Resenha do livro "O Livreiro de Cabul"

A minha história de Cabul é a história de uma família afegã singular.”

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2 min readAug 23, 2021

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2001.

Afeganistão.

Dois meses após os ataques terroristas às torres gêmeas de Nova Iorque e ao Pentágono, nos Estados Unidos, chega à cidade de Cabul a repórter norueguesa correspondente de guerra Åsne Seierstad. Acabava de cair, pela mão das forças americanas e aliados, o Talibã, movimento totalitarista no comando do país desde outubro de 1996. No Afeganistão, país submetido a inúmeros conflitos e à violência dos costumes, vive a família do livreiro Sultan Khan (nome fictício de Shah Muhammad Rais). Segundo Seierstad, “a família de um livreiro é incomum em um país onde três quartos da população não sabem ler nem escrever”. E é esta família tão peculiar que acolhe a jornalista, disposta a passar 3 meses em convívio diário com os Khans a fim de relatar detalhes da organização da sociedade, especialmente os que tratam da vida feminina no país.

Capa do Livro.

Em seu best-seller mundial, lançado em 2002 e traduzido para mais de 40 línguas, a jornalista apresenta não somente o cotidiano do clã, mas também a naturalização dos preconceitos sofridos pelas mulheres em geral. Espancamentos, mutilações, mortes. Através dos relatos dos dramas femininos, o leitor pode conhecer os medos, os sonhos e os desejos de jovens e senhoras cujas vozes são silenciadas por uma estrutura de poder, justificada pela religião, num cenário de extrema opressão e violência.

O que me revoltava era sempre a mesma coisa: a maneira como os homens tratavam as mulheres.”

Observa-se também na obra o contraste entre o conhecimento adquirido e vendido pelo livreiro, que lutava para difundir a cultura e a história de seu país, com o seu apego às tradições de uma sociedade extremamente patriarcal.

A narrativa é um mergulho na sociedade afegã, na dinâmica das relações entre homens e mulheres. Tendo o panorama histórico do Afeganistão como pano de fundo, o leitor, através de uma escrita fluida, se vê envolto na trama, observando os extremismos que podem ocorrer em uma sociedade tão desigual.

Após o lançamento do livro, Åsne Seierstad foi processada pelo livreiro, que, segundo a autora, não gostou da obra. Contestando a versão apresentada no livro, o livreiro, além de ir à Justiça, resolveu escrever, num livro intitulado “Eu sou o livreiro de Cabul”, o seu ponto de vista dos fatos.

Se você se interessou por “O Livreiro de Cabul”, pode gostar também de:

  • “Mulheres de Cabul”, de Harriet Logan.
  • “Eu sou Malala”, de Malala Yousafzai e Christina Lamb.
  • “Cidade do Sol”, de Khaled Hosseini.

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