Cinema

MaXXXine: o legado de “X”

Com o lançamento do terceiro volume, a icônica franquia do terror feminino moderno foi concluída… mas será que cumpriu as expectativas?

Julia Hoppe
Caderno 2
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3 min read4 days ago

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Os filmesX: A marca da morte” e “Pearl”, lançados com menos de seis meses de intervalo entre si, fizeram um certo barulho nos cinemas em meados de 2022. Os longas independentes, dirigidos, roteirizados e produzidos pela mente de Ti West conquistaram espaço no coração daqueles apaixonados por terror e cansados da mesmice que o gênero vinha apresentando. Agora, Mia Goth volta para protagonizar a terceira criação da saga, que apesar das boas atuações camufladas no colorido encantador da fotografia, desaponta no roteiro.

I will not accept a life I do not deserve

Cena de MaXXXine — Reprodução: Omelete

“X”, o primeiro lançamento, é uma releitura completa do clássico (e genérico) terror slasher setentista, com direito a mortes gráficas, cenas de sexo e os mais variados clichês. Tem boas intenções, uma direção de cena muito única e, de quebra, nos apresenta a final girl Maxine Minx. Já “Pearl” é uma prequel, ou seja, uma história que se passa antes dos acontecimentos do primeiro filme, e puxa para um terror mais cômico, focado em acompanhar as curvas da psique da protagonista que dá título ao filme (a mesma que antagoniza os eventos de “X”).

MaXXXine, por sua vez, com seus letreiros e transições estilizadas, é uma carinhosa homenagem aos filmes B dos anos 1970, descaradamente inspirada na cinematografia de Brian De Palma. A história se passa seis anos depois do massacre retratado em “X” e acompanha a jornada ao estrelato da sobrevivente, agora totalmente obstinada. Contraditoriamente, dos três filmes, é o menos pornográfico e o mais sensual, romantizando a cena underground do entretenimento adulto nos anos de ouro de Hollywood. Por sua trama envolvida em mistério, acaba pendendo muito mais para um suspense policial escrachado do que um terror slasher propriamente dito, o que é um caminho muito acertado para a franquia como um todo.

As referências ao true crime, que chegam a utilizar filmagens reais de jornais noticiando os horrores causados pelo Night Stalker — considerado um dos serial killers mais notórios da história dos EUA —, conversam muito bem com o clima de pânico religioso da época ambientado na produção. Os momentos de violência gráfica são bem posicionados, vêm sem expectativa e criam lapsos de choque que funcionam quase como jumpscares.

Por outro lado, não posso negar que o roteiro deixa muito a desejar. Para quem prestou um pouquinho mais de atenção nos três filmes, a grande reviravolta é previsível. Os personagens do núcleo policial não são bem trabalhados e dão a impressão de ficarem deslocados do resto da trama, as repetições excessivas de certos diálogos são tão expositivas que chegam a ofender a capacidade de dedução do espectador. Além disso, o texto tem um ritmo muito bem estabelecido até a metade, mas quando percebe que as pontas soltas podem levar tempo para se amarrarem, opta pelos atalhos e acaba atropelando as resoluções ao se aproximar do final, o que faz com que perca a oportunidade de desenvolver melhor a conclusão.

Em entrevista ao portal The Playlist, o cineasta Ti West afirmou que não descarta a possibilidade de um quarto volume para a franquia, mas que está satisfeito com o trabalho realizado:

“Eu não diria que não faremos um quarto filme e tornar a saga ainda melhor, mas eu acho que fizemos três bons filmes, então não vamos arriscar a sorte. Às vezes você tem um limite para até onde pode levar uma ideia.”

Apesar disso, do material que temos até o momento, o terceiro filme foi para mim o mais aproveitável. Com uma boa companhia e um balde de pipoca, até os maiores deslizes no roteiro conseguem divertir. Ainda, referências dos dois primeiros filmes em “MaXXXine” estão por toda parte, com uma pitada de criatividade a experiência cinematográfica vira um jogo maravilhoso de “Onde está o Wally?”.

Sendo assim, prepare seu batom vermelho, recarregue sua pistola e repita 3x em frente ao espelho “I will not accept a life I do not deserve”. Bom filme!

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Julia Hoppe
Caderno 2

Estudante de Jornalismo, usuária de letterboxd nas horas vagas e apaixonada por moda!