Crítica

Medida Provisória: uma distopia

Baseado na peça “Namíbia, não!”, de Aldri Anunciação, o filme é a estreia de Lázaro Ramos como diretor

Luiza Duarte
Published in
3 min readApr 11, 2022

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Reprodução: Google

“Medida Provisória” traz a história de um futuro distópico no Brasil, no qual o governo aprova uma medida que força todas as pessoas negras do país à irem (ou “voltarem”) para a África. Na visão desse governo, isso seria uma forma de reparar o período da escravidão brasileira, visto que os negros não deveriam ter sido tirados à força do seu continente de origem. Assim, o advogado Antonio (Alfred Enoch), sua esposa Capitu (Taís Araujo) e o primo de Antonio, o jornalista André (Seu Jorge), junto com toda a comunidade negra, se veem forçados a encarar situações nunca antes pensadas possíveis por eles, enquanto também travam uma batalha interna graças a situação delicada pela qual está passando a terra que amam.

Baseado na peça que estreou em 2011, “Namíbia, não”!, de Aldri Anunciação (que também faz parte da equipe de roteiristas da obra), o filme propõe a discussão e a reflexão acerca da negritude, do autoritarismo do governo e das relações inter-raciais. Também buscou incorporar, não só no elenco de atores como também nos bastidores, uma maioria de pessoas negras envolvidas com a produção.

Antonio (Alfred Enoch) e André (Seu Jorge)

Lázaro Ramos fez um belo trabalho, considerando que este é o primeiro filme que dirige. Porém, mesmo com algumas cenas apresentadas por um trabalho de câmera diferenciado e bonito, isso não foi suficiente para compensar o roteiro. A premissa do filme é excelente e instigante, e a história realmente toca em diversas feridas sociais e governamentais do Brasil, mas diversas cenas utilizaram somente os diálogos para passar suas mensagens de protesto, tornando-os pouco naturais e, de certa forma, forçados. Além disso, apesar de suas 1h40min, a “guerra” no país é retratada de forma muito apressada, trazendo novamente a sensação de algo pouco natural e irreal — o que pode ter sido intencional, considerando que o enredo do filme é em si uma distopia, mas não foi o que pareceu — , além do final pouco explicado e explorado.

O principal pilar da obra é o elenco de peso, que além do trio principal (com destaque especial para a entrega de Taís Araujo ao papel), também conta com Adriana Esteves, Renata Sorrah e a participação de Emicida, em sua estreia no cinema. A trilha sonora também busca a valorização de artistas negros brasileiros, como Liniker e Baco Exu do Blues, e realmente complementa as cenas. Inclusive, temos alguns toques de humor que ajudam a suavizar o plano de fundo pesado da luta contra o governo — uma clara alusão ao real governo atual do nosso país.

Após muito tempo sem previsão, Medida Provisória finalmente terá sua estreia dia 14 de abril. Vale a pena assisti-lo — de preferência, no cinema, para valorizar o cenário nacional! — para tirar suas próprias conclusões acerca do enredo, mas garanto que o filme traz boas reflexões e pode se tornar um excelente tema de conversa e debate.

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