Terno Rei no Teatro CIEE, de Porto Alegre, em 27 de janeiro | Foto: Nádia Boff

Música

“Gostaria de ser reconhecido como verdadeiro”

Lucas Vidal
Caderno 2
Published in
5 min readJan 28, 2022

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Em dez anos de atividade, a banda paulistana Terno Rei se tornou um dos maiores nomes do rock alternativo do país. Formado por Ale Sater na voz e baixo, Bruno Paschoal e Greg Maya nas guitarras e Luis Cardoso na bateria, o grupo lançou três EPs, Metrópole (2012), Trem leva minhas pernas (2015) e Acústico (2020), além de três álbuns de estúdio, Vigília (2014), Essa noite bateu com um sonho (2016) e Violeta (2019). Na quinta-feira (27), eles fizeram a primeira apresentação de 2022 em Porto Alegre, no Teatro CIEE.

Após quase dois anos do último show na capital gaúcha, o público esgotou todos os ingressos. Com a sessão lotada, os fãs cantaram junto com a banda as faixas dos álbuns Violeta e Essa noite bateu com um sonho, além das canções Pivete e Lilás. O destaque fica para a música Dias da juventude, primeira faixa divulgada do novo projeto com lançamento previsto para este ano.

Violeta, composto entre 2018 e 2019, é o trabalho mais maduro da Terno Rei até então, contando com canções que tratam de relacionamentos, existencialismo, saudades e dores. Com elementos que evocam uma atmosfera melancólica e urbana, o álbum acompanha como se o ouvinte estivesse “perdido no meio da multidão”, como diz a música São Paulo.

Ale Sater, em entrevista concedida ao Caderno 2 na véspera da apresentação em Porto Alegre, relata que não havia grandes expectativas com o trabalho, contudo, foi um sucesso de público e crítica, sendo classificado como um dos melhores discos de 2019. Produzidas por Gustavo Schirmer e Amadeus de Marchi, as canções contam com o uso de sintetizadores e teclados, seguindo um caminho dreampop que remete aos anos 1980.

“Viajamos o Brasil todo fazendo shows, ganhamos mais notoriedade. Produzimos cinco clipes desde a estreia do Violeta e uma live acústica um pouco depois do início da pandemia”, rememora Ale. Após o lançamento, a banda também participou de produções com outros artistas, como nas canções Pivete e Eu te avisei com a banda Tuyo, a regravação de Lilás, de Djavan, e as parcerias com a Fresno na música INV007: teu inverno faz calor e com Samuel Rosa no projeto Conexão Balaclava, idealizado pela Balaclava Records com o objetivo de promover parcerias com artistas da música brasileira.

A última apresentação da Terno Rei antes da pandemia foi em 13 de março de 2020. Ale Sater lembra que estavam lançando as músicas com a Tuyo no festival Se Rasgum, feito pela primeira vez em São Paulo, e já havia um clima estranho, porque não sabiam se o show aconteceria ou não. Afastados dos palcos há quase dois anos, a banda retomou as apresentações em 4 de novembro de 2021 na casa de eventos paulistana Audio. Desde então, realizaram outros cinco shows no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Violeta (2019)

“No meio de 2020, começamos a falar em um novo álbum. Em 2021, começamos a produzi-lo. E é o disco mais trabalhoso até então, tem uma pegada mais moleque, uma atmosfera diferente do Violeta, e estamos com toda a expectativa pra soltar o álbum”, comenta Ale.

Confira a seguir a conversa que o Caderno 2 teve por telefone com Ale Sater sobre as inspirações e o processo criativo de Violeta, os impactos das questões atuais do país e o novo álbum que a Terno Rei lançará este ano.

As faixas de Violeta tratam de histórias de amor e desavenças. O disco funciona como uma espécie de diário das questões sentimentais de vocês?

As músicas eu mesmo escrevi, então sim, foi um momento da minha vida que vivi coisas e as canções me ajudaram a ressignificar esse momento e dar fluência para o que estava acontecendo comigo. Escrevia sobre amor, a trajetória da banda, o quanto eu devia continuar fazendo meu trabalho. São músicas bem introspectivas, letras de mim pra mim.

Os sintetizadores usados no disco ecoam uma atmosfera nostálgica, melancólica. Qual a inspiração para esse recurso?

Sempre gostamos do sintetizador, porque é muito maleável e conseguimos fazer sons mais estrondosos, tímidos, além de todo o mistério no instrumento que é muito interessante de se ouvir. Nos inspiramos em The Cure, The Smiths, Tears for Fears, todos influenciaram muito.

Em cada álbum, há uma certa linearidade entre as músicas. Isso é intencional ou algo que surge naturalmente?

É intencional. Sempre tivemos essa pegada de fazer uma obrinha, até pelo fato de tocarmos no estúdio, com os mesmos instrumentos, então tende a ser semelhante. Acho que o nosso foco no próximo disco vai ser um pouco diferente, mais ousado e incoerente, diferente dos últimos álbuns.

Violeta, de 2019, é o terceiro álbum de estúdio de vocês. Vigília é de 2014 e Essa Noite Bateu Com Um Sonho, de 2016. Temos aí cinco anos. Como foi esse período entre os álbuns, que transformações houve com vocês e a banda?

A gente ficou mais velho. Com todos os shows que fizemos também ganhamos mais experiência de palco e cada vez mais sabemos o que fazer. Temos mais certeza do que estamos fazendo. A fase da pandemia foi muito ímpar para a sociedade, e falando por mim, fiquei até mais nostálgico, ouvindo músicas antigas que ouvia com 11 anos e que me formaram musicalmente. Esse grande sentimento de nostalgia vai estar impresso no novo trabalho.

O que esse horror coletivo que o Brasil vive impactou em vocês?

A gente parou de fazer o que ama. Vimos pessoas próximas falecendo. Temos um governo péssimo. E tudo isso te deixa mais pra baixo, mais desesperançoso. Mas cada dia é um dia e vamos vivendo e tentando se adaptar da melhor forma para evoluir com isso.

Quais artistas tu ouvias quando mais jovem?

Vários artistas me deixaram maluco quando eu era mais novo. Ouvia bastante grunge, como Alice in Chains e Nirvana, uma fase que todo jovem naquela época passou. Mas gostei de pop também, adorava Alanis Morissette. Sem contar a cena do hardcore, Dead Fish e NOFX me influenciaram muito. Consumi demais toda aquela cultura de R&B e hip hop, que ganhou força de 1995 a 2005.

Como tu gostarias que as pessoas reconhecessem vocês?

Gostaria de ser reconhecido como verdadeiro. Dou meu melhor no show, na gravação de álbum. Minha arte é verdadeira. Pode ser que tu não goste, mas pode reconhecer que estou tentando e extraindo o máximo de sentimento para as canções.

Setlist do show realizado no Teatro CIEE, de Porto Alegre, em 27 de janeiro:

  1. 93
  2. Yoko
  3. Estava Ali
  4. Roda Gigante
  5. Criança
  6. Pivete
  7. Medo
  8. São Paulo
  9. Lilás
  10. Luzes de Natal
  11. Circulares
  12. Dias da Juventude
  13. Vento na Cara
  14. Dia Lindo
  15. Solidão de Volta

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Lucas Vidal
Caderno 2

Estudante de Jornalismo na UFRGS. Fascinado pela rua e suas diferentes histórias. Também escrevo tweets. Gay. Ele/dele.