Cinema

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é bom, mas não surpreende

O filme, dirigido por James Mangold, substituindo Steven Spielberg, estreiou nos cinemas no dia 29 de junho e marca a despedida de Harrison Ford como o icônico arqueólogo Indiana Jones

Pedro Azambuja de Souza Almeida
Published in
3 min readJul 4, 2023

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Cena de Indiana Jones e a Relíquia do Destino. Imagem: Lucasfilm / Divulgação
Indiana Jones e a Relíquia do Destino | Imagem: Divulgação/Lucasfilm

No quinto longa metragem da franquia, nos deparamos com um Indiana vivendo no auge da corrida espacial, velho, aposentado e solitário, após a morte de seu filho Henry Jones III, que gerou um divórcio com sua esposa Marion (Karen Allen). Entretanto, mesmo contra a sua vontade, o arqueólogo acaba se envolvendo em uma última grande aventura contra seus inimigos prediletos, os nazistas.

Nas primeiras cenas do filme, encontramos um Indy rejuvenescido pela IA, lutando contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial junto com seu amigo Basil Shaw (Toby Jones). É nesse momento que eles descobrem metade de uma grande relíquia, a Anticítera de Arquimedes — que posteriormente descobriríamos ter o poder de viajar no tempo. Essa curta passagem, apesar de nos apresentar a relíquia que sustenta toda trama do filme, é completamente desnecessária para o enredo da história. No entanto, contém as clássicas cenas de ação dos filmes de Indiana Jones, com socos, explosões, veículos, tiros e chicotadas, e nos proporciona uma sensação nostálgica e satisfatória, ainda mais acompanhada pela trilha sonora composta pelo brilhante John Williams — que saiu da aposentadoria apenas para compor essa última trilha sonora e fez um trabalho impecável.

Na sequência, quando a história de fato começa, somos apresentados a filha de Basil Shaw e afilhada de Indy, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), que está em busca da Anticítera e tenta convencer Indiana a conquistar um “último triunfo”. Porém, descobrimos que o doutor nazista Jurgen Voller (Mads Mikkelsen) — introduzido nas cenas inicias — também está atrás da mesma relíquia para voltar no tempo e corrigir os erros cometidos por Hitler na Segunda Guerra Mundial. A partir desse ponto, a trama se desenvolve de maneira rápida e intensa, numa grande sucessão de cenas de ação, perseguição e viagens, como um bom filme de aventura.

Apesar de bem feitas, contudo, as cenas não emocionam como nos primeiros filmes, não existe um clímax definido na história devido a sua velocidade. Não há aquele momento que faz o coração acelerar e nos deixa em dúvida sobre o futuro dos personagens. O tópico de viagem no tempo é muito comum em filmes de ficção e aventura, mas essa dinâmica poderia ter sido melhor explorada no filme, e quando parece que o roteiro dará um destino surpreendente para os personagens, ele volta atrás e não arrisca.

Sobre os personagens, Indy carrega o filme com seu carisma de sempre, mostrando que Harrison Ford, mesmo com 80 anos, ainda tem lenha para queimar. Ademais, temos a aparição de personagens já conhecidos como o escavador Sallah (John Rhys-Davies) e a própria Marion, ambos que fizeram suas primeiras aparições em Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida.

Porém, a obra acaba se sustentando muito no passado e na nostalgia, já que os personagens novos não conseguem ser tão cativantes. Helena, apesar de ter uma personalidade corajosa, empoderada e aventureira, não é desenvolvida o bastante e passa a impressão de que poderia ter sido melhor aproveitada. O garoto Teddy (Ethann Isidore), apesar de sua bravura e esperteza, não chega aos pés de Short Round (Ke Huy Quan), que aparece em Indiana Jones e o Templo da Perdição. Além disso, a obra é repleta de personagens secundários que não desempenham papéis relevantes na trama e são extremamente rasos, sem causar qualquer tipo de comoção no espectador.

Em síntese, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um bom filme de aventura, que não arrisca e consegue deixar minimamente satisfeito o fã da franquia, com boas cenas de ação e luta, retorno de personagens queridos e muitas referências a trilogia original. Mas, considerando que se trata do encerramento das aventuras de um dos mais populares personagens da história da cultura pop, o roteiro é simples demais e não entrega uma despedida digna para Indy.

Outrossim, o final conta com uma emocionante cena de reconciliação entre Indiana e Marion, mas depois passa a ideia de que as aventuras de Indy continuarão — mesmo sabendo que essa foi a última vez de Harrison Ford interpretando o personagem. Aparentemente, Indiana Jones seguirá suas aventuras na nossa imaginação.

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