Música

A rebeldia e a vida de jovem adulta de Olivia Rodrigo em seu novo álbum “GUTS”

Lançado no início de setembro, o álbum é o segundo da carreira da cantora

Raquel Bruhn
Caderno 2
Published in
7 min readOct 9, 2023

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Capa Alternativa de GUTS

Dia 8 de setembro, Olivia Rodrigo lançou “GUTS”, o segundo álbum de sua carreira, que em poucos dias alcançou o primeiro lugar no Chart 200 da Billboard — a própria cantora permanece em primeiro lugar no ranking 100 Top Artists há mais de sete semanas seguidas. Olivia é conhecida por suas músicas sentimentais com temas pessoais e, desta vez, ela volta ainda escrevendo canções como um diário de sua vida amorosa. As descobertas e angústias de uma jovem adulta que se despede dos problemas adolescentes e amadurece com as experiências de vida é o principal tópico do álbum.

A carreira da artista começou cedo, ela foi atriz da Disney fazendo sucesso em programas como Bizaardvarke e a série de High School Musical, mas foi apenas com seu debut musical que seu nome tornou-se amplamente conhecido. Isso tem a ver, é claro, com polêmicas de sua vida pessoal que interessam a qualquer público, mas que, independentemente, fizeram das faixas “drivers license” e “dejavu” incrivelmente famosas e estouradas nas redes sociais — principalmente no TikTok, a rede da Geração Z.

Após o sucesso estratosférico de seu primeiro álbum “Sour”, seus fãs esperaram por dois anos até que seu novo lançamento chegasse às plataformas. “GUTS” consegue permanecer no mesmo estilo que o último álbum mas, ao mesmo tempo, é profundamente diferente. Olivia deixa claro em entrevistas que a evolução do conteúdo de suas composições têm origem tanto em sua vontade de melhorar suas habilidades musicais e a qualidade de suas composições como também no seu próprio amadurecimento como pessoa.

O álbum pode ser dividido entre as músicas com mais influência do rock e as músicas mais lentas e sentimentais. A primeira faixa é “all-american bitch” e ela resume muito bem a proposta de Olivia com esse álbum. Existe uma mudança entre um ritmo lento e rápido, falando basicamente sobre a consciência de seu privilégio e de seu lugar como estadunidense. Ela brinca com essa consciência de classe de maneira descontraída e irônica, tornando a música divertida e atraente. Essa, assim como outras músicas do álbum, virou trend no TikTok, o que é a marca característica da maioria de suas composições.

Forgive and I forget

I know my age and I act like it

Got what you can’t resist

I’m a perfect all-American bitch

With perfect all-American lips

And perfect all-American hips

I know my place, I know my place, and this is it

Continuando na vibe rockeira, temos “bad idea right?”, a música título do álbum, que fala sobre uma menina sendo uma bad girl inconsequente, que mente e faz de tudo para se “reconectar” com o ex namorado. Também temos “ballad of a homeschooled girl” que fala sobre uma pessoa que não se encaixa em nenhum lugar, odeia tudo e todos. Ela não consegue interagir com pessoas de forma “normal”, como se ela fosse alguém que teve seu estudo em casa e que não teve as interações sociais importantes para a construção de personalidade e sociabilidade que temos durante o período escolar das nossas vidas. Ela comete muitos erros e não entende o funcionamento da sociedade. É uma música divertida e muitos podem se identificar com esse sentimento de que tudo que falamos parece estar errado e que somos um erro na sociedade.

Ainda na vibe do rock, temos “get him back”, falando da ambiguidade de querer e não querer o ex de volta. Com fortes traços de rebeldia, ela fala basicamente que quer fazer com ele o que ele fez com ela (trair), mas também pontua que sente saudade de seu relacionamento com essa pessoa.

Oh, I wanna get him back

’Cause then again I really miss him and it makes me real sad

Oh, I want sweet revenge and I want him again

I want to get him back, back, back

Já na parte sentimental e profunda do álbum temos como exemplo “vampire”, o pré release do álbum que fala sobre uma garota que reflete, a partir das ações de seu ex, sobre o quão tóxico era seu relacionamento. Fazendo comparações com um vampiro que só aparece a noite e se aproveita de seu “sangue”. Esta faixa também ficou muito famosa no TikTok e permaneceu por mais de 11 semanas nos charts. Outra música mais lenta e poética é “lacy”, onde Olívia mostra suas habilidades de escrever uma canção delicada e emocionante. Ela fala sobre sentimentos de uma pessoa apaixonada por alguém chamado Lacy. Ao final da música ela canta o trecho:

