancar ou destruir carreiras que ele detinha. No entanto, o filme também relembra que o sistema que protege os abusadores ainda persiste. Citando uma das falas de Jodi: “você consegue imaginar quantos Harveys existem por aí?”

Ela Disse chega aos cinemas brasileiros nesta quinta feira (08)

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