Música

“Eu só queria ser normal” — a turnê de Manu Gavassi surpreende.

Adiada por conta da pandemia, a turnê de Manu Gavassi pelo Brasil surpreende ao trazer técnica, profissionalismo e um relacionamento ímpar com os fãs.

nathally kayser
Published in
4 min readAug 25, 2022

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Após serem adiados por causa da pandemia, os shows de Manu Gavassi para a turnê “Eu só queria ser normal” contaram com grande espera do seu público, tanto aqueles que a acompanhavam desde a Revista Capricho quanto os que conquistou em sua participação no Big Brother Brasil 20. Esse público foi sendo cativado ao longo dos anos, proporcionando à artista uma base de fãs não necessariamente grande, mas sólida.

Manu chama atenção ao transmitir ao público a imagem de uma mulher que, apesar de frágil, tem suas vaidades e responsabilidades. Uma mulher que canta sobre amor — familiar e romântico — e também sobre a coragem de ser quem é, arriscando do sexy ao conto de fadas. Eu chamaria, até, de blasé.

Com essa premissa blasé chique do show, que ocorreu no teatro — lotado — do Bourbon Country, era de se esperar um espetáculo que se assiste sentado, admirando o artista, o que realmente ocorreu até a metade do show. Foi ao som de “Bossa Nossa’’ que o público levantou para ouvir as palavras “você se leva a sério demais, e eu acho graça”. Não existia a necessidade de se levar a sério, existia apenas a vontade de dançar e trocar energias com aquelas pessoas com tanto em comum.

Divulgação

Poderia passar horas dissertando sobre como o jogo de iluminação fez do show um verdadeiro espetáculo, pois, sejamos sinceros, Manu Gavassi não conta com um grande corpo de dançarinos ou músicas agitadas demais. O match perfeito para as letras mais densas, e às vezes repetitivas, foi atingido com a iluminação estratégica e o painel de uma cor só, que projetava a cantora e banda como se fossem sombras. Além disso, as diversas mudanças de figurino e interação com os espectadores fizeram da apresentação qualquer coisa menos monótona, blasé ou, até mesmo, chique.

Reprodução: Manu Gavassi via Twitter

Manu sempre reverencia Rita Lee como uma de suas inspirações, falando sobre a artista em mais de uma composição. O prólogo é logo ali, antes do início, com o teatro ao som de “Lança Perfume”, “Mania de Você’’, “Ovelha Negra’’ e tantos outros sucessos da ex-mutante. Sem muitos rodeios, o show começa com um áudio em que a artista divaga sobre “como uma turnê deveria começar?” seguido um brainstorming sem uma linha de raciocínio que se encerra em “tá, vamo desse jeito mesmo”.

No primeiro momento, Manu aparece vestida de si, acompanhada de sua banda e tocando algumas músicas de seu último EP. Em seguida, a cantora conversa com seus fãs — e eu arrisco dizer que a maioria dos espectadores eram realmente fãs e não só ouvintes passivos da obra da cantora. Talvez, por apostar na persona sincera e suas falhas, a cantora faz com que quem a acompanha se sinta à vontade, um verdadeiro amigo.

Um dos momentos que comprovou essa relação foi quando anunciou que iria cantar “Catarina”, composição sobre o amor que sente pela irmã. De repente, ouviu-se da platéia alguém comentar que tem sua própria Catarina, que se chama Isabel e está morando em Buenos Aires. Ao ouvir esse relato, Manu se mostrou contente ao saber que outras pessoas sentem o mesmo que ela. A artista performou, então, para Isabel, que viu tudo do seu celular por vídeo-chamada.

Manu Gavassi encanta ao ter como premissa de artista essa relação de troca intensa com os fãs, sem precisar estar o tempo todo refém das redes ou de modas que atualmente são quase que obrigação aos artistas. Seu show contém emoções das mais genuínas, reconhecimentos e trocas — que fazem com que quem assiste se sinta parte — e, principalmente, um profissionalismo e respeito mútuo entre os membros da banda e para o público.

Reprodução: Manu Gavassi via Twitter

Pessoalmente, apesar de ser fã da cantora já há algum tempo, não esperava um show tão completo, cheio de personalidade, dança e luz. A quebra de expectativa foi positiva e posso resumir na palavra “orgulho”. Orgulho de uma mulher que faz sucesso desde tão jovem ter tido a coragem de inovar, mudar, ceder e, nem por isso, deixar de ser única. As composições de Manu contam sobre sua história e a de mais tantos outros: falam sobre amor, insegurança, autoconfiança e mudança.

Ela mesma diz que, apesar de cantar sobre querer ser normal, a turnê é a prova viva de que ela não é. Na verdade, nem quer, se encaixar nos padrões que a indústria tanto cobra. Manu surpreendeu e surpreende.

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