And I despise my jealous eyes and how hard they fell for you

Yeah, I despise my rotten mind and how much it worships you

O que pode nos levar a outras duas interpretações, uma que a personagem Lacy é compromissada e a música fala sobre uma paixão que não pode ser correspondida, causando inveja no eu lírico por não ser a pessoa amada por Lacy. Por outro lado, talvez a música aborde os sentimentos de alguém que queira ser Lacy, com todas suas características angelicais, delicadas e femininas. Esta última teoria é a que mais me interessa pois, ao meu ponto de vista, Olivia Rodrigo sempre falou em suas músicas sobre términos de relacionamentos dolorosos ou traições, coisas árduas de se escrever e, por isso, seu público a visualiza como uma mulher independente e forte. Mas talvez o que ela quer dizer com a música Lacy é que na verdade ela também tem seu lado frágil, romântico e delicado, e por isso inveja as pessoas que são vistas assim. Lacy é a personificação de como ela deseja ser vista.

Outra música sentimental e emocionante é “making the bed” (uma das minhas favoritas do álbum). É uma música íntima e sofrida onde Olívia desabafa dizendo que queria estar em outros lugares, com outras pessoas, fazendo outras coisas, mas na verdade está fazendo a cama. Fazer a cama, na música, pode ser uma metáfora para muitas coisas, mas acredito que ela signifique uma tarefa a ser feita todos os dias, rotineira. A música claramente demonstra uma insatisfação da atual situação do eu lírico, é um pedido de socorro, de fuga. Olivia consegue tocar a intimidade de qualquer um escrevendo coisas que facilmente nos identificamos, e é por isso que essa música consegue ser tão tocante.

Seguindo a linha emocional, temos “logical”, umas das músicas que menos se destacou para mim. Fala sobre como o amor não é lógico. Olivia canta a música lindamente e com um sentimento profundo de tristeza por seus sentimentos não correspondidos após um término doloroso de relacionamento. Outra música tocante é “pretty isn’t pretty”, que é claramente uma crítica ao padrão de beleza inalcançável que a sociedade impõe em meninas e mulheres do mundo todo. Além disso, temos também “the grudge” que é uma música muito sentimental e cheia de sofrência, high notes e lamentações. É uma música que fala (de novo) sobre um relacionamento que deu errado e como a menina tenta ser forte em relação a isso, mas as marcas são profundas demais para lidar. E por último, temos “teenage dream”, de longe uma das músicas mais íntimas e pessoais do álbum, é basicamente um desabafo de Olivia. Fala sobre sua carreira, suas inseguranças, seus desejos e preocupações mais profundas. Não vejo muitas pessoas falarem sobre o quão tocante é essa canção e acho que ela deveria ser mais valorizada por isso. Enfim, um hino injustiçado.

I’ll blow out the candles, happy birthday to me

Got your whole life ahead of you, you’re only nineteen

But I fear that they already got all the best parts of me

And I’m sorry that I couldn’t always be your teenage dream

O álbum em geral foi muito bem produzido, mas como tivemos a espera de dois anos, esse resultado já era esperado. Gostei muito de ver a mistura de diferentes ritmos e sentimentos que compõem o álbum, e também gostei de ver sua evolução nas letras. Eu, como uma jovem mulher adulta, me identifiquei muito com algumas das situações compartilhadas por Olivia e acredito que até mesmo pessoas mais velhas podem escutar e se conectar com algumas das músicas mais sentimentais. Mas como nem tudo é cor de rosa, também tenho algumas críticas sobre o álbum. O tema de traições e relacionamentos tóxicos é trazido repetidamente em muitas das músicas, o que tornou, para mim, cansativo. Depois de escutar o álbum, fiquei enjoada de tantas músicas sobre a mesma coisa. Mas, se formos escutá-las separadamente, são boas. Isso está muito relacionado com o estilo de produção que a empresa de Olivia utiliza para fazer com que suas músicas sejam ouvidas. E seu principal instrumento para isso é o TikTok e as redes sociais. São essas plataformas e seus usuários que decidem se a música é viralizável ou não, e portanto, as músicas produzidas por Olivia e sua equipe sempre tem aspectos que ajudam na hora de agradar esses agentes como por exemplo batidas e sons padronizados, letras polêmicas e tempo de músicas/refrão calculados.

É fato que demonstrar vulnerabilidade sempre atrai as pessoas, e quando Olivia tomou isto como o rumo de sua carreira, ela acertou.

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