Televisão

Elite: a vítima da vez é a própria série

5ª temporada decepciona pelo roteiro fraco e repetitivo

Anselmo Berté
Published in
3 min readApr 28, 2022

--

“Na superfície, as temporadas parecem semelhantes”.

A frase, que parece um eufemismo de um crítico moderado, foi dita por Darío Madrona, criador e showrunner de Elite. De fato, a quinta temporada da série espanhola é mais do mesmo, até menos. O preocupante, porém, é que ele se referia à sexta, já confirmada pela Netflix e prevista para 2023.

Itzan Escamilla e Claudia Sallas em cena da 5ª temporada de Elite. (Divulgação/Netflix)

“Temos assassinatos, ensino médio e adolescentes”, complementou Madrona na entrevista concedida para a revista Entertainment Week.

Nesse sentido, a nova temporada — lançada no dia 8 de abril — tem um roteiro que falha em aprofundar os temas levantados pelo showrunner. Mesmo assim, isso passaria batido, como em outros momentos, se as cenas de sexo e a sensualidade da série fossem bem exploradas. O que não acontece.

Elite se tornou uma das maiores apostas do serviço de streaming em 2018, logo em sua estreia. A trama sangrenta que inseria estudantes bolsistas em uma escola de jovens ricos foi bem recebida pelo público e crítica. As cenas quentes e o suspense gerado por um assassinato davam o tom da série. Por isso, se tornou um dos maiores fenômenos de guilty pleasure da indústria, ou seja, as falhas da obra eram ofuscadas pela experiência de assistir a ela.

No entanto, o triângulo amoroso entre Elite, público e crítica terminou nas duas últimas temporadas. O show dá voltas em torno da mesma proposta — assassinatos, ensino médio e adolescentes — e se escora no erotismo e na renovação do elenco para manter a audiência.

Valentina Zenere e André Lamogna na 5ª temporada de Elite. (Divulgação/Netflix)

Os novos personagens são Iván, filho de uma estrela do futebol, interpretado pelo ator brasileiro André Lamoglia, e Isadora (Valentina Zenere), que é DJ e influenciadora digital. Do elenco inicial, só estão na quinta temporada Samuel (Itzan Escamilla) e Omar (Omar Ayuso).

Conforme os personagens principais são substituídos, o passado da série é esquecido. As relações familiares, antigas amizades e mortes traumáticas se perdem no roteiro. Também não há preocupação com os dilemas acadêmicos dos jovens, o clube de debate e o ingresso em universidades, por exemplo, são completamente esquecidos.

A consequência é que tudo em Elite é superficial: sexo, mistérios, relacionamentos e até mesmo as vítimas da série, lançadas na água. A quinta temporada dá ao público mais culpa do que prazer, além de preocupação com o futuro da obra. Porém, para Darío Madrona, “se você cavar um pouco mais fundo” será possível observar “mudanças no tom” na sequência prevista para 2023.

Talvez não seja o bastante para uma série que vem cavando a própria cova.

--

--

Anselmo Berté
Caderno 2

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).